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Flávio Lauria

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FRAUDE EDUCACIONAL

Tenho três irmãos formados em Direito e exercendo cargos de Procuradores no Ministério Público, e dois filhos também formados em Direito, cada um em sua área especifica do Direito, e como professor do curso de Direito, embora não formado em Direito, tenho a concepção exata de como são formados hoje os alunos nessa profissão.

O curso de direito é depositário dos mais alentados sonhos das famílias brasileiras. O investimento de meia década é justificado pela certeza de que a obtenção do diploma universitário abrirá novos horizontes profissionais. Bem por isso, o curso é um dos principais destinos dos minguados investimentos e das enormes esperanças de parcela menos abastada da população, sempre animada com as perspectivas imaginadas para o futuro ´doutor`.
Com assustadora frequência, concluso o curso, restam a ignorância, dívidas e a frustração. A propagandeada formação do aluno revela-se um engodo. A educação, em alguns ambientes, é instrumentalizada. Ela, que deveria ser um fim, transmuta-se em mero meio para a acumulação de capital. Professores fingem que ensinam, alunos pensam que apreendem e está inconscientemente selado um pacto oprobrioso: de um lado, o almejado canudo (de todo inútil aos despreparados); do outro, os cofres cheios das instituições de ensino. 
A aprovação anual cria no imaginário do aluno a ilusão do aprendizado. Com efeito, a cada matrícula tem-se o atestado implícito, passado pela faculdade, da apreensão do conteúdo ministrado no período passado. E assim, os anos se passam, com o pagamento das intermináveis mensalidades, para a alegria dos empresários da educação. É fato: os cursos de direito têm baixíssimo índice de repetência nas disciplinas cursadas. Uma vez admitidos no vestibular, não se ouvem notícias de desistências por sucessivas reprovações, denunciadoras da inaptidão do aluno. Todos aqueles que entram, um dia saem, assegurando-lhes a colação do grau. 
Ocorre que o mercado é seletivo. Clientes, escritórios e concursos públicos não acomodam a mediocridade que grassa entre os bacharéis. Os zumbis jurídicos se avolumam, vagando a esmo sem condições de exercer profissão qualquer na área de formação por eles eleita. Educação, como se sabe, não é o simples ministério de disciplinas; mais que isso, é o compromisso com a acurada verificação da efetiva apreensão dos conteúdos pelo alunado. 
Hoje, esse papel que seria das faculdades começa a ser desempenhado pelo exame de ingresso na OAB, atualmente imprescindível ao controle técnico dos pretendentes ao exercício da advocacia. Aos inaptos, resta iniciar uma jornada pelos cursinhos preparatórios, de modo a obter o conhecimento que a instituição de ensino, pela falta de critérios rígidos e de seriedade nas avaliações, iludiu a apreensão.
Os altíssimos índices de reprovação no exame de ordem impõem uma séria reflexão sobre o papel e as responsabilidades das instituições de ensino superior pelos diplomas entregues, notadamente quando, em alguns casos específicos, praticamente a totalidade dos diplomados carecem de conhecimentos elementares sobre as disciplinas cursadas. Pagaram por algo que, a despeito da certificação, não lhes foi entregue em absoluto. Têm um título que praticamente de nada lhes vale, obtido à custa de vários reais e anos de presença em sala de aula despendidos inocuamente, por um pedaço de papel. São, inequivocamente, desiludidas vítimas de uma fraude educacional

Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/10/2025

A CORRUPÇÃO COMO SISTEMA

Imagine-se um carro blindado, escoltado por forte segurança, transportando dinheiro. Por certo, até mesmo o mais ousado bandido pensará duas vezes antes de assaltá-lo. Visualize-se, por outro lado, uma carteira recheada de dinheiro abandonada em um banco de uma praça pública. Nesse caso, talvez até um cidadão dito de bem se sinta tentado a tomá-la para si. Pois o que vem ocorrendo no Brasil com os roubos milionários da Previdência Social e outros é mais ou menos como meter a mão em polpudas carteiras largadas sem cuidado algum nos bancos das praças públicas.O dinheiro nestes órgãos parece não ter dono, milhões são desviados sem que ninguém dê falta, sendo necessário uma denúncia feita por vingança ou um repórter obstinado para o caso vir a público. Os discursos que escutamos no país contra a corrupção, a cada novo escândalo, são tão belos quanto os sermões do Padre Antônio Vieira. Pedem a punição dos corruptos e bradam pela retomada da ética. Só que estes discursos erram ao centrar sua atenção nos corruptos e não no sistema que deixa as carteiras dando sopa nas praças.Erram porque, banindo da vida nacional os corruptos atuais – e não resta dúvida de que devem sê-lo –, outros de igual ou pior gabarito serão incentivados pelo próprio sistema a substituí-los no posto. A falha na abordagem tradicional das causas da corrupção está no viés moralista que a considera apenas como o produto de deficiências morais, sem atentar para o fato de que ela frequentemente resulta do comportamento racional de indivíduos que atuam dentro de um sistema de incentivos como o brasileiro, que a torna altamente rentável e escassamente sujeita a qualquer tipo de punição. A causa dos altos níveis de corrupção verificados no país não está na desonestidade congênita do povo brasileiro, o que seria absurdo supor, nem reside no mau caráter de alguns maus brasileiros. O problema está no conjunto das nossas instituições. Segundo o Transparency International, organismo que se dedica a analisar o problema da corrupção no mundo, há uma coincidência entre altos níveis de corrupção e Estados desmesuradamente grandes, que interferem na economia e se pautam por regras pouco claras. Estados assim incentivam que burocratas, empresários e políticos dele se aproximem para obter renda ou privilégios para si e para seus favorecidos, conquistando poder não por sua contribuição à sociedade, mas pela sua capacidade de influenciar e corromper os governantes. O dramático é que a corrupção prejudica principalmente os pobres, em nome dos quais se reivindica um Estado sempre maior, pretensamente corretor das desigualdades sociais. Evidentemente, diminuir o tamanho do Estado não irá, por si só, resolver o problema.Faz-se necessário aprimorar outras instituições, fazendo leis mais claras e que desincentivem a informalidade, um Poder Judiciário mais ágil na punição dos culpados e imprensa mais vigilante. É preciso, urgentemente, liquidar excrescências como o voto secreto e a imunidade parlamentar para os crimes comuns, contidos na PEC da blindagem. No campo econômico, o remédio contra os monopólios e cartéis públicos e privados não é o controle de preços ou a regulação estatal, que seria apenas uma nova fonte de corrupção, mas o aumento da competição entre empresas privadas. Nenhum país pode aspirar à modernidade sem altos padrões de ética, mas é preciso que a sociedade deixe de esperar pela redenção moral do homem e trate de edificar um sistema que incentive a conquista da riqueza através do trabalho e não do ganho fácil e impune obtido através do furto das carteiras sem dono

Autor Flávio Lauria 

Publicado:27/09/2025

A INFORMAÇÃO SEM ADJETIVOS

Caros leitores e leitoras, há imperativos dos quais não se abre mão por razão alguma. Quando esses imperativos estão ausentes do cotidiano, perde-se o rumo, estabelece-se o caos. Diga a verdade, é um desses imperativos. Um imperativo moral imprescindível. Sua ausência em qualquer circunstância da vida é a perda do alicerce sustentador dos diálogos construtivos, do estabelecimento dos vínculos. Como dizia Champagne“os jornalistas quando fazem uma matéria ou cobrem um evento, contribuem amplamente para fazê-lo existir politicamente, quer dizer, para fazê-lo existir simplesmente”. Faço esse preâmbulo para falar sobre a arrogância, precipitação e superficialidade que têm sido, a marca registrada de certos setores da mídia. Me refiro a reportagem da Rede Record de Televisão, no programa Domingo Espetacular, aonde o próprio nome traduz a espetacularização da notícia, sem o mínimo de investigação e seriedade.

A crítica, contundente e desprovida de corporativismo, produz reações iradas, alguns aplausos entusiásticos e, sem dúvida, uma saudável autocrítica. A síndrome não reflete uma idiossincrasia da imprensa seja ela brasileira ou estunidense. Trata-se de uma patologia universal. Também nossa. Reconhecê-la é importante. Superá-la, um dever. Tomemos por exemplo, a aspiração de exercer um contrapoder que está no cerne de algumas matérias. O jornalismo doutrinário do passado, vestígio dos barões da imprensa brasileira, ressurge, frequentemente, sob o manto protetor do dogma do ceticismo. A investigação jornalística não brota da dúvida necessária, da interrogação inteligente. Nasce, muitas vezes, de uma enxurrada de preconceitos. Há um ceticismo ético, base da reportagem investigativa. É a saudável desconfiança que se alimenta de uma paixão: o desejo dominante de descobrir e contar a verdade. Outra coisa, bem diferente, é o jornalismo de suspeita. O profissional suspicaz não tem "olhos de ver". Não admite que possa existir decência, retidão, bondade. Tudo passa por um crivo negativo que se traduz numa incapacidade crescente de elogiar o que deu certo. O jornalismo não deve ser ingênuo. Mas não precisa ser cínico. Basta ser honrado, independente. A fórmula de um bom jornal, ou blog, reclama uma balanceada combinação de convicção e dúvida. A candura, num país marcado pela tradição da impunidade, acaba sendo um desserviço à sociedade. É indispensável o exercício da denúncia fundamentada.

Precisamos, independentemente do escárnio e do fôlego das máfias do colarinho branco, perseverar num verdadeiro jornalismo de buldogues. Um dia a coisa vai mudar. E vai mudar graças também ao esforço investigativo dos bons jornalistas. Essa atitude, contudo, não se confunde com o cinismo de quem sabe "o preço de cada coisa e o valor de coisa alguma". O repórter, observador diário da corrupção e da miséria moral, não pode deixar que a alma envelheça. Convém renovar a rebeldia sonhadora do começo da carreira. O coração do foca deve pulsar em cada matéria. 

A precipitação é outro vírus que ameaça a qualidade informativa. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada ficam reféns da fonte. Sobra declaração, mas falta apuração rigorosa. A incompetência foge dos bancos de dados. Troca milhão por bilhão. E, surpreendentemente, nada acontece. O jornalismo é o único negócio em que a satisfação do cliente (o leitor) parece interessar muito pouco. 

O culto à frivolidade e a submissão à ditadura dos modismos estão na outra ponta do problema. Vivemos sob o domínio do politicamente correto. Recentemente, certos setores da imprensa demonstraram perplexidade com a condenação de Jair Bolsonaro. E poderia ser diferente? Não teria sido mais lógico questionar a falta de coerência do ex-presidente com a orientação da liturgia do cargo? O dogma do politicamente correto não deixa saída: opresidente de plantão é o mocinho e o mordomo é o vilão. O verdadeiro jornalismo não busca apenas argumentos que reforcem a bola da vez, mas, também, com a mesma vontade, os argumentos opostos. Estamos carentes de informação e faltos da boa dialética. Sente-se o leitor conduzido pela força de nossas idiossincrasias. 

Por outro lado, ao tentar disputar espaço com o mundo do entretenimento, a chamada imprensa séria está entrando num perigoso processo de autofagia. A frivolidade não é a melhor companheira para a viagem da qualidade. Pode até atrair num primeiro momento, mas só no primeiro momento.Que haja punição aos que tentaram macular sem nenhuma prova, e que paguem por danos morais. A sociedade não pode ficar a mercê da espetacularização.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:19/09/2025

CENÁRIOS DO FUTURO

Não caros leitores, não vou escrever sobre o momento atual do nosso Brasil, nem comentar sobre o voto do ministro Luís Fux, no julgamento do golpe. Vou escrever sobre o que imagino do nosso futuro como pessoas. 

Controle de estresse, comida sem gordura, apoio psicológico, exercícios físicos, cirurgias plásticas, tratamentos estéticos e medicamentos afrodisíacos estão estendendo a duração da vida humana e transformando a velhice num período vigoroso, em que as pessoas se aproximam do fim da existência no pleno exercício de atributos antes reservados à juventude e à meia-idade.

A coisa avança em tal ritmo que dentro em breve teremos situações esquisitas, como o avô e o neto que se encontram numa festa para namorar a mesma garota. Ou a vovó que curte uma dor-de-cotovelo e é consolada pela neta numa mesa de bar. Embora na inexperiência dos 17 anos, a neta terá serenidade para repassar à idosa senhora alguns conselhos sobre o comportamento masculino, imprevisível em qualquer idade.

Qual será o resultado econômico-social dessa extensão da vida humana? Em primeiro lugar, um sério problema para os sistemas de aposentadoria e pensões. O ajuste fiscal brasileiro irá para o brejo em definitivo e o pessoal do PT, que provavelmente estará no governo, proporá uma nova reforma previdenciária fixando idade mínima de 85 anos para a concessão de aposentadoria. A oposição neoliberal acusará a esquerda de ter se tornado neoliberal demais e votará contra o projeto, em nome dos excluídos.

Outra consequência será o aumento do desemprego. No mundo do futuro, dizem os entendidos, será mais fácil um elefante passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar um emprego. Metade do trabalho será feita pelas máquinas e inteligência artificial, a outra metade pelos maiores de 50 anos, idade que marcará, então, o fim da adolescência. Resultado: metade da juventude ficará em casa viajando na Internet e a outra metade formará um exército de entregadores de pizza, sem carteira assinada. A maior parte da conversa virtual entre jovens será dedicada a planejar uma revolução contra o domínio das máquinas e dos velhos, mas o plano será sistematicamente abortado pelos computadores. E quando os motoboys resolverem se encarregar da revolta, as motos deixarão de funcionar misteriosamente.

Os cenários possíveis do futuro são inúmeros, mas parece que da insegurança no trabalho não escaparemos. O mundo criado pelo homem ultrapassará, paradoxalmente, a necessidade do homem. O trabalho humano, a grande diferença entre homens e animais segundo a filosofia clássica, se tornará obsoleto. E nos tornaremos bichinhos de estimação das máquinas, que assumirão toda a racionalidade e todo o trabalho necessário. Até mesmo os psiquiatras serão andróides, que terão a vantagem de nos entender melhor e de cobrar muito menos pela consulta.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:13/09/2025

O MUNDO ESTA ACABANDO

Desde menino escuto esta frase: “O mundo vai se acabar”. Dizer, dizem mesmo, a ponto de impressionar crianças e adultos.
O Mundo, na verdade, está sempre acabando dentro de cada um de nós. Aos pedaços, em parcelas, em prestações dolorosas, em episódios de profunda tristeza. Pois não morremos um pouco quando morre alguém a quem amamos? Não morremos muito quando sofremos alguma decepção, um desengano, uma desesperança? A saudade não é morte em conta-gotas? O mundo chegou ao termo, para os que perderam a sabedoria do existir. Vivem num sulco profundo de solidão, grande, insondável, onde a luz não atinge, não clareia sequer um trecho por menor que seja. Fechadas dentro de si, não se expandem por mais que falem, não se comunicam por mais amáveis que sejam, não se revelam por mais extrovertidas que possam parecer. O sol as ilumina por fora, por insistência, arrebata-lhes reflexos luminosos, mas não chega ao seu âmago. Trancadas como num cofre com fechadura de segredos, isoladas em meio a multidão, caladas por mais que tagarelem, longe de todos e de tudo, carregam uma queixa e por companhia, a tristeza.
Será que os ansiosos se iludem, pensando enganar outrem? Aparentam ventura e felicidade. Na face até mesmo um riso, nos olhos, alegria. Uma alegria como a da superfície das águas. O que se passa lá dentro, em seu coração, quem vai saber mesmo?
A inovação e a renovação, são necessárias ao espírito e ao corpo, como o ar ao organismo. Mas, na sucessão dos anos, grandes mudanças de condições causam aflição. A televisão está contribuindo para o extermínio do mundo interior, no mais íntimo da sensibilidade daqueles que a assistem. O que enche o vídeo e entra em todos os lares, diariamente, são os filmes e programas de terror, pânico, sequestro, estupro, assalto, roubo, vício de toda ordem, brutalidade de toda natureza. Até o faroeste que jamais perturbou alguém, e fez vibrar inúmeras gerações, sumiu, cedendo lugar ao crime organizado, à violência nas palavras, nos gestos e nas ações que envenenam a infância e a juventude. Atônitos ficam os que ainda não se acham preparados para o que é, ao mesmo tempo um impacto e uma pressão constante invadindo casas, desinformando, deseducando. Não se vê o fogo devorando ou a água invadindo a terra, mas o Mundo está se acabando. Não pela profecia bíblica ou um fenômeno da natureza, mas pela mente e mão do homem, que, não respeitando seu semelhante, destrói o coração humano, nos seus sentimentos e emoções, trazendo o ódio a guerra e ofuscando o que há de puro em cada um de nós.

Uma lógica perversa. Aliás, a aprendemos com os cretenses.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:05/09/2025

O QUE O ELEITOR QUER REALMENTE?

O que você quer de um político? É bom ter uma resposta para essa pergunta logo, porque a corrida eleitoral já começou, como se nota pelas redes sociais, e pelas brigas internas nos partidos por candidaturas. A resposta pode ser uma grande surpresa. Em seis meses de funcionamento, a Ouvidoria Parlamentar, órgão criado pela Câmara dos Deputados para receber reclamações e sugestões da população, descobriu que muita gente espera que um parlamentar resolva seus problemas pessoais. 
Não são poucos, entre as mais de dez mil mensagens já recebidas, os pedidos de emprego, de interferência para que uma certa pendenga com órgãos públicos seja resolvida de forma mais rápida e em favor de quem reclama — algo chamado de tráfico de influência — e de ajuda para acabar com uma série de estorvos do dia-a-dia, como vizinhos barulhentos e senhorios injustos. São pedidos semelhantes aos feitos aos candidatos em tempos de campanha, quando eles entram no tal corpo-a-corpo com o eleitor. Sempre tem alguém para entregar um papelzinho ao candidato com um pedido qualquer. Há evidente contradição entre prática e discurso no comportamento dos eleitores. Críticos dos parlamentares e do governo, quando têm uma chance, muitos esperam que os parlamentares e o governo trabalhem por seus interesses particulares. Falam mal dos funcionários públicos, reclamam do dinheiro gasto com eventuais ‘‘fantasmas’’, mas estão loucos para se tornar um deles, se uma oportunidade lhes for dada. Contribuem para alimentar e eternizar o círculo de troca de favores por votos. Para os candidatos, a Ouvidoria traz outro recado. Os cidadãos sentem falta da presença do estado, em vários níveis, para cuidar dos seus interesses. A quem reclamar da falta de atendimento num posto de saúde público? Ou do lixo acumulado no terreno ao lado? No caso de Manaus, a quem reclamar pelos buracos abertos pela Águas de Manaus? São questões aparentemente simples, mas ainda sem solução. A um ano praticamente da eleição, torturados pelas articulações políticas para fechar nomes de candidatos e fechar alianças, partidos e pré-candidatos deveriam prestar atenção às mensagens recebidas pela Ouvidoria, seja á nível estadual ou municipal. São um retrato do que esperam os eleitores dos seus próximos candidatos. 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:29/08/2025

MATA=SE POR POUCO E MORRE-SE POR MENOS

Qualquer cidadão que tenha um aparelho de TV em casa, vê mesmo nos canais abertos, a violência grassando em todos os pontos de Manaus ao Rio Grande do Sul. Mata-se por muito pouco e morre-se por menos ainda. Está fácil achar balas e armas e é estúpida a extinção da vida. Os fabricantes de armas argumentam que as armas sempre existiram e um assassino das cavernas não usava trezoitão,mas uma simples pedra. A diferença é que ele não estava em uma cultura de mídia tão identificada para a afirmação do macho como a de hoje. O que ‘‘não leva desaforo pra casa’’. Sua briga era animal por posse e território sem essa intenção de cena de cinema. A diferença hoje é que qualquer briguinha entre jovens — cheios de hormônios efervescentes e adrenalina em alta —, que poderia ser ‘‘resolvida’’ pela catarse do tapa ou do braço vira morte pela ampla facilidade com que se encontram armas e munições, isso quando não é assalto mesmo. Noel Rosa imortalizou em um samba que a malandragem do mais fraco era apertar o gatilho contra o dito mais forte: ‘‘No século do progresso o revólver teve ingresso pra acabar com a valentia’’. Um tiro é fácil de dar e extremamente irreparável. A arma para o imbecil lhe dá uma aura ridícula de poder que imita a sociedade dos poderosos instituídos também impostos pela força. Seja agressão explícita, seja a sofisticada nos truques das armações políticas e econômicas. A banalidade com que armas são vendidas, mal fiscalizadas e ocupam o mercado clandestino coloca em xeque toda e qualquer campanha antiviolência. É como cuidar do vazamento sem eliminar a goteira. As indústrias de armamentos estariam dispostas a discutir o princípio que fundamenta seu negócio? Fabricam armas para que e para quem? Para corporações militares, só? Para que tipo de cidadão exercer que tipo de defesa? E se os portes forem dados sem o menor rigor — e vai saber quais seriam tais critérios? Quem avalia as condições emocionais do habilitado? Quem garante desequilíbrios momentâneos, falhas na guarda que leva crianças a ‘‘brincarem’’ com o perigo até cometerem acidentes trágicos? A questão moral nesse vulgar arsenal da população é: se eu já parto do princípio que responderei na bala uma suposta agressão à bala, eu já estou reforçando a corrente de que a segurança coletiva do Estado faliu tanto que somente eu posso restaurá-la. Ou como justiceiro em legítima defesa ou vingador. Geralmente essa classe média belicosa acaba como vítima. E quem tem o porte: o pai ou a família? O senhor pistoleiro das boas intenções acaba armando o bandido que ataca sua família, objeto da sua pretensa proteção.

A questão será sempre a de perguntarmos em qual tipo de sociedade queremos viver. A que elimina causas ou a que fica chorando eternamente sobre as consequências? Na verdade, é lutar antes para evitar o luto depois! A vida seria mais bela sem as estúpidas balas e seus fabricantes.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:16/08/2025

REESCREVENDO O DIA DOS PAIS

Não gosto de repetir artigo, mas alguns feitos em datas especiais como Natal, Dia dos Pais, gosto de pincelar como se fosse um quadro, reescrevendo o texto. Cada época da vida, cada estágio vivido, anda sempre grávido de ações e emoções que, se forem percebidas e vividas, nos fazem emergir do fundo de nós mesmos. Mas, se ao contrário, elas passarem despercebidas em nosso dedilhar cotidiano, a vida perde em intensidade e encantos. Imagino, nesse devaneio, a paisagem de afetos que dormita no peito dos avós quando aguardam a chegada dos primeiros netos. Um tempo novo, outro ponto do ciclo da vida, outras tarefas, descobertas e experiências. A gente está mais pronto para ser avô que para ser pai. Embora ninguém possa escrever a história do que poderia ter sido, um neto ao chegar, resgata a vida mais intensa, a alma infantil liberta, os olhos vagabundos daqueles que andavam esquecidos de brincar ou de "comer as montanhas e beber os mares" como dizia Neruda. Há sentimentos em nós que não precisam ficar claros para existir. Estão aí, precisam apenas ser contatados. Eles moram em nós como um fóssil de significação, aguardando o tempo de serem compreendidos e vividos. Ser avô, avó, são experiências e sentimentos que estão como fóssil em nós, até que a vida se emprenhe de uma nova vida. Os netos não fazem nenhum milagre, mas podem renovar a vida da família, torná-la de novo intensa e brincante, sobretudo naqueles que mantêm acesa a chama do sonho e da liberdade, porque é isso que se pode partilhar com netos: sonhos e liberdade. Por sua vez, os avós devem viver a coisa que lhes é mais preciosa: a tarefa do amor, com a cumplicidade e a sabedoria de quem conhece a estrada e não teme a imaginação. Os pais vivem outras tarefas, a de cuidar, de ordenar, educar, dar limites, disciplinar a vida dos filhos. Mas os avós, estes sim, podem misturar-se aos netos, falar-lhes a mesma linguagem, traçar com eles planos secretos, criar palcos para a encenação de mágicas, fantasias. Há quem pense que a utilidade dos avós é marginal. Enganam-se. Seus corações são como um albergue aberto por toda a noite. Ao lado dos netos, arquivam reclamações costumeiras, inventam ramalhetes de sonhos, fantasias e palavras. E inscrevem na experiência infantil a ordem do amoroso pela vida. Neste dia tão especial que é o Dia dos Pais, mais do que presentes e almoço, o que quero mesmo é dizer algumas palavras a vocês, amados filhos e netos. Palavras que não soem como desculpas, mas sim como uma reflexão que faço de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir em vocês um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que vocês sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade. Deste modo, quantas vezes gostaria de ser melhor para vocês e simplesmente não consigo. Quantas vezes corria pra casa no fim do dia, mas uma coisa ou outra não permitia que eu chegasse em tempo de encontrá-los acordados. Quantas vezes disse não, mesmo que este "não" seja penoso, me deixasse triste; é o não da razão que vive sob constante ameaça do "sim" que vive lá no fundo do coração. Quantas vezes fiquei acordado até tarde da noite à espera de sua febre baixar, ou do telefone tocar avisando que a festinha ou o show terminou. Quantas vezes dilacerei meu coração ao vê-los chorando por algo que não pude dar, mas aproveito para alertá-los de que na vida nem tudo que se quer se pode ter. Quantas vezes sofro com vocês, quando em alguma esquina da vida trombam de frente com uma decepção ou desilusão. Quantas vezes deitei ao lado de vocês e fiquei ali, quieto, sentindo aquele cheiro que não sairá de minha lembrança mesmo após toda vida se passar e eu sendo um velho pai. Aos netos, quantas vezes tirei-os da cama dos pais e levei para minha e acalentei-os. Quantas vezes sou chato por orientá-los insistentemente sobre uma conduta saudável e responsável, ou tento avisá-los de situações de risco, como se pudesse evitar que aprendam doloridamente com os próprios erros. Quantas vezes fui superprotetor, na ilusão de que poderia poupá-los de trafegarem por estradas mal sinalizadas, esburacadas, escorregadias e com curvas perigosas, na inocente pretensão de protegê-los da vida. Quantas vezes, nas dificuldades da vida, deparo-me com situações onde é preciso tomar decisões, e rejeito enveredar pelo caminho mais fácil e lucrativo que põe em prova a integridade de meu caráter, a minha dignidade e honestidade, para assim, reencontrar com vocês com a cabeça erguida, e deste modo olhar fundo nos seus olhos, sem a cortina da vergonha e da culpa a nos separar. Quantas vezes preciso ser firme e colocar limites nestas vidinhas, para ensiná-los que o mundo é infinitamente maior que nosso lar, e que vocês têm que aprender a viver em coletividade, respeitando o próximo e sabendo que não são seus todos os doces da bombonière. Quantas vezes no ímpeto de protegê-los tomo para mim o leme desta embarcação e passo para vocês a imagem de herói, de que sou o maior, o único que pode mantê-los em segurança; perdendo a oportunidade de ensiná-los que somente em Deus encontraremos infalibilidade, segurança, proteção e forças para resistir. Somente n'Ele que é Pai dos pais, das mães, dos filhos e de toda a humanidade. Quantas vezes poderia ter feito mais! Ter sido mais amigo, entusiasta, confidente, companheiro, cúmplice, disciplinador, participativo, compreensivo. Não importa a idade de nossos filhos, ainda é tempo de recomeçar, arregacemos as mangas e mãos-à-obra. Sinto-me orgulhoso meus filhos e netos, por ser pai e Avô de vocês.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:08/08/2025

OS HUMANOS INVISÍVEIS 

Existem pessoas que tratam outras pessoas como invisíveis, não demonstrando as vezes o afeto e a importância que tem em nossa vida, via de regra as pessoas que se julgam importantes, não dão atenção ou importância ás pessoas de menor poder aquisitivo ou de posição na sociedade. Já se fizeram experiências em que essas pessoas invisíveis foram substituídas por outras sem que os cidadãos ilustres e financeiramente mais bem situados, que estavam em contato casual com elas, percebessem. Tanto faz falar com uma ou com outra, é a mesma coisa, no máximo será uma farda, ou uma função, não são vistos – o gari, o manobrista, o pequeno empregado, o zelador, o vigia, o porteiro, o vendedor do grande magazine. Como não os veem, as pessoas importantes tendem a imaginar que esses pequeninos nem existem e aí, tranquilos, certos de sua não existência, não hesitam em fazer e desfazer na frente deles, como se estivessem sozinhos. Põem-se a subornar, corromper, prevaricar. Sentem-se impunes (que essas ilicitudes são de dificílima comprovação) e tramam nas sombras, sem testemunhas, sem documentos escritos, sendo, geralmente, aqueles com quem negociam muito mais cúmplices e comparsas do que vítimas. Mas aqueles pequeninos, que não são vistos, veem. E às vezes são convocados para falar. E falam, embora sem entusiasmo e sem gosto, sem terem tido a iniciativa, como apenas cumprindo elementar obrigação. E dão seu testemunho humilde mas firme, com absoluta segurança, apenas a verdade. E até se assustam com a importância que seu modesto depoimento passou a ter, e se espantam com as consequências que aquelas singelas afirmações provocaram. E desmentem as versões fantasiosas, ficções, mentiras, cinismos das pessoas importantes, dos poderosos. Outro dia, um querido amigo, horrorizado com tantos espetáculos da corrupção mais desbragada, com esses péssimos exemplos que todo dia as grandes elites dão ao País – nos Executivos, Legislativos e Judiciários – me perguntou se ainda seria possível ser otimista no Brasil de hoje. Mas como não ser? Antes de mais nada, tudo depende de nós mesmos, tudo está nas nossas mãos. O Brasil está nas mãos de seu povo, da sociedade civil. Basta que o povo reaja e faça a sua parte, cobre honestidade dos seus representantes, fiscalize, não se conforme, não se deixe enganar pelas falsas bandeiras de moralidade, enquanto o País contar com invisíveis, que ainda o amem e achem que não é ridículo o amor à pátria, esse é um País no qual se pode ter fundadas esperanças.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:02/08/2025

A IGNORÂNCIA NA CONDUÇÃO DA CULTURA

Fico impressionado como são colocados em locais como Secretarias, sejam Estaduais ou Municipais, pessoas sem a menor qualificação para sentar-se na cadeira de Secretário, principalmente no caso de Secretarias de Cultura. Outro dia, em conversa com amigo, comentei que alguns “secretários de cultura”, se falarmos em vernissage, o interlocutor pode achar que estamos a lhe ofender. Literatura então? Nem pensar, nem a fábula, Fernão, Capelo Gaivota, chegou a ler. Mas falando em literatura, lembro que 

não existe literatura de que apenas há notícia, nos repertórios bibliográficos ou quejandos livros de erudição e consulta. Uma literatura, e às modernas de após a imprensa me refiro, só existe pelas obras que vivem, pelo livro lido, de valor efetivo e permanente e não momentâneo e contingente. A literatura brasileira (como aliás sua mãe, a portuguesa) é uma literatura de livros na máxima parte mortos, e sobretudo de nomes, nomes em penca, insignificantes, sem alguma relação positiva com as obras. Estas, raríssimas são, até entre os letrados, os que ainda as versam. Não pode haver maior argumento da sua desvalia. Respeitador do trabalho alheio, como todo o trabalhador honesto, mas sem confundir esse respeito com a condescendência camaradeira, estreme de animosidades pessoais ou de emulações profissionais, com o mínimo dos infalíveis preconceitos literários ou com a força de os dominar, desconfiado de sistemas e acertos categóricos, suficientemente instruído nas coisas literárias e uma visão própria, talvez demasiadamente pessoal, mas por isso mesmo interessante da vida. Para não dizer que não falei de flores, como é que um Gestor da cultura, que nem interpretar sabe, pode conhecer, simbolismo, parnasianismo, pré-modernidade, modernidade, pós-modernidade. Sabe coisa nenhuma.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:26/07/2025

PODER VEM DOS HOMENS

Caros leitores e leitoras, há um ditado que diz que “o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.  Mas de onde vem o poder? Vem de Deus? Vem do diabo? Vem dos homens, da hierarquia criada pelos homens, da riqueza. Às vezes chega, instala-se e proclama-se poder. Vira tirano, ditador e arma-se para ter mais poder. O poder não tem consciência, não tem piedade e não chora por ninguém, mas muitos choram pelo poder. O poder vem da força. A força intimida aos que não têm poder, pois o temor é a arma mais usada para conservá-lo. O poder procura ser agradável e sempre sorrir. Quando faz bem às pessoas é para ter mais poder. Não tem escrúpulos. Não é tranquilo. Se assim fosse, desapareceria. É vigilante, não tem medida e consegue tudo o que quer. Não ama, se amasse estaria arruinado. Apesar de ser inteligente, se afina mais com a ignorância por ser ela o seu sustentáculo. A mentira é amiga íntima do poder. Sua cor preferida é o amarelo ouro. Veste-se de roupas bonitas e tem postura elegante. Quando não se veste bem e não tem postura nenhuma, todos notam a sua feição grave de poder. Os que não têm poder lutam para conquistá-lo e, quando conseguem, continuam a gloriosa e terrível trajetória do poder e que um dia acaba. Depois, sem poder, sem mais necessidades, é consumido por uma solidão definitiva. Como um fantasma sedutor ronda o poder a vida e a imaginação dos seres humanos. Seria tal qual um ídolo disposto a exigir sacrifícios. Por ele se imola os amigos, a honestidade, o tempo com os filhos, a emoção, o coração, a saúde, até a própria memória póstuma. Enquanto isso semeia a discórdia, a falsidade, a distorção cruel da meia palavra ou meia verdade, se esta existisse. Sua religião exige culto ao próprio ego, e para tal não medirá esforços nem se curvará a um mínimo de respeito ao outro, construindo escada, degrau por degrau, sobre os ossos dos que se interpuseram no caminho. Como todo ídolo, o poder dará em troca prestígio social, dinheiro, domínio, mas em um futuro breve, exigirá a solidão de seus adoradores, a fragmentação do seu eu, e finalmente a morte (morre-se quando não há mais comunicação). Podemos e devemos analisar e submeter todas as pessoas e instituições que, de uma maneira ou de outra, exercem algum tipo de autoridade sobre os outros, avaliando sobre qual destes dois tipos de poder se assentam sua personalidade e seu modo de administrar. O tempo é propício. É tempo em que se agitam bandeiras, aparentemente idênticas, estampadas com imagens de idênticos semblantes, com palavras (sofismas) e palavras e palavras infindas. É o joio e o trigo a estourar num bailado de luzes midiáticas que entontece a quem o assiste. A dança dos poderes. Os dois, um de César o outro do Cristo nas arenas circenses dos tempos. É a proximidade das eleições que acontecem no ano que vem. E as eleições são esferas cíclicas que se entrelaçam e exercem poder sobre nossas vidas. Serão como aguilhões de chumbo soldados a nossos pés ou serão chaves libertadoras, os frutos das nossas escolhas. Escolhas estas, feitas por nós, mas que atingirão outros em várias escalas de influência. Somos e seremos coniventes e cúmplices nos nossos erros e acertos, na graça e no pecado, na morte ou na vida.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:19/07/2025

DEZ DE JULHO, MARCA HISTÓRICA

Costumo brincar com amigos, que nasci num dia tão importante, que fizeram uma Rua no centro da cidade de Manaus, com a data do meu nascimento, Dez de Julho. Na verdade, essa data remonta a libertação dos escravos no Amazonas, quase um ano antes da Lei Aurea. O Amazonas possuía, em relação às outras Províncias, pequena quantidade de escravos. Fácil, portanto, a propaganda abolicionista. Tal situação estimulava os maçons (pedreiros livres) a entrarem em ação. Os líderes fundadores influenciados por maçons na Assembleia Provincial, desde o ano de 1880 até 1884, todos os orçamentos consignavam dotações específicas, na lista de suas despesas, destinadas à libertação, cujas cartas de alforria eram entregues sempre em festas solenes, para maior retumbância do acontecimento. Por disposições legais dificultavam-se entradas de escravos no território amazonense. Para isso, taxas pesadas se decretam. O tributo de averbação, por venda de cativos tornou-se vexatório, para se evitar que tais negociações continuassem. Rara era a festa, regozijo público ou particular que não fossem marcadas com a entrega de carta de alforria. No ano de 1884 a grande Benemérita Loja Simbólica ‘Amazonas n.º 2’, foram as que mais desenvolveram as suas ações abolicionistas. Maçons dessas duas lojas seriam os autores da lei de 24 de abril de 1884, que consignou a quantia de 300 contos de réis, num orçamento de 2.500 contos para completar as alforrias, ao mesmo tempo proibindo a entrada de novos escravos na Província do Amazonas. Buscando um fortalecimento ainda maior para os seus ideais, fundaram também a ‘Sociedade Libertadora 25 de Março e o respectivo órgão na imprensa, o ‘Abolicionista Amazonense’, que teria, no seio da opinião pública, a devida repercussão. Vários foram os maçons que se destacaram neste movimento emancipador, entre eles destacamos: Carlos Gavinho Viana, Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha, Antônio Dias dos Passos, Deocleciano Justo da Mata Bacelar, Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt, Maximiano José Roberto, Gentil Rodrigues de Souza, João Carlos Antony, Pedro Ayres Marinho, Antônio Hosannah de Oliveira, Francisco Público Ribeiro Bittencourt, Antônio Ponce de Leão e Antônio e Solimões, alforriando escravos. No dia 10 de julho de 1884 foi decretada, por um maçom que governava. Esse ato ficou assim assinalado: Foi um acontecimento que se revestiu de alta significação social e política, pelas suas benéficas consequências. De fato, era um regime anormal alimentar-se o cativeiro no continente da liberdade. Nada mais esdrúxulo e desumano, cada nação americana proclamar-se livre de sua metrópole e, ao mesmo tempo, conservar e explorar a escravidão. Um verdadeiro contrassenso. E foi para evitá-lo que o grande José Bonifácio, ao ser feita a independência, indiciou, em célebre manifesto, que fosse imediatamente declarada a manumissão. A ideia não venceu, mas havia de vencer. Efetivamente, o Amazonas, ao libertar os seus escravos, dava um grande passo à igualdade social do homem em terras brasileiras e cumpria a maçonaria com um de seus mais legítimos desideratos. A libertação dos escravos no Amazonas foi solenizada em praça pública. Hoje o velho rio Negro, que presenciou tantas lutas desses bravos irmãos, caminha de forma encontrada ao encontro do grande e perpétuo embate com o Solimões, como se fora um milagre diário da vontade suprema do Grande Arquiteto do Universo, a festejar as lamas dos nossos bravos irmãos emancipadores de tão longínqua Província. Por fim, afirmo a grandeza da data, inclusive pelo meu natalício.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:12/07/2025

SOMOS VÍTIMAS E CULPADOS

O filósofo Roland Corbisier foi um dos melhores intérpretes da realidade brasileira. Teve uma juventude influenciada pela inteligência tradicionalista, de linha católica, foi um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Filosofia (com Miguel Reale, Cruz Costa, Renato K. Szerna e Vicente Ferreira da Silva). Antes dos trinta anos, publicou um grande livro (Consciência e Nação) sobre os dilemas de nosso tempo. Foi o principal introdutor do existencialismo de Jean-Paul Sartre no Brasil e chegou a militar na política conservadora. Viu que estava no caminho errado e evoluiu do tomismo ao marxismo, como narra em sua Autobiografia Filosófica (CB, 1978). Viu o mundo crescer e com ele o inchaço das cidades. Foi cofundador (com Hélio Jaguaribe e outros intelectuais) do famoso Instituto Superior de Estudos Brasileiros (governo Café Filho), o famoso ISEB fechado pelo golpe de 1964. 

Corbisier já antecipava que o mundo da ciência e tecnologia só poderia resolver os problemas humanos se houvesse uma revolução interior para espancar o egoísmo das elites. Já naquele longínquo ano estávamos em 1951, Presidência de Getúlio Vargas ele narrou que só o homem civilizado (hoje teria de dizer homem/mulher para não criar problemas com organizações femininas) poderia salvar a sua morada (a cidade) e o mundo. Imagine se Roland, hoje estivesse vivo e obrigado a ouvir dos candidatos vazio palavrório da lavra de marketeiros que repetem técnicas de propaganda ianque. 

Costuma-se dizer que sem cidades bem administradas nada funciona e o país não progride. Ora, se os problemas típicos de cada pessoa acontecem na cidade, é nela que o indivíduo e as famílias sofrem pressões do passado, enfrentam a batalha do presente e sentem a incerteza do futuro. Que problemas são estes? A angústia do nada que somos, os surtos do tédio e do pensar na morte, a tragédia de ver o tempo chegando, o desespero de ficar cada vez mais ciente da precariedade do nosso viver. Infelizmente, o crescimento desmesurado da cidade quebrou o elo que mantinha os homens como vizinhos e amigos. Hoje somos cidadãos e números e ficamos na dependência de soluções globais. Será isso resultado do mito do progresso da ideologia revolucionária, do Iluminismo? O francês Georges Sorel dizia que o progresso seria definitivo para concretizar a democracia moderna. Se vivo fosse, Sorel estaria decepcionado, pois hoje a democracia virou uma balela. Votar até que se vota, mas e daí? 

Se as cidades são como os homens nascem, crescem, vivem e acabam morrendo há de ser sempre um repositório de esperanças e frustrações, sob o predomínio do mais forte. A cidade que temos hoje já não é a morada dos homens. Ninguém mais tem gosto de sair pela cidade, passar nos bancos e nas casas de comércio, tomar um café ou entrar numa repartição pública para ver a angústia estampada na face de cada um. A eleição parece um fim de festa sem sucesso. Logo virá mais uma temporada de arranjos, sem programas como sempre, em busca da sucessão estadual e presidencial. Quem vai com quem? 

 A missão dos políticos não é só brincar de fazer eleição. É antes de tudo converter-se ao Brasil verdadeiro, tão desfigurado pelo colonialismo cultural e financeiro imposto pela mundialização sob o signo norte-americano. E lutar contra a alienação a que estamos submetidos e tomar uma clara consciência de que nossos problemas terão que ser resolvidos aqui dentro, não lá fora. Ou então continuaremos caudatários das nações imperiais (G7). 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/06/2025

OS SENHORES DA GUERRA NUNCA SÃO MUTILADOS

As brigas dos povos chamamos guerra. Há os que optam pela guerra para resolver seus conflitos. É uma opção, mas a mais insana. É como crianças e adolescentes que para resolver seus mal-entendidos partem para a briga. A briga e a guerra nunca podem ser consideradas soluções definitivas de um conflito. Tal solução apenas põe o conflito debaixo das cinzas esperando o primeiro golpe de vento para desandar em incêndio inesperado. Olhando a linha do tempo do ser humano tem-se a impressão de que matar o semelhante é um componente estrutural do homem. Por um motivo banal Caim mata o irmão Abel. A fumaça de seus sacrifícios era o sinal que escondia o ódio fraterno, que ardia no coração de Caim. Foram ao campo, e foi no campo, junto ao seio da mãe terra, que se tem notícia da primeira batalha. Ainda hoje é nos campos que se fazem as guerras seja, pelos sem-terra, seja pelas armas. Nada mudou desde Caim e Abel, a não ser as armas. Vivemos um momento confuso e doloroso, mas não novo. O profeta, à semelhança de um repórter de hoje, escreve: "Se saio para o campo, eis as vítimas da espada; se volto para a cidade, eis os torturados pela fome". A história do povo eleito é uma longa trajetória de mortes. Como tudo era visto sob o olhar de Javé, os governantes se inocentavam dizendo que tudo era ordem divina e era Deus quem ganhava as batalhas. Frente a certas mortes nos comovemos e nos revoltamos, mas frente a outras ficamos anestesiados. O que há em nós que nos suscita consciência tão diferente perante fatos iguais de agressão à vida?
Nunca se investiu tanto a favor da vida como hoje e, no entanto, a vida nunca valeu tão pouco. Matam-se os pais porque discordam do namoro, mata-se por um tênis ou por um boné, mata-se o colega porque se atravessou no meu caminho. Parece que a guerra, a morte coletiva, é necessária para que o homem se dê conta do ainda não. Foi como vítima de guerra que o povo hebreu começou a se questionar sobre a origem do mal. Foi no exílio, numa terra estranha, como vencidos e escravos, entre gritos de dor, que os hebreus refizeram a gênese do sofrimento humano. Até chegar à plenitude dos tempos, chegada do Messias, o Povo Eleito provocou inúmeras guerras e sofreu outras tantas. Será que para preparar um espaço para o Messias não havia outra maneira de conduzir a história? Parece que a guerra é um componente necessário, embora absurdo, para que a história avance. Assim aconteceu para preparar a vinda do Messias, assim aconteceu depois para justificar a difusão de sua mensagem. Será que os benefícios oriundos das guerras são suficientemente válidos para justificar as mutilações e as mortes? É a lógica da guerra atual.
São assim as escolhas da ambiguidade humana: para que uns possam mostrar todo o seu altruísmo, outros têm de produzir mutilados de guerra. Os senhores da guerra nunca são mutilados. São sempre cuidadosamente preservados eles, filhos e seus animais, enquanto seres humanos são por eles considerados menos que animais. "A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem, para proveito de pessoas que se conhecem, mas não se massacram" (Paul Valery). Será que a dor é a porta pela qual necessariamente tem que passar o ser humano para ser ele mesmo? Vida e dor tecem o pano de fundo sobre o qual o homem constrói seu caminho para a vida porque ser humano é ter sofrimento.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:27/06/2025

COMPRADORES DE CONSCIÊNCIAS

Não é terrorismo, não, gente, mas tem uma assombração maligna por aí, enquanto os grandes expoentes da “pátria-mãe tão distraída” nem ligam. Eles têm mais é que engendrar novos assaltos a dinheiros públicos e privados, e aperfeiçoar os métodos de não apurar nada, mediante acordos e conluios entre aqueles que depenam o País desde o século 16. Distribuem-se por diversos disfarces de partidos e réplicas da societas sceleris (associação criminosa) dos romanos. Mensaleiros, mensalistas, sanguessugas, traficantes de votos, compradores e vendedores de consciências, quadrilheiros em geral, se garantem contra qualquer processo ou CPI (estas viraram piada). Alguns nobres deputados e senadores querem livrar-se do Ministério Público impedindo procuradores federais e estaduais de intervir em processos que envolvam parlamentares. É a blindagem preventiva para evitar surpresas. Um deputado apresentou projeto de lei que legaliza a corrupção dos nossos nobres representantes (tem nobres de vera nesse meio): o MP ficaria proibido de investigar atos de corrupção de Sua Excelência Máxima o presidente da República e de outras “excelências” graúdas, como governadores de Estados, deputados federais e estaduais, senadores, prefeitos. Por via das dúvidas, alguém já providenciou passaporte para ele e filhos, justificando que precisa garantir-lhes um futuro mais seguro.

Enquanto rola toda essa pouca-vergonha irresponsável, o primeiro-bandido Peixão, que controla o complexo de Israel no Rio de Janeiro, perguntado se haveria alguma solução para a guerra civil entre poder traficante e poder legal, respondeu: “Não há mais solução, cara. A própria ideia de solução é um erro. Já olhou o tamanho das 580 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral”. A última frase é uma plataforma política digna de quem enganou milhões prometendo mudar o Brasil para melhor. Só falta alguém lançar uma candidatura alternativa, como o poder das máfias. Como Brizola, nos anos 60, usava o lema “Cunhado não é parente, Brizola para presidente”, agora seria “Numa situação indecente, Marcola para presidente”. E ele não fica por aí. Denuncia, com conhecimento de causa, a promiscuidade entre o crime organizado e o que se apresenta como repressão organizada: certos policiais, juízes, desembargadores, parlamentares, governantes, mafiosos de gravata, paletó e colarinho bem lavadinho. Seria bom continuar, porque não é o Brasil todo que lê O Globo(Rede Globo é outra história). Mas tenho outros assuntos aqui. Voltamos depois, em capítulos emocionantes. Não percam. 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:20/06/2025

NAMORAR NÃO TEM DIA

Será que namorar tem dia? Mas chegou o doze de junho, e ponho-me a refletir sobre a regência do verbo namorar que deve ter algo a ver com realidades diferentes: o que está certo: namorar o(a) ou namorar com? Aurélio, no seu dicionário, informa: namorar o(a) (v.t.d.) é procurar, inspirar amor, cativar, atrair, seduzir; namorar com é manter relação de namoro. Antigamente, se Maria estava namorando o Jose, significava que vivia suspirando por ele, sonhando com ele e seu coração batia aceleradamente quando o via; trocava olhares e ficava na expectativa de sua aproximação; se conseguiam se encontrar, a emoção falava mais alto que suas vozes e só se tocavam, levemente, com as mãos dadas e, assim mesmo, às escondidas. Atualmente, o casal mal se conhece, depois de óbvia troca de olhares, o flerte antigo, e já faz planos para dormir junto. Namorar com significa, portanto, viver junto! Que pena! Como era bonito o sonho de flertar com o namorado, saber o horário em que ele ou ela passaria na avenida Eduardo Ribeiro, depois da sessões do Cine Odeon ou na praça da Saudade!...Conjugar o verbo namorar em todos os sentidos me remete ao sentido da celebração. Celebrar o amor, o tesão, o desejo e muito além disso, celebrar o perdão. É um misto de companheirismo, amizade, cumplicidade e êxtase ao mesmo tempo. Na construção contraditória de dois. Há uma lenda japonesa antiga que conta que havia um pássaro solitário de nome Hiyoku, cuja característica era a de possuir apenas um olho e uma asa. Não conseguia viver, individualmente. Quando encontrava sua companheira e por ela se apaixonava, os seus corpos se uniam, formando um só, capaz de voar, de ver, de viver. Hiyoku tornou-se símbolo daqueles que somente encontram a felicidade quando unidos pelo amor a outro ser. Esta lenda ressalta a importância do amor: somente se completando é que os seres, sobretudo o homem, se realizam: há necessidade de uma doação mútua para a realização da vida para a qual foram vocacionados. Mas nesse Dia dos Namorados, apesar das dores, sofrimentos e histórias passadas de perdas, etc., ficamos juntos celebrando não só o amor em primeira instância a nós mesmos como pessoas, não narcísicas, mas conscientes de quem somos, celebramos também o amor pelo outro que estabelecemos como nosso objeto de desejo. Celebramos o amor que sentimos, que invade o peito, que acresce no coração, compartilhado com o nosso outro. E o convite a esta celebração é a continuidade desse amor na construção cada vez mais ampla e abrangente desse sentimento, capaz de transcender os percalços que provavelmente virão, e usá-los não contra ele (o amor) mas a favor dele, cada vez mais. Cresçamos juntos, pois como diz o poeta beleza é fundamental, e digo eu: a beleza do amor também é fundamental. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. O amor é sofredor, é benigno, o amor não é invejoso, o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com injustiça, mas folga com a verdade. 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:14/06/2025

SERÁ QUE O AMOR ACABA? 

Chegando o Dia dos Namorados, e deixo aos leitores e leitoras a indagação que dá título a este artigo.

O encontro entre duas pessoas acontece por quase infinitas formas e motivos. É um olhar que se cruza, um toque, um sorriso, um perfume, uma lembrança, uma ideia, um projeto de vida... um desejo de compartilhar corpo, alma e vida com alguém. O amor acontece no porão da alma, sem condições nem regras, com meras intenções e toneladas de ilusões. Sem pudor, os pares tecem cenas e se vestem com diferentes papéis, para despir, uma a uma, todas as suas fantasias. O amor chega como uma suspeita: uma coisa indescritível, um misto de bom e de ruim, de passado e de futuro. O amor é um sossego inquietante, uma turbulência pacífica, um sentido perdido na certeza distraída. Quando se abre a cortina lá estão os pares, apaixonados! Quando o outro entra em cena ... não há como interromper esta ocupação. É uma invasão por todos os lados de uma coisa invisível e incolor. Quando o amor chega, tem-se a consciência de que estamos vivos, de que não somos inteiros, que somos partidos. Amores, perfeitos ou imperfeitos, quando chegam não conseguem controlar o destino. O que faz um encontro durar ou acabar? Paulo Mendes Campos, no seu conto O amor acaba, escreve num só parágrafo, entre vírgulas e ponto-e-vírgulas os motivos que fazem o amor acabar e termina dizendo que o amor acaba, para recomeçar em qualquer lugar e a qualquer instante ... Como tudo na natureza, o amor não acaba, se transforma. Os amantes, diferentes dos jardineiros que plantam e colhem amores perfeitos, ficam perplexos quando o amor acaba. Amores, perfeitos e imperfeitos são como as flores: belos, coloridos, delicados e perfumados. Existem amores de vida curta, outros, quase eternos. E o que faz uma relação durar ou acabar? Humberto Eco diz que existem noções comuns a todas as culturas, e que todas elas referem-se às posições de nosso corpo no espaço e no tempo e que a dimensão ética começa quando o outro entra em cena.. Devemos antes de tudo respeitar o direito da corporalidade do outro, entre os quais o direito de falar e pensar. Por inúmeros e inconfessáveis motivos um dos pares pode mudar seu objeto de desejo; perder seu interesse ou sua admiração pelo ente, antes querido. Se não perder sua capacidade de diálogo, seu código de ética, sua capacidade de distinguir o tolerável do intolerável o amor pode durar, mais uma primavera. Pode, quem sabe, seguir o rastro do sol perseguindo todas as primaveras. Quando a cena tem dois atores que não se olham, o descaso se instala e o amor, por acaso ,chegará ao fim. O amor que cega o amante, enaltece o amado, sem reciprocidade - ética, sexual e temporal - no corpo e no espaço, este amor acaba, vive apenas na superficialidade de cada encontro. Para se colher um amor perfeito é preciso de boa semente, boa terra, água e sol na medida certa. Sem cuidado, uma flor pode morrer. 

Diferente dos jardineiros que plantam e colhem amores perfeitos os escritores, poetas, pesquisadores...teóricos em geral, pensam mais do que escrevem; escrevem melhor do que falam; falam muito mais do que fazem. Sem fugir à regra, há tempos venho me dedicando ao tema, na tentativa de entender o sucesso e o insucesso das relações amorosas. Se eu soubesse fazer com gente o que sou capaz de fazer com as letras poderia, com certeza, sugerir uma receita melhor do que esta, para colher amores perfeitos: Consulte seu coração, seu corpo e sua mente. 

O coração pressente, o corpo não mente e a razão não sente. Quando o coração bate sim, depois já bate não; a mente diz que sim, depois já diz que não; é o corpo quem manda se quer sim ou quer não. Se você não pergunta se é sim ou se é não, é sinal que o amor respondeu pelos três.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:11/06/2025

A IMPRENSA PODE CAUSAR MAIS DANOS QUE A BOMBA ATÔMICA

Caros leitores, desculpem a hipérbole do título do artigo, mas tem um motivo. Tenho o hábito de rasgar a folhinha a cada dia do mês, e ler a mensagem que traz cada dia. Está semana,  a mensagem que li, de Moam Chomsky, dizia: “A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica, e deixar cicatrizes no cérebro”. Então me propus a escrever sobre o trabalho da imprensa e da mídia, cuja motivação está assentada na leitura desta folhinha mensal, e na leitura sistemática dos jornais e na escuta de informações do rádio e televisão de um modo geral. Muito raramente se verifica uma cobertura ou um comentário mais instigante e impertinente, dando a impressão de que se estabeleceu uma espécie de quase “lealdade” de alguns jornalistas e comentaristas políticos em relação a alguns homens e instituições públicas, sendo este tratamento benevolente ainda mais evidente quando se trata de alguém que está de plantão no exercício do poder.

Um dos campos do jornalismo objeto de melhor investigação é, certamente, o dos jornalistas especialistas de informação política, aqueles que têm por rotina cobrir as atividades da politica (governos, parlamento, partidos etc.), isto é, o processo complexo de encontros, trocas e fluxos de influência que permeiam as ações dos agentes políticos e seus colaboradores e os mecanismos pelos quais estes espaços de ação politica funcionam e se autorregulam.

A mídia contribui para a definição da realidade política e para o estabelecimento da ordem do dia nos assuntos de interesse público. Projetando a luz sobre os problemas, publicizando as exigências, estimulando os debates, despertando as consciências, afetando as escolhas das autoridades políticas e sua capacidade de controlar os acontecimentos.

Examinando as relações das empresas jornalísticas, (blogs e portais) com o universo político do nosso Estado, observamos como estas relações estão historicamente permeadas de interesses travessos à produção de informação e a preocupações de natureza jornalística, e voltados para a satisfação de interesses econômicos e comerciais das empresas. A troca de favores é uma das finalidades das alianças estabelecidas entre o universo da política e das empresas de comunicação como é possível vislumbrar através de alguns exemplos aqui em Manaus, com blogs e portais feitos com o único fito de barganhar, para não publicar escândalos, permitindo aos empresários do setor a expansão de seus negócios e aos políticos a certeza de uma “tribuna” para propagandear seus feitos defender ideias e atacar adversários.

Importante observar que nas sociedades modernas e democráticas, os sistemas políticos, repousam na solidez e bom funcionamento das instituições e na livre participação dos cidadãos na vida pública, sendo a comunicação peça chave desta engrenagem. A comunicação política, como a definem alguns especialistas, é uma “permuta de informação, entre governantes e os governados, através de canais de transmissão estruturados ou informais”.

Para encerrar, e parafraseando Moam Chomsky, quando um blog ou portal, ou mesmo um jornal de grande circulação, deixa de publicar alguma coisa de interesse público, pela, repito “lealdade” com o agente público, não deixa também de causar danos e cicatrizes no cérebro, por indigência, criando uma imprensa com tendência a reproduzir antes de subverter, anuir ao invés de contestar, fazendo raramente o uso da função reveladora e denunciadora atribuída comumente ao jornalismo. E ainda mais, quando por vindita, acusa homens ou mulheres públicas ou não, servindo de veículo para acusar e denegrir imagens, por falta do como citei acima de “interesses travessos” para ser bem elegante. 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:07/06/2025

O MUNDO DA MENTIRA

É conhecida, de todo estudante de lógica, a aporia do filósofo cretense. Relembrando-a e resumindo-a: estabelece-se que em Creta todos seus habitantes, sem exceção, são mentirosos. Tudo lá e tudo que lá se diz é mentira. Ninguém diz a verdade. Eis que surge um filósofo cretense e declara: Em Creta todos são mentirosos. Estará o filósofo dizendo mentira ou verdade? Nesta interrogação está a legítima aporia o problema logicamente sem solução. Se o filósofo, por ser cretense, estivesse dizendo a verdade, declarando uma constatação de fato, então logicamente sua afirmação estaria contradizendo a premissa maior (todos os cretenses são mentirosos). Afinal em lógica formal novos fatos não podem contrariar a premissa universal... Se estivesse dizendo uma mentira também estaria contradizendo a mesma premissa. Logo é impossível silogisticamente concluir o raciocínio, solucionar o problema se ele mente ou não. Pois bem, estamos vivendo neste País legítima aporia, aparentemente lógica, mas de fato política. No caso cretense a aporia existe, porque se sustenta numa premissa tida como verdadeira (todos os cretenses são mentirosos). Brasília, é hoje a Creta de nossos Há tráfico de órgãos influência, corrupção em todos os níveis. Os defensores do governo, tomados de medo de que haja confirmação, por sua vez, outro esquema, mas cretense para salvar a todos os que trafegam no mesmo barco governista. Este esquema se fundamentou na premissa universal para efeitos políticos, mas bem particular dentro da coerência lógica, de que Lula por ter sido o presidente da República e por causa de seu passado, é honesto e assim tem de ser mantida sua imagem, independente de possíveis fatos contrários. Lógica e politicamente, esta premissa sendo mantida, o processo do raciocínio, sobretudo dos opositores, desembocou numa aporia. Ou seja: levantadas provas que incriminaram os corruptos, jamais atingiriam a honra do presidente. Daí porque proclamam aos quatro ventos: a oposição pode fazer de tudo, pois não se conseguirá provar que Lula não seja honesto. Aliás, a própria oposição aceita a mesma premissa. O resto tudo são metáforas, fantasias e imaginação delirante de uma esquerda, de uma oposição carcomida. A premissa Lula é honesto, além de premissa, é cláusula pétrea, irremovível. Jamais será contestada. Afinal, dizem os apaniguados e aliados de Lula, estamos defendendo não o governo, mas a pessoa impávida e colossal do presidente. Lamentamos, continuam a dizer, que a oposição e os detratores de Lula, por sua teimosia, entraram num mato sem saída, ou seja, entraram numa aporia lógica e política. Chamem nos de imbecis.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:31/05/2025

RESPEITO AO NOSSO RICO VOCABULÁRIO

Conta-se que famoso apresentador de programas radiofônicos da antiga Rádio Nacional dirigiu-se desta forma à cantora Amália Rodrigues, então se despedindo de uma temporada no Rio: Foi um privilégio tê-la tido aqui... . A cacofonia, às vezes, provoca situações profundamente constrangedoras para seus autores e, a guisa de marca registrada, até entra em suas biografias. Neste aspecto, todos nós estamos sujeitos a um belo tropeção. Não menos desastrosa é a impropriedade de certos torneios frásicos, capazes de fazer corar até frade de granito. Observe-se este trecho pinçado de uma reportagem sobre nosso Rio Negro: Alimentando-se basicamente de animais roedores e peixes, o biólogo garantiu que o jacaré...  O infeliz deslocamento de termos deixou o cientista com as calças na mão ao expor sua atração gustativa por roedores, entre os quais estão os parentes mais próximos do Mickey. Em se tratando de confusão estilística, não fica muito atrás o vexame protagonizado por um nobre vereador de Manaus. Segundo foi noticiado ã época, o edil tomado de forte entusiasmo pelo discurso que certo homenageado acabara de proferir na Câmara, avança para o microfone e sugere ao presidente da sessão: Peço a V.Exa., mande introduzir no anal de nosso Legislativo uma cópia desse magnífico discurso. O tropeção do vereador este sim deve ter chegado bem mais depressa aos ditos anais (registros) da Câmara Municipal. Enquanto isso, muita gente continua subscrevendo envelopes de convites (casamento, formatura e quejandos), em lugar de sobrescrevê-los, isto é, apor-lhes o nome do destinatário e endereço. Outros não distinguem, na linguagem escrita, os termos à-toa e à toa. O primeiro, hifenizado, sempre atribui uma qualidade a um ser: um indivíduo à-toa (imprestável); umas tarefas à-toa (pouco trabalhosas). O segundo, sem hífen, transmite ideia de circunstância: as crianças riem à toa. A televisão e o rádio têm deixado a mostra o sofrível entendimento que as pessoas, algumas até com canudo emoldurado na parede, têm a respeito do rico vocabulário da língua. Foi o caso que um político destas bandas manauara considerou inóculo o projeto do então senador ACM, repentinamente tomado de inócuo fervor franciscano. Embaralhar termos, à maneira de cartas de jogo na mesa, não é exclusividade de gente despreparada. Certa vez, ouvi de uma boca ilustre: Vou renunciar por motivos de fórum íntimo. Por coincidência, tratava-se de um talentoso advogado. Por descuido ou despreparo, outros empregam portenho para qualificar pessoas e coisas da Argentina: cantor portenho, música portenha. Na verdade, o termo é privativo do natural de Buenos Aires, embora haja o adjetivo oficial buenairense. Lamentando a morte do ilustre cidadão amazonense, certo colunista tropeçou: Vai ser muito difícil substituir sua ausência querida. Ora, substituir uma ausência não é sopa, logo se vê, a menos que o sujeito esteja mancomunado com alguma entidade sobrenatural. Já um conhecido repórter tachou de estérica certa atriz do teatro brasileiro. Até hoje estou por saber se a moça é estéril ou mesmo histérica. Ou (o que seria um desastre biológico) as duas coisas ao mesmo tempo.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:24/05/2025

ORAÇÃO AOS LADROES ASQUEROSOS 

Não se assustem caros e caras leitoras, hoje estou para esculhambar, em termos de oração. Não aguento mais essa corja de corruptos que tiram dinheiro até de quem está morrendo. Então malditos sejais, ó mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas, trampistas, intrujões, chupistas, tartufos e embusteiros!  Que vossas mentiras, patranhas, marandubas, fraudes, lérias e aldravices se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, que entrem por vossos rabos, rabiotes e fundilhos e lá depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarreias torrenciais e devastadoras. Que vossas línguas se atrofiem em asquerosos sapos e bichos pustulentos que vos impedirão de beijar vossas amantes, prostitutas, barregãs e micheteiras que vos recebem nos lupanares de Brasília, nos prostíbulos mentais onde viveis, refocilando-se nas delícias da roubalheira. Malditos sejais, ladrões, gatunos, pichelingues, unhantes, ratoneiros, trabuqueiros dos dinheiros públicos, dos quais agadanhais, expropriais mais da metade de todos os orçamentos, deixando viadutos no ar, pontes no nada, esgotos a céu aberto e crianças mortas de fome, mortas de tudo. Que a maldição de todas as pragas do Egito e do Deuteronômio vos impeça de comer os frutos de vossas fazendas escravistas, que não possais degustar o pão de vossos fornos, nem o milho de vossos campos, e que vossas amantes vos traiam e contaminem com as mais escabrosas doenças e repugnantes furúnculos! Malditos sejais, homúnculos dedicados a se infiltrar nas brechas, nas barbas do Estado para malversar, rapinar, larapiar desde pequenas gorjetas embolsadas, até essa doença nacional chamada Brasília, onde vos enquistais há quarenta anos, no revezamento sinistro de negociarrões com empresas fantasmas em terrenos baldios, até a rapinagem de todas os mínimos picuás dos miseráveis. Malditas sejam as caras-de-pau dos ladravazes, com seus ascorosos sorrisos, imunda honradez ostentada, gélido cinismo, baseado na crapulosa legislação que os protege há quatro séculos, por compradiços juízes, repulsivos desembargadores, fariseus que vendilham sentenças por interesses políticos, ocultados por intrincados circunlóquios jurídicos, solenes lero-leros para compadrios e favores aos poderosos! Que vossas togas se virem em abutres famintos que vos devorem o fígado, acelerando vossas mortes que virão por vossa ridícula sisudez esclerosada com que justificais liminares e chicanas que liberam criminosos ricos e apodrecem pobres pretos na boca-do-boi de nossas prisões! Malditos sejais, burocratas, sicofantas, enfiados na máquina pública, emperrando-a e sugando migalhas do Estado com voracidade e gula! Tomara que sejais devorados pelos carunchos que rastejam nos processos empoeirados da burocracia que impede o país de andar! Que a poeira dos arquivos mortos vos sufoque e envenene como o trigo roxo dos ratos! Malditas sejam também as “consciências virginais”, as mentes “puras”; malditos os alienados e covardes, malditos os limpos, os não-culpados, os indiferentes, que se acham superiores aos que sofrem e pecam; malditos intelectuais silenciosos que ficam agarrados em seus dogmas, que se “escandalizam” com os horrores, mas nada fazem. Maldita seja também a indiferença narcisista de Bolsonaro, déspota que vive da herança bendita que recebeu como Presidente, e não meteu a cara para mudar a legislação das licitações, das concorrências públicas, criando métodos de transparência legal à vista da população, pois ele não quiz fazer nem reformas nem marola e perder seu sossego. Que gordas sanguessugas e carrapatos carcomam seus bonés, barretes, toucas e infectem sua barriga furada estadista deslumbrado.

Só nos resta isso: maldizer. Portanto: que a haja uma pandemia só para vos e devore vossas almas, políticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem para sempre. E que aqueles que roubaram dos aposentados, com a conivência do governo de Plantão, sejam condenados à viver de um salário-mínimo depois de devolverem tudo aos lesados. Assim seja!

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:19/05/2025

NAMOROS COM A DELITIVIDADE

Começam a surgir as candidaturas para o ano que vem, tanto a Presidência da República, governo, como Senado e Câmaras Federal e Estadual. Mas é necessário que não só o povo, mas principalmente o Tribunal Superior Eleitoral, fiquem atentos para a vida pregressa de alguns candidatos, pois, a ninguém é dado o direito de se eximir de dizer o que sabem de candidatos, dando contribuição para a higidez na vida pública. Há pedidos de registro de candidatura, notoriamente identificada pela tarja de processos criminais e ações de improbidade administrativa, que pelo seu avultado número sinalizam um estilo de vida do mais aberto namoro com delitos. Será que não começa por aí a concretização da ideia-força de que o povo merece o melhor? Sabido que a palavra ‘candidato’ vem de cândido, limpo, depurado, enquanto o vocábulo “candidatura convergentemente, não significa senão candura, pureza, depuração ético-representativa?' Há um desregramento vigente, sustentado por legislação despropositada. Onde está o despropósito? Está em que, repetindo e enfatizando o que está na Lei, candidaturas notoriamente identificadas pela 'tarja de processos criminais e ações de improbidade administrativa' conseguem tranquilamente obter o registro para pedir o voto do eleitor. E como fica a sinalização - indicada pelos processos de tarja preta de que o estilo de vida do candidato é de um aberto, descarado, escancarado, escandaloso 'namoro com a delitividade'? E como fica a sinalização? Simplesmente não fica. Candidatos em aberto 'namoro com a delitividade' - e alguns até mesmo casados com ela - continuam a incorrer despudoradamente em práticas delitivas, criminosas, ilícitas, sem que a Justiça Eleitoral tenha condições de vetar o registro da candidatura. Não veta porque prevalece a velha presunção de inocência, segundo a qual o sujeito é considerado inocente até o trânsito em julgado da sentença. Trânsito em julgado significa que não há mais possibilidades da impetração de recurso, ou seja, que uma ação terminou. No Brasil, ações só terminam depois de anos, muitas vezes depois de décadas. Esse é o tempo suficiente de que se valem aqueles que 'namoram com a delitividade para perpetrar novos delitos, novos crimes. É o tempo de que necessitam para protagonizar novos escândalos, traficar influências, meter a mão nos cofres públicos para engordar patrimônios pessoais. É o tempo necessário, enfim, para que a sociedade, mais e mais, descreia na eficácia da Justiça como instância capaz de resguardar, de salvaguardar valores que deveriam ser caros em qualquer regime - sobretudo o democrático -, como exigir que os homens públicos sejam inequivocamente corretos, sem máculas de caráter, sem tergiversações com a ética.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:17/05/2025

UM TRIBUTO SOLITÁRIO

Neste domingo, comemoramos mais um Dia das Mães. Me predispus a escrever sobre as mães, especificamente sobre a minha que com noventa e cinco anos, está como naturalmente acontece em sua jornada da finitude. Mas, resolvi mais uma vez escrever sobre a violência. A estatística não é favorável ás mulheres, sejam mães ou não, a cada 17 horas uma mulher é vítima de feminicídio, incluindo nosso Estado. Nunca conheço vítimas ou autores na chamada banalização do crime, entendida como a eliminação física do próximo, as mais das vezes por motivos fúteis. Sabemos também da banalização dos crimes de outro tipo: os praticados, sem repercussão de impacto na mídia, pelas elites. durante séculos, desde a própria chegada dos enviados de El-Rei, construindo, consciente ou inconscientemente, um status quo que traz como resultado a morte diária de pessoas, principalmente crianças, por falta de meios mínimos de subsistência; os perpetrados pela máfia de colarinho branco, protegida na malha política, empresarial, judiciária e da administração pública, apropriando-se do patrimônio social. Apropriação antes de tudo covarde, diferentemente da feita por assaltantes de mão armada que podem até arriscar a vida com reação de suas vítimas ou de eventuais seguranças e policiais. Voltando, porém, ao enfoque da violência e insegurança em que se encaixa o crime tema deste comentário, é de se perguntar onde estão os porquês e os culpados da existência desse quadro de abrangência nacional. Especialistas de diferentes áreas têm contribuído para levantar as causas e as soluções (que são mais difíceis) dessa situação. Entre as primeiras, são apontadas a concentração de renda, empurrando grande parte da população a níveis miseráveis de sobrevivência, facilitando o recurso ao tráfico de drogas como meio de vida; a falta de uma orientação de controle de natalidade voltada para as classes mais pobres; o sucateamento do aparelho policial e má remuneração dos profissionais do setor, motivando inclusive condições para muitos se corromperem; a falência do sistema prisional, transformado em escola de aperfeiçoamento de criminosos e o ultrapassado sistema de leis penais vigente. O que pessoalmente posso fazer como contra esse massacre? Abalado, impotente diante do fato e de mim mesmo, vontade tenho de abrir a janela e no silêncio da noite gritar em protesto contra o acontecido. Alguns vizinhos poderiam acordar, mas, incomodados, se voltariam contra mim, chamando-me, no mínimo, de louco. Compadeço-me profundamente, mas as lágrimas não vêm e até seriam lugar comum se fosse me martirizar com as barbaridades destacadas diariamente pela Imprensa. Tomo então uma atitude. Além da decisão de escrevinhar estas linhas, pratico um ato de significação simbólica: levanto-me, ponho um headphone e aciono o equipamento de som para ouvir, como tributo solitário, às cinco chacinadas minhas desconhecidas, o Réquiem de Mozart. A audição exclusiva passa a representar a revolta, indignação, inquietação e tristeza em que sou envolvido, principalmente quando o feminicídio é vulgarizado. Feliz dia das Mães, apesar de tudo.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:10/05/2025

O LADO SEDUTOR DOS EUFEMISMOS

O homem foi dotado de linguagem para revelar ou mascarar seu pensamento? No livro O Telefone dos Mortos, conta a história de um cientista que pretendia inventar uma máquina capaz de transferir o pensamento do cérebro de um interlocutor para uma tela, tornando-o visível. Desistiu da ideia, apavorado com as consequências de podermos conhecer o pensamento real das pessoas na convivência diária, nos debates políticos, congressos literários ou universitários, encontros de chefes de estado, empresários ou simples festas sociais e reuniões familiares. Compreendeu, enfim, que a fala é útil para ocultar a verdade do pensamento humano e favorecer as operações socialmente convenientes da dissimulação, capazes de assegurar o equilíbrio na convivência. Desde a Torre de Babel, a vida humana seria impossível sem os mascaramentos tornados viáveis pela linguagem. Um dos principais recursos de amaciamento da linguagem é o eufemismo. Consiste em dizer uma coisa pelo seu lado contrário. Não é complicado. Em vez de afirmar que seu colega “é burro”, você diz que “ele não é inteligente”. O Aurélio assim o define: “Ato de suavizar a expressão de uma ideia, substituindo a palavra ou expressão própria por outra mais agradável, mais polida”. O eufemismo é um sedutor recurso para escritores.
Mas não só para eles. Todo esse preâmbulo é apenas para lembrar que estamos vivendo a época dos grandes eufemismos oficiais, manipulados por governantes e economistas. Tem sido, na verdade, uma espécie de mal do século. Hitler, por exemplo, falava em “solução final do problema judaico”: Queria dizer: extermínio em massa de judeus, ciganos e eslavos, através de fuzilamentos coletivos e câmaras de gás. O mais sujo dos golpes nazistas virou “limpeza étnica”. No Brasil dos nossos dias, o dialeto, usado pelos economistas do governo é um canteiro de eufemismos viçosos. Por exemplo: mandar funcionários públicos para a rua passou a ser “plano de incentivo às demissões voluntárias”. Demissões voluntárias! Como se alguém quisesse perder o emprego numa época de crise e falta de oportunidades. Mas o governo, igualmente, fala com a maior naturalidade em “enxugar a máquina”. Outro eufemismo (que se confunde com cinismo) para “demissões em massa”. Muitos empresários também querem “enxugar” suas empresas. Um enxugamento geral – mas, só para os outros, nunca para nós mesmos (quando então o emprego é sagrado). É fácil estimular desemprego quando não se é atingido. Mas vamos adiante. Há uma grande onda neoliberal contra os direitos trabalhistas. Busca-se a extinção de conquistas históricas dos trabalhadores, obtidas após uma época em que mulheres e crianças se esfalfavam 20 horas por dia nas fábricas de Londres. Stuart Mill afirmou: “A prosperidade industrial da Inglaterra repousa no infanticídio”. Tudo é esquecido, os empregados já são demasiadamente privilegiados. Vamos, portanto, “flexibilizar” as leis trabalhistas – diz o governo, fazendo coro com a ordem mundial. A “flexibilização” é o novo nome daquele velho impulso que levava Hobbes a ver no homem o lobo do homem e gerou, como reação, toda a teorização marxista. “Flexibilizar” é jogar o trabalhador no meio das forças cegas do marcado. Subtrair direitos. E o que dizer da palavra “austeridade” (leia-se “arrocho” contra a sociedade), sempre invocada em momentos de crise aguda? “Austeridade” passa então a ser a exigência de que todos se privem daquilo de que o governo não abre mão: gastar com viagens, comprar, desperdiçar, inverter prioridades, esbanjar. É palavra supressa do dicionário oficial, aplicável apenas aos esbanjadores do lado de fora do poder.Mas o espaço está acabando, citemos somente mais um exemplo. Tomemos ao acaso a palavra “emendar”. Significa o que, no Brasil de hoje? Emendar a Constituição, ou seja, o ato de ajustar a Lei Maior aos interesses transitórios do governo. Por exemplo: reeleger o presidente, extinguir a estabilidade para demitir funcionários, cobrar outra vez dos inativos, escancarar o país à globalização e ao “capital volátil” (eufemismo para “investimento predador”). Já imaginaram se todos os governos futuros pretenderem também “emendar” a Constituição?
Enfim, nunca tivemos mesmo um país inteiriço. O Brasil vem sendo historicamente uma sucessão de fragmentos (éticos, políticos, sociais e econômicos). Um país emendado, colcha de retalhos dos interesses das suas elites e dos governantes que, emendando-o sempre, nunca se emendam a si próprios. O que é o mínimo que eu posso dizer – com eufemismo.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:03/05/2025

O VERDADEIRO FIM DO MUNDO

Passada a quaresma, tempo de penitência, segundo a Igreja Católica, a alegria se foi. A morte do Papa Francisco, levou o mundo a repensar no acolhimento. Mas no Brasil, só se fala em corrupção, desvio de dinheiro público, roubo dos aposentados do INSS, banda podre e outras baixarias da vida privada de alguns casais. Compreensível, portanto, que acompanhar o noticiário pelos jornais ou pela televisão virou uma atividade diária bastante desagradável nas últimas semanas.

Agora, talvez até mais do que no tempo do Collorgate e da Lava Jato, é impossível acompanhar todas as denúncias. Elas não são apenas asquerosas, por conter detalhes sórdidos da intimidade dos envolvidos, mas também numerosas. Há escândalos e baixarias para todos os gostos. Têm os nacionais, em que dois senadores influentes se xingam em discursos na tribuna. Ambos prometem documentos para detonar o outro. Há ainda os escândalos locais, como a roubalheira nasPrefeitura de municípios e os desvios do dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) em Brasília.Ficou difícil para um cidadão comum entender os meandros de cada escândalo, saber em que estágio de investigação estão, quem são os acusados e se as denúncias resultarão em alguma punição concreta. Nesse quadro, é mesmo natural a sensação de que a corrupção e os corruptos estão bem do seu lado e que a roubalheira do dinheiro público continua uma praga nacional. Quarenta anos depois da primeira eleição presidencial direta do período democrático, parece não ter havido mudança alguma na prática política brasileira. O fim do mundo, previsto para acontecer durante o último eclipse lunar ou na entrada do ano 2000, chegou bem mais tarde, depois do carnaval.

Se você pensou, caro leitor, que à essa altura do artigo eu o salvaria do desconforto com a maracutaia recente dizendo palavras doces de esperança e encorajamento, enganou-se. A lama atual que entra pelas nossas casas diariamente é real e preocupante. Significa que não aprendemos nada até agora e não mudamos o suficiente. As denúncias de corrupção das últimas semanas só têm despertado a desilusão das pessoas. E a desilusão leva a um componente mais perigoso — a apatia. Na época do Collorgate, ainda havia os jovens na rua, com sua juventude, alegria e caras pintadas, para purificar a corrupção. Desta vez, nem isso. Estamos todos cansados de lutar. Recolhemo-nos nas agruras do dia a dia pessoal, o que já não é pouco. Cada um tocando sua própria vida. Agora é pior.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:26/04/2025

A TORTURA AINDA ESTÁ AQUI

Precisava ser divulgado um relatório da ONU para se ter conhecimento da ocorrência de torturas nas delegacias de polícia e nos presídios brasileiros? Claro que não! Grosso modo, a população brasileira é dividida em duas partes bem nítidas e reconhecíveis: os impunes e os suspeitos. Impunes são os mandatários com imunidade parlamentar, os cidadãos comuns com renda suficiente para remunerar um advogado ou até um rábula esperto o bastante para trafegar nas brechas das leis e os pistoleiros menores a soldo do crime organizado. Suspeitos são todos os outros que não se enquadram nessas três definições: brasileiros sem mandato, e, portanto, sem a gazua que abre os cofres públicos, sem renda para assegurar o direito de defesa garantido na Constituição e ainda sem o salvo-conduto da menoridade para ser usado como o dedo no gatilho da indústria internacional do crime. 

Esses últimos sempre foram torturados, porque a sociedade formada pelos impunes que mandam não aceita desperdiçar os recursos exigidos para remunerar e equipar um aparelho policial minimamente capacitado para investigar crimes, localizar e prender criminosos.  A técnica é sempre a mesma: todos os que não são impunes são os suspeitos de sempre. Havendo um crime, eles são presos e torturados até confessá-lo. Obtida a confissão, são atirados no inferno das prisões onde a tortura é uma prática que, apesar de brutal, em quase nada difere da rotina do amontoado de bestas em celas infectas, nas quais a vida humana é um castigo quase impossível de suportar. A prática da tortura é disseminada há séculos, mas a palavra só teve a ênfase merecida depois de parentes, afilhados ou anexos desse baronato terem sido pendurados nos paus-de-arara da repressão à guerra suja da esquerda armada contra a ditadura militar. O lema politicamente correto de então - "Tortura, nunca mais" - deixou de ser uma bandeira de luta no instante em que o sobrinho do escrivão ou o neto do coronel largaram a clandestinidade, pesada ou charmosa, pela luta para sobreviver. Os suspeitos de sempre continuam gemendo e chorando no vale de lágrimas de delegacias e presídios, mas quem é que vai se interessar por isso? 

Alguém dirá que o membro de uma comissão de direitos humanos de uma casa de leis no País protestará com vigor contra esse estado de coisas. O relatório da ONU gerou intensa literatura farisaica de comiseração a respeito dos seres humanos que recebem nas prisões brasileiras tratamento que não é dispensado a feras. E daí? O parlamentar esquerdista que manifesta sua indignação contra a polícia bárbara que tortura para não investigar é o mesmo que luta para aumentar a verba disponível para enganchar o cunhado no cabide de seu gabinete. A humanização da vida dos presos brasileiros começará pelo aumento de vagas nas prisões, ou seja, pela construção de presídios. Esse é um dos itens do plano de segurança pública anunciado pelo governo federal, que acaba de mandar uma Pec ao Legislativo, para auxiliar as polícias estaduais. Então, ninguém precisa cursar matemática no MIT para concluir que uma chave de ouro que tranque os Correios, e outras estatais que no orçamento de 2026 já prevê um rombo de seis bilhões , poderia significar a multiplicação das vagas em presídios por quatro, tornando, se não mais confortável, menos vil o dia a dia dos presidiários. Mas como fazer essas contas num país onde os políticos se recusam a usar máquinas de calcular? 

A cultura da brutalidade, descrita no relatório, não resulta da maldade intrínseca dos policiais, mas da conveniência cínica dos políticos profissionais. 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:19/04/2025

O ENTRETENIMENTO É O TRIUNFO DO MAL

Quando posso, uma das coisas mais agradáveis que costumo fazer, fora de Manaus óbvio, porque mesmo que tenhamos o teatro mais lindo do Brasil, não conseguimos ver as peças de maior cartaz como no Rio de Janeiro e São Paulo, é ir ao teatro. Já assisti peças maravilhosas, com atores de primeira linha, como Juca de Oliveira, Antônio Fagundes, Bibi Ferreira, Tony Ramos e tantos outros, e tenho a convicção que é verdade que as novelas, os filmes, as minisséries e o próprio teatro apresentam histórias que têm toda semelhança com fatos acontecidos em nossa ou outras sociedades.

Nenhum grupo social vive apenas com alegrias e festas. Não poucas vezes, ocorrem os tsunamis na vida física e real assim como na imaginação, em consequência de atropelos e apelos do próprio viver. As encenações em seus diversos modos têm como motivo principal ocupar a mente dos espectadores, levando uma mensagem de vida. Mostram um acontecer assemelhado à vida real, em um drama fantasioso, que invade o espírito dos aficionados pela arte cênica, assim como do público em geral, transmitindo-lhes uma mensagem positiva.

Acontece, no entanto, que alguns autores por si próprios ou por conveniência de seus patrocinadores, exacerbam em um determinado viés de suas histórias, e dar tréguas a outras facetas tão verdadeiras no cotidiano. Assassinatos, perversidades, dissimulações, traições, trapaças, soberba e tudo o mais que se possa imaginar de ruim desfilam na paisagem do conto sem algum momento de alegria, bondade e sinceridade. Até o nascer, que significa renovar-se, é acompanhado de tristeza como se quisesse dizer “esse bem tem que ser acompanhado por um mal”! E lá se vão muitos capítulos só com o triunfo do mal.

Não quero por um pouco de açúcar na realidade social, estou afirmando que os bons momentos existem e devem ser muito mais cultuados do que os ruins! De repente, surge uma felicidade posta na personagem mais violentada da estória, porém essa personagem que encontrou a felicidade é a mais traída e perseguida durante todo o conto. Perseguida pelos que lhe querem bem e tentam desvendar os seus olhos para a visão real de sua pseudofelicidade. As drogas, a internet em suas facetas perniciosas e o caos desfilam junto às personagens como em busca da divulgação maior dos tormentos que afligem a maior parte de nossos grupos sociais. As paixões são carregadas de incertezas e traições como se quisessem afirmar que o todo está perdido.

As trapaças, as falsificações e as discórdias fazem cenário em um ambiente que não admite paz, harmonia, felicidade e alegrias duradouras. Morrem os atores do bem deixando um vazio nas necessidades de justiça dos que assistem diariamente a esse drama. Chega o ocaso da história e os vilões continuam vitoriosos, sempre difundindo a apologia ao mal sem fim. Onde estão as lições sociais? Não faz sentido, na última etapa do conto, vir à tona o triunfo do bem. E os que não tiveram a oportunidade desse desfecho? Nenhum respeito à contemplação do saudável acontece até então.

A repulsa da sociedade por contos exacerbados de derrotas deve transparecer mais cedo ou mais tarde. Que aqui fique o alerta àqueles que esquecem o verdadeiro papel do entretenimento e cospem na cara dos espectadores o nojo da sociedade impune! As paixões não são todas desastrosas, eis o caminho.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:12/04/2025

A NECESSIDADE PEDAGÓGICA DE NOMES DE RUAS

O Ministério Público, recomendou que o governo e a Prefeitura de Manaus, alterem nomes de ruas, prédios e avenidas, que homenageiam nomes que participaram ou colaboraram com a ditadura militar. Primeiro, isso não é tarefa do fiscal da Lei e sim do Legislativo, e mais, há desobediência a Lei Orgânica do Município, em colocar nomes de ruas, de pessoas ainda vivas, isso sim, fere a norma vigente, As ruas de Manaus, mudaram de nomes, em homenagem a personalidades, sejam ex militares ou pessoas que contribuíram com nosso Estado. No bairro Adrianópolis, as ruas foram batizadas com o nome de capitais do Brasil, lá estão, Fortaleza, Belo Horizonte, Maceió, Salvador, São Luís, Paraíba, (que em justa homenagem passou a ser chamada de Avenida Umberto Calderaro) Recife, (que passou a ser Mario Ypiranga Monteiro,) também em justa homenagem, mas faço aqui uma sugestão. Assim como sucede com a Marques de Santa Cruz no centro de Manaus, repete-se com muitas outras ruas que não sabemos quem foi o homenageado com o nome posto no logradouro, seja rua, avenida, praça, largo, travessa. Os becos têm quase sempre nomes muito autênticos, como o do Macedo. Os bairros nascem, espontaneamente, em torno de uma igreja, ou surgem da situação geográfica, Ponta Negra, Tarumã, Cidade Nova. Há, pois, uma necessidade pedagógica de se colocar abaixo do nome, na placa, algumas indicações mínimas do titular que designa o logradouro, como a sua principal atividade profissional, cargo de relevo, liderança política, militar, religiosa, social ou literária, ainda se possível data de nascimento e de falecimento. Sugiro indicativos, necessariamente esclarecedores, que identifiquem o homenageado. Lembro-me que quando morava na Rua Luís Antony, eu me perguntava, quem foi Luís Antony? Depois soube que foi um militar luso-brasileiro, que veio para Manaus e aqui estabeleceu-se.  Pois bem, considero que existe ou deva existir uma razão que justifique a homenagem urbana a uma personalidade. É a síntese dessa razão nominativa que deve acompanhar a placa. A busca dos complementos explicativos, sintéticos e precisos, deverá ser um trabalho conjunto da Câmara Municipal, Prefeitura, Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, guarda maior de nossa memória coletiva e das nossas tradições. A sugestão deverá incluir a participação comunitária dos moradores das respectivas ruas já nomeadas, como também induz o trabalho de pesquisa que prazerosamente, facilitaria. Para os logradouros que portam o nome de pessoas vivas, colocar-se-ia o principal título – presidente, governador, prefeito, parlamentar, militar, professor, padre, escritor, poeta, cantor e outros. A cidade de Manaus poderia possuir placas de ruas mais explicativas, inspirando-se em Lisboa e em outras cidades. Um projeto de lei municipal ajudaria a melhor denominar as ruas.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:05/04/2025

MARCAS INDELÉVEIS DE DOR E INCERTEZAS

Em cada lar de nosso imenso território, existem vários questionamentos, os quais têm gerado inquietação, desolação e desespero em nossos compatriotas. Somos tripulantes de um imenso barco; nele somente alguns têm o privilégio de possuírem salva-vidas, algo indispensável nestes momentos de caos; este, porém, não é o caso da grande maioria. Em tal transcurso, temos passado por grandes tempestades, as quais nos têm deixado marcas indeléveis de dor e incertezas. A nossa grande apreensão é não termos nenhuma perspectiva de melhora, pois o tempo apresenta-se cada vez mais nebuloso e sujeito a grandes variações. Nem sempre aquele céu azul de brigadeiro, representa calmaria. Muitas vezes tudo parece caminhar bem, entretanto, surgem grandes maremotos, os quais têm nos levados a grandes aflições. É o que tem sucedido com muita frequênciaem nossos dias. conseguir. Por exemplo, estamos num período tido com inflação acima da meta, os remédios também tiveram reajustes na ordem de mais de 30%; as taxas de serviços essenciais como água, luz e telefone e outros tiveram também as suas taxas reajustadas; o combustível, através dos aumentos ocorridos desde o começo do ano, isto sem falar no ovo, no café e nos alimentos básicos, os quais tiveram variações menores, entretanto significativas, para uma população que não recebe aumento como o Executivo em todas suas esferas, o Legislativo e o Judiciário. O que mais nos chama a atenção é o fato de ocorrerem aumentos de tão grande monta, em tantos setores, e não se fazer refletir nos parâmetros de medição da inflação. Entretanto, apesar de não estarem transparentes nestes índices, eles têm causado grandes transtornos no minguado bolso do pobre brasileiro. Não me lembro de ter visto, lido ou ouvido comentários sobre momentos tão aflitivos como o que hoje presenciamos em nossa combalida sociedade. De forma absolutamente contrária, os índices que refletem a miséria agigantam-se de forma assustadora, causando-nos grande apreensão pelo que venha a acontecer, senão vejamos: a fome aumenta cada vez mais a face dura da miséria, revelando em nossas ruas o retrato do abandono do nosso povo. Outro dia, ao sair da agência Boulevard do Banco Bradesco, deparei-me com uma cena comovente, para não dizer vergonhosa. Presenciei um aglomerado de pessoas, e aproximei-me para observar melhor o que estava acontecendo. A verdade era muito triste: no centro havia um tambor, onde foram colocados pelo dono do restaurante que fica praticamente ao lado, os restos de comida do dia anterior, já fétidos, diga-se de passagem. Neste momento, alguns pobres miseráveis disputavam aos murros tais detritos. Saí cabisbaixo, imaginando: o que significa a expressão cidadania para tais circunstantes? Ou para aqueles que passam a noite nas praças das cidades, em filas intermináveis, para conseguirem uma consulta em nosso mísero sistema de saúde? Ou ainda aqueles que moram em favelas, os quais representam hoje um número expressivo da nossa sociedade brasileira? O que me deixa perplexo é o fato de nossos governantes dizerem: “Não temos dinheiro suficiente para atender às necessidades básicas de saúde e educação da nossa população”. É importante observarmos que ambas representam um direito constitucional e, portanto, responsabilidade do Estado. Não posso entender como isto é possível, se por outro lado presenciamos um fausto atendimento a banqueiros, aos quais não têm faltado recursos. Os bilhões que foram gastos com eles dariam para acabar com tais sofrimentos, senão totalmente, mas em grande parte. Nós, brasileiros, não queremos esmola. Queremos apenas, senhores, aquilo que está escrito de forma tão linda em nossa Constituição, o direito a saúde, educação e a aimentação.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:29/03/2025

A IMPOSIÇÃO DA CONSTÂNCIA DO TEMPO

Em alguns artigos que escrevo, e já se vão mais de dois mil, quebro ou tento quebrar a conspiração do silêncio, perturbando a tranquilidade em temas não tão fáceis de serem vistos pela exterioridade. É inevitável, após uma razoável experiência de vida, convencemo-nos de que aquilo mais valioso do qual podemos dispor livremente não são os bens materiais, mas o tempo. A gravidade do tempo é tanta que, milênios atrás, nossos ancestrais criaram formas de medi-lo, para poupá-lo e utilizá-lo de forma cada vez mais eficaz. No início, o tempo era medido em estações do ano, com finalidades agrícolas, depois classificadas em meses. Encurtando-se a medida do tempo, chegamos à divisão de horas e minutos, e, ainda, em milésimos de segundo. Inventaram, há décadas, o relógio digital de pulso, que permite a presença – ou ausência, o que piora o quadro – em encontros, audiências e reuniões, com precisão absoluta. Quem toma trens ou aviões conhece seus horários estapafúrdios, de precisão impiedosa. O tal “minutinho, por favor”, muito típico do brasileiro ao atender-nos no balcão ou ao telefone, já conheceu épocas melhores, pois sensíveis ao seu valor, esse “minutinho” nos sai caro e gera revolta. 
O tempo, a imposição de sua constância, e seus efeitos implacáveis em nossas vidas tão conturbadas, a partir de sua ínfima medida, é mercadoria disputada. Quem tem boa noção de tempo consegue grandes realizações. Quem não conhece seu tempo está condenado ao fracasso, posto que não mede sua própria evolução, nem dá valor ao tempo dos outros. Sem podermos fugir dessa questão infalível, avaliamos a possibilidade de conviver com o tempo sem reputar-lhe a angústia que nos causa, por excesso ou por falta. Assim, a expressão “administração do tempo” remete-nos a técnicas que ensinam a esquecer a medida cronológica, vendo o tempo sob o aspecto psicológico ou emocional, ou da produtividade intelectual, já que cada um tem sua própria régua temporal. Os tempos coletivo e individual merecem profunda reflexão, pois há aqueles que amadurecem fora de seu tempo, trazendo progresso, bem como outros que vivem no passado, vagando entre os fantasmas que se foram. O tempo geográfico tem sido cruel. Cá embaixo do Equador, estamos assistindo com ansiedade à péssima administração do tempo de nossa coletividade brasileira, em um eterno aguardar, menos de uma liderança que traga notícias e dias melhores. Vivemos sob o risco de já não mais haver tempo para resgatar nossos melhores valores, passando mais uma geração perdida no eterno aguardar, permanentemente debruçada no alpendre da vida, vendo a banda do desenvolvimento (dos outros) passar. 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:22/03/2025

A ANISTIA NÃO INDUSTRIALIZA ESQUECIMENTO

Quando foram denunciadas 33 pessoas, incluindo um ex-presidente da República, por um golpe no País, abriram-se as portas da memória para o desfile de lembranças de um passado de quase sessenta e um anos. Recordações que caminham, ainda, com botas de chumbo, pelos becos escuros dos grandes sofrimentos. O Golpe de 1º de abril de 1964. Movimento absolutamente desvinculado da mobilização popular. Vestindo a farda das ditaduras aglutinou, apenas, soldados e policiais. Contaminou o espírito da juventude inoculando o veneno da desesperança no destino histórico da Nação. Com esse comportamento, conseguiu subtrair da alma popular a essência do que dificilmente se pode repor: a confiança na dignidade de propósitos dos que, por escolha eleitoral ou a mão de ferro, exercem o governo. Três dias após a deposição do presidente da República, já os Estados Unidos "reconheciam" o novo governo, a ditadura. Não demorou muito a assistência ianque com a remessa de peritos em tortura e técnicas em desaparecimento de "subversivos" (que palavra!). O Golpe militar de 64 nasceu e morreu sem grandeza, deixando na sua passagem, tão somente, o rastro abominável do Ato Institucional nº 5. Tive a curiosidade de assistir programas de TV versando sobre o acontecimento. Lamentável decepção. Uma medíocre e superficial montagem para projeção do nada. Nada que retratasse o desdobrar dos males que a ditadura impôs ao país. Quase tudo se resumiu num espetáculo musical. Parecia mais um canto de exaltação, com a predominância da dubiedade embrulhada num crepúsculo maciço do mal de Alzheimer. Mergulhados no esquecimento ficaram os capítulos de torturas e assassinatos brutais levados a efeito sob o olhar oblíquo dos ditadores travestidos de "Presidentes", por força de decisões nanicas de um Congresso emasculado. O Brasil experimentou com aquele regime, efeitos de uma guerra de retrocesso. Um surto pernicioso contra as franquias democráticas. O grau de repressão alcançou as dimensões estratosféricas da maldade humana. O horror à inteligência determinou o exílio dos mais expressivos representantes da cultura nacional, a exemplo do professor Josué de Castro, integrante da constelação dos sábios do Mundo na avaliação de Bertrand Russel. Se não fosse a competência da literatura de um filho, ao escrever um livro, e tornada essa literatura em um filme ganhador do primeiro Oscar brasileiro, até hoje encontrava-se insepulto no cemitério das dúvidas o destino do deputado Rubem Paiva, massacrado pela tortura e dado como "desaparecido". Apagados na escuridão da "conveniência" os gemidos dos que sucumbiram nos laboratórios do sofrimento dos torturadores.
A história é a retratação no aqui e agora dos fatos pretéritos, objetivando a sedimentação da cultura pela forte exposição de episódios que as gerações posteriores não presenciaram e que o monopólio da mentira conseguir esconder da própria época dos acontecimentos. A História não é sucessão ornamental de anedotas políticas, mas a verdade no seu significado mais objetivo e universal. Por essa razão é que a anistia não industrializa esquecimentos, nem envelhece as oportunidades de protesto.
Ninguém falou sobre o fechamento do Congresso. Não houve referência ao diálogo entre o ditador Geisel e o seu ministro do Exército, general Dale Coutinho. O ministro: "Agora melhorou, quando nós começamos a matar". O ditador: "Ó Coutinho, esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser" (Fonte: Ditadura Derrotada, de Elio Gaspari). Enquanto isso, o general Golbery, peça basilar da ditadura, recebia salário mensal de US$ 10 mil na qualidade de "presidente" da Dow Chemical, multinacional norte-americana instalada no Brasil.
Não custa repetir: a anistia não industrializa esquecimento, nem envelhece a oportunidade de protesto.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:14/03/2025

MULHERES

FLÁVIO LAURIA

Comemoramos nesse dia 08 o Dia Internacional da Mulher, e em homenagem a todas elas, faço o presente artigo.

A vida é um grande ato de teimosia e a mente é o portal para que o homem atinja a sua real dimensão cósmica. O caminho é longo e o aprendizado difícil, mas o homem vem resistindo ao longo dos séculos. Ultimamente, tenho meditado sobre a aventura humana na Terra, a angustiante era de incertezas e contradições em que vivemos e, a cada dia, fica mais claro aos meus olhos, que o tema central da vida é o amor e o desamor. A violência, a injustiça, a fome, as guerras, são diferentes faces ou os vários sinônimos da palavra desamor no mundo.

E neste tema central, evidentemente está a mulher, aquela que dá, recebe e irradia o amor.

Muitas vezes ouve-se, no usual tom jocoso, a pergunta sobre por que não haveria o dia internacional do homem. Deixemos claro: os homens são companheiros de jornada da vida, estimados e respeitados, nos múltiplos papéis que desempenham na vida. 
O tema é como as mulheres, sendo a alteridade fundante, foram, por tanto tempo — e ainda são, em determinados locais — suprimidas de direitos e reduzidas à vontade que se colocava como hegemônica. Alteridade fundante, porque desde a percepção que tem o bebê que é um ser dissociado da mãe, ao impacto do homem que se descobre no olhar da mulher que ama, o que ocorre é a possibilidade de reconhecimento mútuo do ser. No caso do bebê, descoberta da existência de um mundo que não se reduz a ele, é vasto e amplo, para sempre por descobrir. Na relação homem-mulher, a oposição na lógica de complementaridade, lição básica de como se pode construir no diverso. Todo outro é lição de limite e possibilidade, desafia quem se é, impõe muros e abre horizontes. Tão mais cômodo imaginar quem apenas ecoa o que somos, concordância permanente no mundo em conflito. Sobretudo se é quem tenha disposição de aceitar e submeter-se aos desígnios que temos, pois vivemos com o arroubo de criador soberano. Na oposição alimentada pela lógica da eliminação, quem não se rende ao desejo que temos torna-se vítima da busca de eliminação, seja como for. São muitos os graus que se pode atingir na lógica de eliminação do diverso: da puxada de tapete ao atentado terrorista, da chantagem ao assassinato. Ao final, a constatação: não concordava comigo. No clássico O Colecionador, filme que traz a tensão construída na simultaneidade de brutalidade e delicadeza, fica evidente como o desejo de dominar o outro absolutamente, ainda que usando o nome do amor, pode tornar-se obsessivo, a ponto de explicitar o que a capacidade de planejamento pode gerar de pior. Borboleta ou mulher, tudo pode ser preso na vitrine.  Mulher como objeto é o tema antigo, que o feminismo escancarou em debates. Da que é prisioneira do homem que oferece benesses, pedindo que, em troca, sirva de ornamento (o que se dirá que não existe mais, mesmo quando se tem um caso ali ao lado), à que é capa e outdoor da revista erótica, o assunto se mantém, cada vez mais ambíguo, pela indefinição de valores éticos, sobrepujados pela lógica do mercado que a tudo devora. Da perda do argumento da ‘‘defesa da honra’’ nos tribunais, à violência doméstica que permanece, a mulher ainda é vítima de arroubos masculinos provocados pela frustração de ter pela frente quem é capaz de conduzir a própria vida. As portadoras do vírus HIV, contraído do marido ou companheiro a quem tinham por fiel, as encarceradas que se envolveram com o crime a pedido do homem que amavam, ausentes quando chega a condenação.   Alteridade desdobrada muitas vezes em rostos e cores, em culturas e credos, a mulher negra, a mulher indígena, a mulher asiática, a mulher europeia, a mulher americana, todas multiplicadas em muitas, como a mulher semita — árabes muçulmanas, árabes cristãs, judias sefarditas, judias ashekanizis, ou as que se descobrem laicas ou sem credo. Ironia ou imprevisibilidade, da jocosidade dos homens houve os que tiraram a oportunidade de ser objeto que se expõe na intimidade 24 x 7 da tevê. Ou, incomparavelmente mais desastroso, os que ensinaram às mulheres a lição do suicídio terrorista. De que igualdade falávamos historicamente? Que a semana seja de reflexão para todos, colaborando na avaliação dos avanços e identificação das possibilidades e pautas que cooperem para a plena observância dos direitos das mulheres. Parabéns a todas as mulheres.

A ARTE CIRCENSE DA POLÍTICA PÓS CARNAVAL

Divertimento secular, o circo sempre se manteve no “ranking” de um teatro menor, destinado a distrair crianças e empolgar ingênuos. Por isso mesmo, submete-se ao efêmero dos barracões instalados em áreas baldias, à itinerância forçada, à vida precária dos trailers, reboques e caminhões. Nem por isso brilham menos as artes circenses, nos domínios do ilusionismo, do malabarismo, nas aventuras do trapézio e da corda bamba. O circo é prodígio de deslumbramentos, e os burlantins, os magos da risada e da emoção barata. À plebe romana dos tempos dissolutos do Império, que Juvenal satirizou, bastavam o “panem et circenses” para se manter em quietação política. E isso se transformou em receita universal e permanente, que muitos poderosos cultivaram ao longo do tempo. Não raramente, se falta o pão, aumenta-se a dose de circo, de modo que as artimanhas dos mágicos e a habilidade dos malabaristas, conseguem apaziguar descontentamentos e serenar murmurações perigosas. Mas o culto ao circo pode prescindir do equipamento clássico dos picadeiros. A substância do circo está no ilusionismo, no malabarismo e no exibicionismo estrondoso dos palhaços – o que pode ser praticado em toda parte: nas salas ministeriais, no plenário das assembleias, no recinto dos tribunais, nas convenções partidárias, e principalmente nos estúdios de rádio e de TV. Nunca se viveu tanto, quanto hoje, ao sabor das artes circenses. O que é a publicidade política senão uma peça de ilusionismo? E o que não faz o contorcionismo de um candidato, interpelado numa coletiva com repórteres hábeis e irreverentes?. Já se aproxima a campanha eleitoral de 2026, quando então teremos a festiva repetição da pantomima, com vários salvadores da pátria prometendo-nos redenção econômica e social em quatro anos de mandato. A televisão permitiu a todos esses cavalheiros a invasão de nossa privacidade e a perturbação de nosso sossego. E o amor ao circo, que ora domina todo o circuito de comunicações, entregou-nos, atados, à exibição dos malabaristas da palavra, aos contorcionistas da razão e aos ilusionistas da promessa fácil. O circo não domina apenas a política. Ele invadiu as igrejas, onde a piedade discreta foi substituída pela devoção cantada, alardeada e carnavalesca. Ele alimenta os professores, que trocaram a dissertação pelo show. Ele empolga os intelectuais, que pouco resistem à ostentação vaidosa das entrevistas, dos painéis de demonstração e da patuscada dos festivais disto e daquilo. Há uma pândega exibição de profissionais, que usam e abusam dos veículos de comunicação para se promoverem. E tal qual os “peludos” do circo, que entram e saem a cada momento para instalar e recolher equipamentos, eles invadem o picadeiro repetidas vezes, a título de espalhar sua ciência e habilidades entre o público ignaro. Repetitivos e solícitos, eles servem ao repórter ou ao produtor preguiçoso, que não querem perder tempo com pesquisas, recebendo em troca a publicidade gratuita dos espaços do noticiário e da reportagem. A própria universidade não resiste à tentação do circo. Nas solenidades de diplomação, em contraste completo com a informalidade dos alunos, testemunhamos o ridículo das togas coloridas e dos longos balandraus, cuja solenidade não compensa o frequente despreparo dos titulados. 

Decididamente, na intitulada “era da comunicação”, o circo nos ameaça a todos. Já não há como resistir à condição de cidadão-palhaço. Já parece difícil reagir contra essa deturpação geral de coisas e pessoas, essa perda de autenticidade que nos transforma em espectadores ingênuos da ostentação alheia, em vítimas indefesas da propaganda enganosa, em crentes do discurso irracional. E, o que é pior, em coadjuvantes da pantomima.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:05/03/2025

A QUANTAS ANDAM AS FANTASIAS DE TODO DIA

Caros leitores(a), sou levado a um senso crítico toda vez que escrevo, a não ser quando homenageio alguém, por merecimento e não por puxasaquismo.

Gosto da alegria do carnaval, já brinquei, nos salões do Rio Negro, Ideal, Olímpico, Bancrevea, Cheik, Nacional, AABB( Associação do Banco do Brasil), bandas da Bica, Boca em Manaus, no Carnaval da Sapucaí na Mangueira, na União dos Moedeiros da Casa da Moeda e no Monte Líbano no Rio de Janeiro, e inclusive sou letrista de uma escola de samba de São Gonçalo, também no Rio, a Unidos do Porto da Pedra, bom como citado, brinquei muito o carnaval, hoje em dia não mais me apraz, principalmente pela degradação da folia e do espírito cultural da festa momesca. Mas esse introito, é para fazer comentário sobre a festa. Se fantasia é roupa colorida para alguns dias de desfile ou bailes dos grande (e pequenos) clubes, tudo bem. Mas a quantas andam as fantasias de todo dia? Como será que cada brasileiro está vivendo este momento social que fez tradição como um tempo de festa? De quantas máscaras se precisa hoje para fazer rolar bem o tempo real, um dia depois da quarta-feira de cinzas? As caricaturas de mulheres grávidas, freiras, donzelas e peruas muito produzidas seria mera repetição. Vamos conferir a criatividades dos modelitos nas ruas este ano! A turma do bloco é a mesma que faz parte da tribo para as festas e reuniões do ano inteiro, ou o carnaval é aquele tempo em que não se quer por perto as testemunhas oculares que poderiam depois queimar o filme com revelações nem sempre apropriadas? A mascara brasileira como elemento de linguagem cênica este ano, e com o seu lado humorístico, coloca  Bolsonaro, Lula, Alexandre de Moraes e Trump, como as mais usadas neste carnaval. A máscara brasileira é o jeitinho de pular a cerca no carnaval, mas no resto do tempo é a única arma disponível para sobreviver sem dançar, neste mar de corrupção que invadiu o país. Que sobreviva lindo o nosso carnaval com tudo o que tiver direito! E que caiam as mascaras dos que ainda teimam em permanecer no anonimato da teia de falcatruas. Encerro com estrofes da música “Vai Passar” de Chico Buarque.

Dormia

A nossa pátria-mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações

E um dia afinal

Tinham o direito a uma alegria fugaz

Uma ofegante epidemia

Que se chamava carnaval

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:28/02/2025

HORA DE DESOPRIMIR OS RECALQUES E REPELIR OS DISSABORES

Faltam oito dias para a festa considerada a maior do mundo em termos de folia. Pernas e bundas à mostra, fantasias coloridas, caras pintadas, época dos folguedos rasgados. Não há argumento, que se saiba, a opor-se à continuidade dessa quase meia semana de folia, a qual oferece enorme oportunidade de abertura para o desoprimir dos recalques, repelir os dissabores e afugentar as revoltas. Toda a indignação e insatisfações do dia-a-dia, no decorrer, dessa explosão de alegria, condiciona-se a uma reconciliação dos sentidos, graças à harmonia que a exteriorização dos sentimentos proporciona aos carnavalescos em seus vaivéns relaxados, não é de admirar então que a farra não deixe de tomar conta de todo mundo. Esbaldam-se cheios de animação nos desfiles de blocos de modo a contagiar a todos os presentes. No sentido coletivo, a preocupação desses conjuntos de roupagem uniforme, consistem em vencer as competições, organizadas formalmente, com ofertas de compensações aos participantes que se destacarem. O reinado de Momo é breve, mas pleno, liberal e liberado, democrático de suor e cerveja, de samba, cordões e afoxés e trios elétricos. Não sei onde tanta gente, nesta época de crise, acha dinheiro para comprar abadás, beber e comer. Também não sei onde tanta gente conserva tamanha energia para pular, rebolar e dançar, noite e dia no asfalto, freneticamente, incansavelmente, e em cima dos trios, mostrando corpos sensuais, com minúsculas roupas. E tudo no reinado de Momo. Um rei de grande corte, obeso às próprias custas, não cobra impostos de ninguém, não prende, não persegue, pouco tem de seu como criatura humana, porém no seu simbolismo é majestade que realmente abre a cidade a todos, grandes e pequenos, sem impostos e taxas, sem problemas e exigências, sem ameaças e imposições, para uma grande festa, que abrange todas as camadas sociais. Muita alegria aos que realmente precisam retirar das costas, pelo menos durante uma semana, a grande e imensa carga de preocupação, angústia, que carregam durante o ano inteiro. O povão no Carnaval esquece a espera de dias melhores que os políticos prometem e continuam a prometer, eles, políticos, mudando a toda hora de partido na ciranda de galho em galho, porque também na planície, onde há os menos favorecidos, é difícil viver. A válvula mesmo é o Carnaval. E como o povo é estoico, lá dentro do seu íntimo, um processo milagroso ou por instinto de conservação a alegria não fica adormecida. Uma multidão sofrida, nestes dias esquece todas as amarguras e preocupações, faz tremer o chão das ruas, praças e bandas. Mesmo sem acreditar em muitos políticos que vão às ruas, misturando-se com o povo, esquecidos que azeite e água não se misturam. No item carnavalesco comissão de frente, vemos agora a briga dos políticos para ver quem mais aparece cumprindo sua agenda de mostrar densidade aos eleitores neste ano político. O essencial é que estes brasileiros, os que fazem o Carnaval e também os que não ligam para o samba, têm potencial inquestionável para construir um país digno, justo e feliz.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:22/02/2025

FALTA SENSO CRÍTICO PARA UMA POPULAÇÃO MEDÍOCRE

Bombardeados por apelos visuais irresistíveis, crianças e adolescentes resistem cada vez mais à leitura e começam a ouvir péssimas músicas. O insinuado, o dedutível, o que vai além do literal banal, fica mergulhado nas sombras da incompreensão. Por conseguir detectar no texto apenas o pouco que já sabe, o leitor deixa de com ele aprender alguma coisa. Daí a leitura despontar como algo tedioso, uma sopa de palavras sem encanto e sem a dimensão de um espaço de reflexão capaz de ensejar uma fecunda interação entre o autor e o receptor. Se formos falar de referência também da música, aí é que a coisa pega. Se lembrarmos cantoras como Elis Regina, Maria Betânia, Carmem Miranda, Gal Costa, Ângela Maria, Nara Leão, Clara Nunes, Maysa, Beth Carvalho, Simone, Ana Carolina, Elza Soares, Dalva de Oliveira, Zizi Possi, Zélia Duncan, Maria Rita, Emilinha Borba, Isaurinha Garcia, pra ficar em apenas algumas, tínhamos letras e músicas maravilhosas. Mas aqui pra nós, colocar a cantora Anita como símbolo sexual do Brasil e chama-la para ser a cantora com mais capacidade para representar nosso país, passa da exploração sexual para a idiotização. Dizer que isso é letra de musica: Vai, malandra, an an Ê, tá louca, tu brincando com o bumbum An an, tutudum, an an Vai, malandra, an an Ê, tá louca, tu brincando com o bumbum An an, é brincar com a musica brasileira, jogando seus vômitos para uma população que não tem senso crítico, uma população medíocre que escuta estas baboseiras só porque todo mundo escuta, isso sem falar na letra da música no final do ano de 2024 em Copacabana, em que a venerada Anita, vocalizou as expressões sexuais impublicáveis. Chega disso! Vamos aprender a filtrar o que a gente escuta por aí e apreciar as músicas boas! Vamos deixar essa mediocridade apenas para os que insistem em ser medíocres! A sensibilidade artística é algo que está se tornando artigo do luxo no mundo de hoje. Por isso que estamos vivendo essa decadência da música. Quase todos só querem ouvir músicas internacionais. Não estou condenando as músicas internacionais, não é isso. Eu também escuto muitas. Estou questionando aqueles indivíduos medíocres que pensam que as únicas músicas boas são as internacionais. Eu fico muito triste ao ver tanta gente que não se abre para conhecer melhor as músicas nacionais. É uma pena. Essas pessoas estão deixando de apreciar uma beleza magnífica. 

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:15/02/2025

PROJETO DE FOME E PATERNIDADE

Poucas vozes, até por extravagância ou por ideologia burra de péssimo gosto se fizeram ouvir em oposição ao plano do presidente Lula de acabar com a fome no Brasil. Maioria delas, lembre-se de passagem, menos contra o mérito do projeto e sim quanto à forma de sua execução. Seu propósito, no geral, tem sido respeitado e louvado devidamente, ainda que para alguns seja considerado inexequível.

Fico no mérito. E torcendo, e até rezando a meu modo, para que ele resulte inteiramente exitoso. Nem poderia ser de outra forma. Tenho-o na conta de um projeto cujos objetivos transcendem em muito um simples programa de governo, uma motivação política estrito senso. Seus fundamentos são de natureza ética, moral, humana. De sentimento cristão, enfim, no mais amplo significado da expressão.

A propósito, me ocorre a lembrança de que sua divulgação e execução devessem ser acompanhadas de uma pregação que lhe daria ainda maior alcance e profundidade. Refiro-me a uma campanha que muito se relaciona com o propósito de extinguir com o flagelo da fome. Seu tema: paternidade responsável - assunto que lastimavelmente não foi sequer aflorado durante a última campanha eleitoral por nenhum dos candidatos à presidência da república e aos governos estaduais. Escrevi "paternidade responsável" e apenas isso deliberadamente. Cautelosamente, deixei ao largo até mesmo a expressão planejamento familiar, mais distante ainda qualquer referência ao que se pudesse interpretar como uma pregação a favor do controle da natalidade.

No caso, não importa o nome que se venha a dar ao assunto. O que interessa é seu conteúdo, sua relevância como fator gerador de pobreza, de miséria, de fome, enfim, para milhões de brasileiros gerados irresponsavelmente em número cada vez maior do que a capacidade de provê-los por aqueles que os puseram no mundo. Mais do que quaisquer palavras, do que os mais longos discursos a favor de uma larga pregação a favor da urgência de que o tema paternidade responsável seja devidamente considerado e transformado em realidade, falam as estatísticas que nos dão conta do número de crianças brasileiras que mendigam em nossas cidades e até mesmo nas estradas, em grande parte sendo usadas por seus pais como meios de arrecadação das esmolas para suprir a mais elementar das necessidades humanas, que é a fome.

Sobre o assunto, por hoje, fico nesta singela abordagem de duas calamidades nacionais que podem, devem e precisam ser enfrentadas conjuntamente: fome e paternidade irresponsável.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:08/02/2025

OS CULPADOS SOMOS TODOS NÓS

Entre crimes de pedofilia e corrupção, hoje em dia sendo o alvo de investigações, passando por homicídios e escândalos, a coletividade de forma involuntária apresenta um comportamento hipócrita, transferindo sempre para os outros a responsabilidade dos seus atos. Sempre a culpa é dos outros, o que está sendo feito de errado, nunca é admitido na primeira pessoa do singular. Condenamos aquele que praticam roubos, mas esquecemos propositalmente que existem os receptadores impunes, ás vezes perto de cada um de nós, que temos convívio amigável ou até íntimo. Condenamos os traficantes, mas esquecemos que eles traficam para o consumo da sociedade; O mesmo com aqueles que exercem ilegalmente determinados afazeres, como os curandeiros ou os falsos médicos, que agem assim porque a sociedade os consulta e até os idolatra; Dizemos que, habitualmente, governo tal ou qual é corrupto, esquecendo que o governante foi criado e eleito, cuidadosamente, pela sociedade; Condenamos os ambulantes pela pirataria e o contrabando que corrói a economia nacional, mas esquecemos que toda a sociedade é freguesa assídua do esquema; Assustamo-nos com a violência social em geral, quando é sabido que ela deveria ser coibida principalmente dentro da casa de cada indivíduo da sociedade, onde nasce e é cultivada. Mas fiquemos hoje com o caso da corrupção levando a crer pelas aparências que é o problema mais grave de nossa atualidade. É provável que assim seja, embora pessoalmente tenha minhas dúvidas a respeito. Mas estas não vêm ao caso e ao dia. Concordo, porém, que ele esteja parecendo um castigo que nos foi imposto pelo estado-maior do inferno. Do céu é que não poderia ter vindo. De seu chefe máximo, certamente, seria incrível que brotasse tamanha perversidade. Ou poderia?  Reconheçamos desde já que ela não constitui crime solteiro. Em sua esmagadora maioria é casada. Casada com sua excelência o corruptor, um senhor de muitos poderes, tantos que só excepcionalmente aparece no noticiário e menos ainda na relação dos punidos. Isso não implica afirmar que a desonestidade seja praticada apenas pelos abonados. E tanto é assim, que Sua Excelência a Presidente da República, em recentes declarações, fez esta denúncia: "O grande problema do Bolsa-Família era que não tínhamos um cadastro sério. (...) Sempre tem um picareta que quer cadastrar uma pessoa que não tem direito? Em matéria de corrupção e assemelhados, os casos são incontáveis. E não raro neles estamos envolvidos. Quando, por exemplo, concordamos em aceitar a oferta de pequenos descontos em nossos pagamentos mediante a dispensa de notas fiscais a quem nos vende algo ou nos presta algum serviço. Ou não é assim? E assim por diante, em uma infinidade de exemplos. Não me restam dúvidas, pois, de que o problema maior da humanidade são as pessoas, em uma sociedade que se oculta. Só que elas ainda não sabem, ou fingem que não sabem.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:01/02/2025

A TOGA TEM QUE SER HONRADA

No momento em que o sério competente e honrado, amigo desembargador Jomar Fernandes, assume a Presidência do Tribunal de Justiça, escrevo o presente artigo como um desagravo aos bons e repúdio aos que vituperam a justiça. Tenho filhos advogados, irmãos procuradores, e vários amigos juízes, desembargadores, promotores, procuradores e advogados. Fico constrangido quando sei de notícias envolvendo qualquer um desses ou dentro da categoria, versando sobre corrupção. Em sua grande maioria, temos um Tribunal de Justiça, do Trabalho e de Contas, com juízes e conselheiros sérios e dedicados ao poder judicante. O ingresso na magistratura, decorrente de complexos e sérios concursos públicos de provas e títulos, exige um perfil de ilibada conduta, notável saber jurídico, como prova o último concurso realizado em Manaus, onde pouquíssimos candidatos passaram para outra fase. E a maioria dos magistrados assim se revela: íntegro, justo, trabalhador. No entanto, de uns tempos para cá, notícias demonstram desvio de comportamento de alguns juízes, bem como de promotores de Justiça, procuradores, abalando a confiança de instituições que sempre foram exemplo de dignidade e respeito por parte do cidadão. Fatos evidenciam a postura marginal de um desembargador que faz parte de uma quadrilha; outro juiz, é acusado de vender sentenças, e que só sai algum despacho de seu gabinete mediante uma determinada quantia. É certo que juízes não são anjos, são seres humanos, falíveis, e a prática do ato criminoso lhes rende ensejo à responsabilidade civil, administrativa e penal, com mais rigor do que a outro indivíduo. Não é esse o fato, porém. O que causa perplexidade é a crise de credibilidade e ética que enodoa essa milenar profissão. Além de crimes comuns, sabe-se de vendas de sentença, favorecimento de partes, parcialidade nos julgamentos, tráfico de influência, recebimento de propinas, morosidade proposital, desídia, concessão indiscriminada de liminares, nepotismo, abuso de poder, uma total quebra de finalidade na administração da coisa pública. Esses juízes que se corrompem se distanciam da sensibilidade social e do respeito ao direito, desonrando a toga que os faz sacerdotes da Justiça. Na verdade, a crise não é do Judiciário, mas das pessoas, crise de caráter, de valores, do esgarçamento do tecido social. O Judiciário é, de longe, o menos corrupto dos poderes; então, urge resgatar a figura íntegra do juiz, sabendo que o brilho da inteligência nada vale sem o envoltório da honra, da ética e da justiça, sem prepotência e sem arrogância, para que volte a ser o que tem que ser: homem de letras e de espírito, e antes de tudo, homem moral. Não podemos perder a capacidade de indignação com os que maculam a imagem idônea da magistratura, recuperando-lhe a integridade moral e intelectual, salvaguardando as instituições e preservando o estado democrático de direito. Aproveito para publicamente também parabenizar meu amigo Jorge Álvaro Marques Guedes, assumindo como Presidente do Tribunal do Trabalho.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:25/01/2025

ECLIPSARAM-SE ALGUNS HOMENS PÚBLICOS

Noticiado que o novo Prefeito de Envira no Amazonas, encontrou o patrimônio público totalmente dilapidado. O Prefeito anterior Paulo Ruan Portela Mattos, é denunciado pelo Ministério Público, de ter usado indevidamente valores destinados a cestas básicas, dentre outras acusações. O mesmo acontece em Boca do Acre e Labrea, onde os recursos humanos na área de educação e saúde, foram todos exonerados pela administração anterior, causando caos administrativo, sem falar no município de Borba, em situação deixada pelo ex-prefeito, em estado deplorável, hospital e outros imóveis. Imagine-se que a totalidade dos novos edis aceite o trato com o antecessor, para responder por suas dívidas, pequenas ou grandes, não importa. Aí, será o caso de indagar em que país estamos, no qual uma manobra sibilina de bastidores tem a força e o poder de anular legislação elaborada e sancionada por quem de direito. 

O competente e atuante Tribunal de Contas, ao qual incumbe a defesa do direito público instituído, não tem outro caminho para as altas autoridades do Executivo, senão endurecer os pertinentes dispositivos ultrapassados da Lei, ou omitirem-se por completo, deixando que se faça tábula rasa dos saudáveis dispositivos legais contornados pela manobra. sibilina de bastidores, o que não acreditamos. A posição da cidadania que, de certa maneira frustrada, acompanha pela Imprensa o desenrolar dos fatos aqui mencionados, é de expectativa. Mas isso não é um caso isolado, outros mandatários que não fizeram seu sucessor, também são alvos do MP. É esperar que órgãos e entidades encarregados de fiscalizar o cumprimento e eventual descumprimento da lei se manifestem na defesa, é claro, da plena vigência das normas que atestam a existência entre nós, do Estado de Direito com todas as respectivas implicações. Necessário verificar, e verificar a fundo.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:18/01/2025

POLÍTICOS ABRIGADOS SOBRE O    ANONIMATO

Se os políticos praticassem individualmente contra seus eleitores os desaforos e as fraudes que lhes infligem coletivamente, certamente seriam hoje uma espécie extinta, pois de um ou de outro já teriam recebido o troco que merecem. Mas eles agem coletivamente. Quer dizer, ocultamente. Ocultos pelo anonimato, protegidos pela abstração das instituições: O Estado, O Fisco, A Câmara, O Congresso, A Prefeitura, O Judiciário. Abrigados sob o anonimato dessas pomposas, temíveis e inefáveis estruturas convencionais e abstratas, não há como identificá-los, individualizá-los, personalizá-los, nomeá-los, vê-los, botar as mãos em cima deles. Embora por baixo ou por cima dessas instituições o que se acha são indivíduos em iguais aos seus eleitores – salvo nos privilégios e imunidades que se auto outorgam. Entretanto, só eles se conhecem, se identificam, se personalizam. Só eles estão inteirados de suas vantagens e falcatruas. Investidos de seu mandato, de seus privilégios e de suas imunidades, não há como o eleitorado, e muito menos o eleitor, individual, alcançá-los. A ficção democrática os investe da soberania: eles são “os representantes do povo”, sua voz, seu desejo, seu poder. A ideologia democrática diz que eles são o poder maior, absoluto, incontestável. Acima do povo ou contra ele, que poder maior pode se impor? São eles que fazem as leis, são eles que estruturam a Justiça e comandam a Polícia, os fiscais, e todos os demais aparelhos legais de coerção e repressão. Sem dúvida, a Ética, o Direito, a Constituição, se acham acima deles. Na prática, os instrumentos de operação social desses valores são imponderáveis e impotentes. Existe, inegavelmente, uma Opinião que exprime o pensamento, os sentimentos e o desejo da maioria. Existem a Mídia, os Tribunais de Contas, os Ministérios e Promotorias públicos. Mas sabe-se bem o limite de ação prática desses instrumentos e a que ponto a política e o Estado os controla e manipula.

Assim, o único corretivo contra as deformidades, abusos e degenerações da Política está nas mãos dos próprios políticos. E nada existe mais poderoso, mais salutar e mais produtivo para a melhoria dos costumes políticos do que as brigas de família entre eles. Só eles conhecem seus próprios podres e suas próprias fraquezas e só eles têm o poder de corrigi-los. Daí a salubridade das comissões de inquérito. Daí, também, a prontidão com que eles tratam de encerrá-las o quanto antes e minimizar seus efeitos. Hodi mihi, cras tibi. Embora a maioria dos políticos ignore o latim, nenhum deles desconhece esse ditado: Hoje eu, amanhã você. E, como todos têm os rabos trançados no mesmo rolo de minhocas, nenhuma Máfia observa com maior escrúpulo e temor a regra da Omertà – o silêncio da cumplicidade que a ameaça da retribuição assegura. Hoje se denomina de corporativismo a esse espírito de defesa grupal. As corporações eram instituições de ofício medievais. Mas a coisa é mais antiga e mais profunda do que isso. Os etnólogos a conheciam por tribalismo e os zoólogos por instinto grupal. Em nenhum grupo humano esse instinto é mais forte do que na manada política. A razão é simples. Zoologicamente eles pertencem à variedade animal dos predadores e, se nesse tipo de bicho não predominar o instinto grupal, sua sobrevivência estará ameaçada. É por isso que lobo não come lobo e os leões vivem em paz entre si. Piranha também não come piranha. Salvo se uma delas for sangrada. Na política, o processo de criar bodes expiatórios é um sistema de preservar a tribo e o próprio bode. Mesmo depois de mortos eles voltam como heroicos ectoplasmas para retomar seu lugar no cocho. Não vão os pundonoros e os pudibundos políticos brasileiros, considerar ofensivas as palavras deste artigo. Elas são inferiores em contundência à gravidade dos fatos que praticam contra seus eleitores e representados. Teríamos melhor segurança, melhor educação, melhor saúde se os milhões por eles embolsados chegassem ao destino para os quais os pagamos. Pois o problema não é o de “quanto” se arrecada, mas o de como se “gasta”. Sem os furtos políticos do último quarto de século, este já seria um país do Primeiro Mundo.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:11/01/2025

CAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO

Começo de ano e volto ao meu olhar crítico. Chega a ser curioso o comportamento de parcela do povo brasileiro. É possível observar uma massa enfurecida de torcedores quando descobrem que houve algum erro grosseiro de um juiz em uma partida de futebol, com violento protesto destes torcedores, protestos, que muitas vezes, extrapolam os limites físicos do estádio, (o que não deixa de ser uma forma de protesto). Não obstante, este mesmo povo, capaz de protestar violentamente em defesa de seu time de futebol, é incapaz, de se indignar, ou pelo menos, manifestar sua indignação, diante da enxurrada de escândalos envolvendo o mau uso do dinheiro público por seus representantes. Agora, mais desconcertante ainda, é o fato de saber que pessoas esclarecidas, geralmente com ensino superior (médicos, dentistas, contadores, advogados, professores, administradores, fisioterapeutas, etc.), também se tornaram pessoas apolitizadas (ignorantes, politicamente), incapazes de manifestar sua indignação. É muito grave quando pessoas simples perdem o poder de indignação, porém, é perturbadoramente arriscado, que a classe intelectual também perca este poder, pois, representa grande risco para o estado democrático de direito. A referência que nossos filhos e netos conseguem enxergar é que para ficar rico ou crescer profissionalmente, não precisa estudar nem trabalhar, é só ganhar na loteria, ser jogador de futebol ou entrar na política. Não era segredo para ninguém minimamente informado, que o Congresso Nacional era um circo, onde alguns palhaços "brincam" de fazer política, enquanto exercitam suas inesgotáveis habilidades de desenvolver truques no picadeiro, entretanto, tal como bem gostam os brasileiros, mantinha-se ao menos uma aparência de seriedade. Agora, fica evidenciado que esses sujeitos resolveram deixar claro que não estão nem aí para a opinião pública, partindo para a comprovação explícita de que são uns aproveitadores, os deputados "brincam de trabalhar", não passam de "massa falida", usadas exclusivamente para, através de um cínico jogo de faz de conta, justificar os nababescos salários que recebem e as indignas mordomias que usufruem. Colocar valores como colocaram para Fundo partidário de cinco bilhões, é no mínimo aviltante. E continua a falta de indignação, agora com o aval da imprensa, registrando com suas lentes nos picadeiros, ofensas morais, agressividades físicas, provocações e alfinetadas. E pelo povo ecoa o silêncio das gargantas. É certo, que razoável parte dos “cidadãos” brasileiros não apresenta, infelizmente, condição de manifestar opinião ou exigir comportamento adverso dos seus representantes por absoluta falta de ensino de qualidade. Um ensino capaz de tornar parcela considerável da população, seres pensantes, verdadeiros cidadãos que tenham condição de fiscalizar e exigir condutas éticas dos que elegeram. Ano de eleição, e a capacidade de indignação não é só no legislativo, temos que voltar os olhos para o Executivo, fundamentalmente, em Prefeitos e vereadores. Indigne-se.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/01/2025

TEMPO DE CONCÓRDIA 

Novamente quedo-me a esta quadra privilegiada do ano. Fase de aliviar a tristeza, dar trégua à amargura, tolerar o erro, conviver com a fraqueza, sepultar o ressentimento e, especialmente, avivar expectativas por mais tênues que sejam. Instante de aceitar, aproximar, perdoar, esquecer os agravos, renovar as esperanças. Esperanças que se anunciam como possibilidades de superação dos problemas e probabilidades de concretização de planos, projetos, desejos e sonhos. Tudo isto porque de esperança vive o homem, que nela busca amenizar a aridez do cotidiano e espera a realização de incontáveis probabilidades. Daí o interesse de mantê-las sempre vivas, mesmo diante da perspectiva de um possível fracasso, pois são elas que sustentam o ânimo, contribuindo para a vitória sobre o desencanto.

Tempo de novo Ano é tempo de concórdia, em que as divergências tendem a ser superadas e o homem, submetido às celebrações do momento, sente a necessidade de irmanar-se, confraternizar-se e acolher o próximo. É tempo de ter fé e de acreditar na capacidade de o homem transformar o mundo, mediante a prática do amor e da solidariedade, promovendo, ademais, o abrolhar do sentimento que a todos irmana – a fraternidade. Temos que pensar (e é isso que faço sempre) que existem coisas pequenas e grandes coisas que levaremos para o resto de nossas vidas. Talvez sejam poucas, quem sabe sejam muitas. Depende de cada um, depende da vida que cada um de nós levou. Levaremos lembranças, coisas que sempre serão inesquecíveis para nós, coisas que nos marcarão, que mexerão com a nossa existência.

Provavelmente, iremos pela vida afora colecionando essas coisas, colocando em ordem de grandeza cada detalhe que nos foi importante, cada momento que interferiu nos nossos dias e que deixou marcas. Poderá ser uma música, quem sabe um livro, talvez uma poesia, uma carta, um Natal, uma viagem, uma frase que alguém tenha nos dito num momento certo. Quem sabe uma amizade incomparável, um sol que foi alcançado após muita luta, algo que deixou de existir por puro fracasso. Pode ser simplesmente um instante, um olhar, um sorriso, um perfume, um beijo. Para o resto de nossas vidas levaremos pessoas e até animais (como minha cadela Mona) guardadas dentro de nós. Umas porque nos dedicaram um carinho enorme, outras porque foram o objetivo de nosso amor, outras ainda, por terem nos magoado profundamente. Lá na frente é que poderemos realmente saber a qualidade de vida que tivemos. Bem lá na frente é que poderemos avaliar do que exatamente foi feita a nossa vida, se de amor ou de rancor, se de alegrias ou tristezas, se de vitórias ou derrotas, se de ilusões ou de realidades. Penso sempre que hoje, apesar de entardecer a vida é só o começo de tudo, que se houver algo errado ainda está em tempo de ser mudado e que o resto da vida, de certa forma, ainda está em minha mão. Nesta época ficamos mais emotivos, mais humanos, porque o ano que se avizinha

 é promessa de esperança e símbolo de renascimento. Ninguém é capaz de esquecer, como disseram alguns sábios, que o Sermão da Montanha resume um código que, se observado ao pé da letra, seria bastante para estabelecer a concórdia entre todos. Que este Ano Novo seja um convite a reconciliação e uma luz capaz de superar as trevas que surgem no horizonte, e ainda, que este ano seja uma prece para apaziguar os irmãos separados, tirar o ódio dos corações e realizar a paz que Ele nos prometeu.

Um 2025 venturoso para todos.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:28/12/2024

O NATAL NÃO MUDA, QUEM MUDA SOMOS TODOS NÓS

Pronto, amanhã é dia de Natal, ele abriu a soleira da porta. É de franquear-lhe a entrada, abrir-lhe os braços, largo sorriso aos lábios, oferecendo-lhe a casa, os moradores e tudo o mais que de seu espírito se impregna. Afinal quem garante que esse não é nosso último Natal? É hora de resgatar tempos longínquos, vultos e sombras abrigados no passado com ares muito distantes. O Natal é a expressão de sentimento geral de paz e de felicidade coletiva. Esquece-se o passado de magoas para construir o futuro de alegria e compreensão. A esperança sobrepuja a angústia. O gosto de viver afasta obstáculos, para que a estrada limpa abra ensejo a nova caminhada. Nessa travessia, há sempre confiança na renovação do destino, ou na descoberta de meios para fazê-lo menos ingrato. Mesmo diante de injustiças e maldades, o indivíduo acredita no aperfeiçoamento do caráter humano. Mas Natal deveria ser todo dia, pela graça de que as reconciliações mais imagináveis, as retratações mais impossíveis aconteçam. Podemos fazer o impossível com que é possível hoje. Perdão não é perda. Se aguardamos tanto o dia de Natal por que retardamos tanto a virada de atitude? As pequenas, as banais, as do cotidiano. Estar sempre renascendo para diversas experiências nos exige muito mais do que viver como gôndola de supermercado: cada coisinha no seu lugar, cada hora para cada coisinha. Uma data é só uma data vazia se não entramos fundo no seu significado. O Natal não muda, quem muda é a gente. O trio consagrado, o Menino, Nossa Senhora e São José são sempre os mesmos. O Natal abre uma boa oportunidade para a reflexão sendo o momento adequado para as pessoas no que podem influir, como interferir, como contribuir para a construção de uma vida com mais dignidade. Remete á lembrança de bons exemplos, a mensagens de amor e fraternidade. A realidade torna difícil ter disposição e crença de que o mundo pode ser mudado. Abre a oportunidade para deixar de lado o desânimo, para acreditar que é possível mudar. Mas o Natal também desnuda a pobreza, desaponta algumas crianças, que apenas assistem de longe o desfile dos sofisticados brinquedos e jogos eletrônicos, de controle remoto dos meninos ricos, as bonecas que falam, choram, conversam, andam, batem palmas. É também um espetáculo triste se observando o desapontamento em seus rostinhos sombrios e esquálidos. Na melancolia também da noite de Natal, figura um elemento sensível: os mortos. Nossa festa de amor é costurada de ausências.

O ano nos deixou mais velhos, mais despidos de ilusões, embora mais experientes. Tudo isso se passa dentro de nós, que aparentamos aspecto festivo e não queremos dar aos nossos amigos e parentes uma impressão incômoda. Esta mentira suave impõe-se como verdade. E funciona como verdade. A noite de Natal não dá para reduzi-la em horizontes materiais, mas há como resguardá-la na sua dimensão espiritual. Feliz Natal a todos.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:24/12/2024

FLÁVIO LAURIA

CARTA A PAPAI NOEL​​

Meu caro Papai Noel, sei que na próxima semana você estará trabalhando muito. Vai distribuir presentes com a meninada, vai reacender a memória dos que se lembram de uma ilusão muito antiga, vai ser o símbolo da fraternidade universal, vai, enfim, agasalhar com sua bondade, o coração frio dos homens. Vai atender os apelos de ternura, de carinho, de compreensão, de amor que só personagens como você podem espalhar. Não deixe que o coração dos homens se deixe levar pelo ódio e pelo rancor. Que façam da ira sua arma e da violência razão para extravasar sua maldade. Papai Noel, se com jeito, pode abrandar a mente dos jovens violentos que se andam matando uns aos outros, fazendo-nos descrer de um futuro feliz para a nossa Pátria, veja se consegue incutir, na consciência de cada um, os valores superiores da vida. Compreensão, Paz, Amor têm que tomar lugar em seus corações. O sentido de família há de florescer mais, unindo pais e filhos, irmãos e irmãs, amigos entre si para que o mundo se acalme e se torne uma bola de mel em vez de uma bola de fogo. Olhemos em torno de nós e vejamos como estamos desprotegidos. Nem a Religião, nem a Família, nem os poderes constituídos estão aplainando nossos caminhos. Onde está aquela passarela vermelha, aveludada, que é feita para abrandar a nossa caminhada. Quem a levou de nossa estrada? Quem semeou de espinhos e de pedras pontiagudas nossa trilha? Quem nos tirou o pão e a prata? Quem é responsável pela aspereza de nossas vidas? Sei que você, Papai Noel, sabe de tudo. E é por isso que lhe peço uma atenção dobrada para o nosso país. Como é triste ver homens escolhidos e votados por nós, inverterem suas ações, descumprirem o prometido, abandonarem a meta ante o menor chute dado na direção do gol. Como se desbotam os valores humanos, réus confessos de suas fraquezas de caráter, coniventes entre si com o roubo, o desvio, o Caixa dois e todas as falcatruas que se tornaram íntimas dos que teriam por obrigação se tornar estandartes da honestidade, da lisura, da correção? Veja se pode fazer alguma coisa por nós, os mais velhos, que aprendemos a ser honestos quando crianças e não temos mais onde aplicar essa honestidade, ante a carência de ambientes, de pessoas confiáveis e de moral ilibada. Faça-nos voltar a crer em nós mesmos, readquirir a autoestima perdida, olhar para a frente com os olhos brilhantes de quem vê a felicidade. Faça-nos donos de uma força movida a esperança, de uma crença que abata tudo que seja fruto do mal, do ódio e do crime. Não me sinto destituído do que possa fazer de meu resto de vida um lago de felicidade. Mas ando meio desencantado ao ver supostos homens enlameados pela ganância e pela tentação, entidades e setores da vida pública, transformados em currais ou pocilgas. Desculpe, Papai Noel. Esta linguagem é dura, mas é verdadeira. É que temo pelo nosso futuro. Nossa esperança é você, que vê a vida com outros olhos. Os olhos da candura, do perdão, da alvura da alma e da neve. Papai Noel: se me atender, estará indo ao encontro do desejo de muita gente que está precisando desse consolo. A benção, meu velho.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:21/12/2024

AS ILUSÕES DE TODOS NÓS

Semana que vem é Natal.  Recordações do passado. Lembranças machucadas, que de tão revividas precisam ser passadas a ferro a fim de que readquiram a suavidade, a serenidade, a lisura das reminiscências da infância.

No ombro, a memória do ontem. O futuro, região insondável, assusta.

Quem está em paz com a sua consciência, está em paz com o mundo?. Seria o mundo exterior com as suas guerras, a ambição humana, a miséria e a fome, a injustiça social, a opressão, o pânico? Ou seria um outro mundo? Por exemplo, o mundo mais profundo, o mundo misterioso, o mundo oculto e ocultado, o mundo secreto, reservado e possivelmente preservado, o delicado mundo do próprio poeta? O mundo encantado onde ele teceu e viveu a sua fantasia maior, na intimidade e no amor do homem simples e de imensa sensibilidade?

Aquele mundo exterior está em toda parte, em toda cidade, em todo bairro. Na inquietação de muitas famílias, na marginalização crescente, na degradação da sociedade, no desaparecimento de valores éticos, na autodestruição de seres humanos pela droga e violência de toda ordem. Um mundo mau, crescendo, apavorando e apavorado. Como se fosse o prenúncio do Apocalipse. Tenho dentro de mim uma intranquilidade que não aparento. Uma pressa de chegar a qualquer lugar e a lugar nenhum, que não há um só lugar marcado na minha agenda. Sei apenas que sinto uma espécie de chama de vela a me queimar o espírito, a nunca me deixar em plena serenidade. Não sei explicar este porquê, mas tenho certeza que a minha consciência não me acusa, não me leva a tremer de remorso.

Este desassossego é decorrente do meu temperamento. De um temperamento nem sempre fácil de entender. E mais difícil ainda de explicar. Se cheguei a idade que cheguei, carregando honesta e sofridamente o meu fardo, já seria tempo de aquietar-me. De dar adeus a qualquer trepidação. E viver para meditação. Ainda que não exclusivamente para a prece e para a crença, mas para experimentar das minhas raízes o sabor dos frutos da árvore que sou. Árvore que apesar da terra nem sempre fértil e dadivosa onde foi plantada não se fez coberta de espinhos e totalmente destituída de sombra. Se eu não tivesse dentro de mim essa pressa de chegar não sei aonde, sem destino marcado, sem porto no caminho e sem parada na escala, é provável que eu pudesse serenar intimamente. Ler, não os livros técnicos que têm a frieza dos laboratórios, mas dos profetas que falam a linguagem da poesia, ou mesmo quando não cantam as flores e o nascimento. Conhecendo a sapiência dos santos e dos personagens bíblicos, tentar reduzir a apreensão do meu próprio mundo e aguardar com perseverança tranquila, os sonhos sentidos e vividos num coração que ainda não perdeu a capacidade de crer no que virá. Coisas que sinto nesta época.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:14/12/2024

NATAL: A INVERSÃO DE VALORES

Lembrei-me esta semana de um poema de Carlos Drummond de Andrade que pergunta "O que fizeram do Natal". E no terceiro verso ele assinala que o Natal brasileiro "não tem neves, não tem gelos": uma crítica às decorações natalinas de nossas lojas, sempre inclinadas a copiar realidades estrangeiras. Nosso Natal ocorre em pleno verão, não se justificando o uso de algodão para imitar uma neve que somente aparece em algumas cidades sulinas.

Trata-se de lamentável subserviência a povos boreais. O próprio Papai Noel veste roupa grossa, própria para um frio desconhecido em regiões tropicais. Os shopings do Brasil não deveriam exibir uma decoração com falsas neves: somente uma bela Árvore de Natal e um grande presépio com um Menino Jesus de barro, deitado sobre palhas naturais. Assim é que um povo que se diz cristão deve comemorar o nascimento de nosso Salvador. Não é justo substituir o presépio - feliz invenção de São Francisco de Assis – pela alegoria de algodão. A própria palavra Natal refere-se ao nascimento de um menino.

Como Carlos Drummond de Andrade, sempre me desapontei com tão absurda inversão de valores: a da maior festa da cristandade transformada anualmente em diversões profanas e dela se apropriando o comércio, com sua habitual cupidez, para aumentar os preços e estimular o consumismo. Triste destino de um mundo descristianizado!
Em 23 de dezembro - dois dias antes do Natal de 1956 - Carlos Drummond de Andrade voltou a protestar de modo ainda mais incisivo contra a industrialização do Natal.
O poema "Conversa informal com o Menino" - escrito exatamente naquela data e publicado no livro de 1967 Versiprosa - tem um frêmito religioso evidente em estrofes como esta: "Perdoa, Infante, a vaidade, / a fraqueza, o mau costume / tão geral: / fazer da Natividade / um pretexto, não um lume / celestial".

Reconhecemos que não é fácil acabar com o consumismo que faz do Natal um pretexto para beneficiar o comércio e substituir o presépio pela figura mítica do velho de barbas brancas e roupa de inverno. Mas, como professor que fui a vida inteira, acredito na educação e convido os educadores a gritar comigo, que já é hora de fazermos um Natal mais consentâneo com nossa realidade, porque não colocar na mesa de Natal, pupunha, tucumã, cupuaçu, araçá-boi, jenipapo, mari-mari, ao invés de damasco, nozes e figos?

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:11/12/2024

AME E DIGA QUE AMA

No mês de dezembro, e especialmente perto do Natal ao escrever meus artigos, fico mais vulnerável, mais suscetivel, na exteriorização de sentimentos. Fica claro que o período natalino traz consigo um movimento de confraternização que, mesmo superficial e mercantilizado em tantos casos, contém elementos de nossa busca permanente daquilo que mais deixa felizes os humanos: o amor, e quando ele existe seu conteúdo já é manifesto. Não se deve preocupar mais com ele e suas definições. Entretanto, se formos apreciar com cuidado o mundo que nos cerca, é evidente que são enormes as carências de afeto. Pensando na maneira como se dá ênfase a situações que chamamos de déficit - déficit público, déficit fiscal, déficit comercial, etc. -, julgo que somos vítimas de um déficit ainda mais sério, o déficit do amor (paralelamente a um inegável déficit ecológico, provocado por extrairmos cada vez mais recursos da natureza sem permitir que eles se reconstituam saudavelmente). Minha constatação parte de um fato corriqueiro: embora gostemos da sensação do amor e das manifestações a ele associadas, não deixamos que jorre abundantemente de nós para aqueles com quem convivemos demonstrações claras, categóricas, de que os amamos. Na verdade, hesitamos muito em dizer a alguém “eu te amo”. Hesitamos e refreamos o ímpeto, para não demonstrar fraqueza, para não criar expectativas inconsistentes. Entretanto, se alguém nos diz “eu te amo” (de verdade), a sensação é agradável e enternecedora. Conheço um casal que se amou a vida inteira por mais de quarenta anos de um casamento feliz que gerou filhos. Para minha surpresa, recentemente, a viúva me confessou que nunca o marido lhe declarara que a amava. Não foi preciso para que o amor aí se solidificasse que a expressão “eu te amo” fosse pronunciada alguma vez; mas o desejo de ouvi-la esteve sempre presente na viúva, que hoje se entristece por nunca lhe ter sido proporcionada tal oportunidade. Certamente, essa não será uma exceção. Sou a favor de que, sempre digamos “eu te amo”. Não custa nada. Dizer, é óbvio, sem significado de verdade, não corresponde à melhor alternativa. Muito menos, fazê-lo ironicamente. Todavia, as expressões de conteúdo afetuoso produzem sempre bons efeitos, e existem formas inesgotáveis de dizer “eu te amo”, porque o amor, é um sentimento livre. Amar deve ser ação, e não verbo; mas num mundo indigente de amor, a própria presença deste no discurso pode ajudar a nos despertar para sua realidade. Para mim, essa guerra atual, supostamente contra o terrorismo, mas efetivamente representando brutal agressão a todo um povo, tem muito mais de conteúdo de dor do que de necessidade. A felicidade humana será promovida, com o combate ao déficit do amor. Disso, na hora de sua morte, apercebeu-se o beattle George Harrison, ao pedir: “Procurem Deus. Amem-se entre vocês”. Foram suas derradeiras palavras. Que sejam também as nossas a partir de agora. Ame e diga que amo, sinceramente é claro.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:07/12/2024

AFETO

FLÁVIO LAURIA

Piegas não, sentimentalista incorrigível, sim. A meus amigos mais próximos, tenho confidenciado o quanto deixamos de externar afetos em razão de isolamentos imbecis a que nos deixamos ser levados. Particularmente, perdi muitos amigos e amigas na pandemia, e deixei de abraçar alguns, por achar que nos encontraríamos sempre na próxima semana.

Nossas preocupações discursivas têm se voltado para a condição de mal-estar em que se vive nos dias atuais. De certo modo, estamos contagiados pela agonia coletiva da Humanidade e falar disso é uma tentativa de pensá-la, preveni-la, atenuá-la. Talvez devamos começar a pensar também em caminhos que possibilitem algumas saídas desse círculo vicioso do sofrimento, da violência, dos crimes, das corrupções e dos abusos de drogas. As vezes com o intuito de prevenir responsabilidades, acaba-se por monetizar as relações afetivas. São múltiplas as possibilidades de se tornar a vida mais humanizada, mais calorosa, mais significativa. Resgatar em nós a afetividade é uma dessas possibilidades construtivas. Se por um lado, a agressividade é parte integrante de nossa personalidade, por outro, dar e receber afeto são também marcas do humano. No burburinho da vida cotidiana nutrimos a desculpa da pressa, e a impressão que fica é a de que o afeto vem sendo cada vez mais inibido em suas expressões, vem perdendo espaço em nossa vida, e até sendo maltratado com conotações de "coisa de menor importância". Em consequência, deixamos largo espaço para as manifestações de violência na experiência humana. Passamos a nos defender do outro ao invés de amá-lo. Que descuidados fomos em relação a isso? Que imperativos da cultura transtornaram nosso modo de estar no Mundo e em relação com o outro? O afeto é o sentimento pelo qual tornamos o outro especial para nós, e pelo qual nos tornamos especiais para ele. Como fomos desaprendendo essa fórmula, passamos a banalizá-lo, fazê-lo pouco importante em nossa vida. Esse descaso, esse desafeto, não será uma das razões do modo violento como se vive hoje? O outro, este ser que nos faz parceria no planeta Terra, não é um estranho simplesmente. Por sua própria humanidade ele é um semelhante, um igual a nós. Teríamos de converter nosso olhar sobre ele para que a harmonia e o afeto possam encontrar espaço entre nós. O modo como o olhamos, produz vínculos ou afastamentos. Um olhar é como um discurso. Comunica sempre. Diz, revela, condena, perdoa, acaricia ou pune. Pelo olhar, janelas da alma, escutam sua dor, sua alegria, sua inquietação, sua solidão, seu prazer. Um "civilizado perguntou a um índio por que eles andam nus. Ele respondeu-lhe; índio é todo rosto. Grande resposta. Pelo visto ele sabe a força do olhar. Na mostra banalizada dos corpos em nossa cultura, esquecemos que é pelo rosto que nos encontramos com o outro, que é pelo olhar que nasce o afeto. O deslocamento de nosso olhar para regiões "siliconadas", como lócus de prazer, nos afasta do sentido humano de ver o homem todo. O afeto é um sentimento simples onde se acolhe o outro em sua inteireza, do jeito que ele é. Desenvolver este tipo de sentimento faz bem a quem o dá e a quem o recebe. Da infância até a morte, o afeto é vital, e dá sustentação e sentido ao nosso conviver. Nas parcerias, há uma tendência a garantir a posse do outro, como se ele fosse um troféu, e não uma pessoa com quem se partilha afeto. Os "machões" dizem que afeto é coisa de mulher, ou de gente frágil. Talvez se privem do afeto em seu endurecimento, mas por fraqueza, por medo de fazer vínculos, de gostar de alguém. É mais fácil usar as pessoas. "A doçura, diz Sponville, é uma coragem sem violência, uma força sem dureza, um amor sem cólera". Penso assim também o afeto, como uma força tranquila parecida com o amor. Os dias atuais clamam por mais afeto e menos violência. É preciso ensaiar de novo o amor, resgatar a afetividade, para que possamos ver os tons do arco-íris, o som da chuva, a poética da lua, a vida nos olhos do outro, a generosidade da flor que se abriu, a dor do irmão que sofre, a carência do filho que chora. Precisamos reaprender o exercício de pequenas expressões civilizadas e afetivas. Desarmar nossa internalidade e não ter vergonha de ser afetivo. Sinto saudade dos abraços que não dei, dos afetos que não troquei, dos gestos que não foram feitos, dos afagos que economizei. A vida tem pressa e ontem já se foi. Repito apesar de ser enfadonho, mesmo sendo um mote meu, “A vida é um sopro”. Acho que já estou sendo tomado pelo espírito natalino.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/12/2024

SENTIMENTOS SOLIDÁRIOS

Nessa época de aproximação do Natal, ficamos mais leves mais profundos, e isso me faz sair do olhar crítico que sempre o faço em meus artigos para escrever sobre o sentimento que nos invade.

Os ambientes são coloridos de flores e pisca-piscas. Fogos de artifício, dos mais variados, enchem os céus de glória. Tudo canta de alegria! O exterior parece traduzir uma linguagem interna de bons desejos. Os profetas, porém, alertam, como Frei Beto “Talvez seja no Natal que nossas carências ficam mais expostas. Damos presentes sem nos dar, recebemos sem acolher, brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, damos à mercadoria um valor que nem sempre reconhecemos nas pessoas”. É preciso celebrar não apenas o 25 de Dezembro, mas o Natal do Senhor. Por isso, não tem sentido colocar o presépio no local de convívio, se não há um ambiente acolhedor, uma família construída. Terá valor a árvore natalina, armada de enfeites, luzes e bolas de Natal, sem o ser humano ser revestido de sua dignidade? Que significado terá o banquete natalino sem preocupação com a campanha do Natal sem Fome para uma justa ceia dos 50 milhões de famintos brasileiros? De que adianta afigura ilustrativa do Papai Noel trazendo brinquedos e alegria aos filhos, se os adultos não trouxerem esperança e educação às crianças e jovens? A estrela de Belém brilha mais quando houver luz nos corações. É difícil ser estrela…muito mais fácil é ser cometa. É mais simples ser fraterno somente nessa época de sentimentos solidários.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:30/11/2024

ESTADO DE PLENITUDE

Como dizia Vinicius e Moraes, “a felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar, voa tão leve mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar”. Pensei muito se deveria cometer esse ato quase insano! Sim, porque escrever sobre a felicidade parece ser algo bem simples. Simples como... almoçar com os filhos num domingo, ler um livro, caminhar à beira do mar, olhar um pôr-do-sol ou compartilhar. E, ao mesmo tempo, parece quase inacessível. Felicidade é concreta ou abstrata? É possível senti-la mas não tocá-la, embora isso também pareça quase possível. Quando se abraça um filho de forma intensa, ela não se torna concreta, visível, palpável? E quando se realiza algo e se vê o objeto, a obra que resulta do trabalho e esforço, e um sentimento de satisfação plena ultrapassa o coração e salta para fora atingindo um estado de quase concretude? Felicidade é alegria e contentamento. Felicidade é olhar a vida com prazer, saboreá-la sentindo no paladar o requinte e a sofisticação que se pode atingir como quando se delicia pratos nobres. É sentir a vida palpitar nos poros pela forma de enxergar as coisas, os fatos e as gentes. A felicidade pode ser um estado de plenitude que se alcança na quietude, na calma, no silêncio, no relaxamento, na harmonia. Mas pode também irromper na ansiedade saudável e criativa quando a imaginação floresce e esparrama ideias e frutos pelo mundo. A felicidade é um conceito humano e mundano diferentemente da beatitude, que é o ideal de uma satisfação independente da relação do homem com o mundo, e por isso mesmo, limitada à esfera contemplativa ou religiosa. Alguns a consideram irrealizável ou inatingível, outros a identificam com o que é útil e benéfico. Melhor do que pensar a felicidade é experenciar a felicidade! Nas pequenas coisas, gestos, sorrisos, toques, palavras do cotidiano. Saber que ela está dentro de nós e que nada ou ninguém nos faz felizes ou infelizes a não ser nós mesmos. O bom é saber que ser feliz é um estado de espírito que, para quem não sabe, se aprende ou se cultiva, como fazemos com as plantas. E que tal estado de bem-estar espiritual e intelectual amadurece de forma profunda e veemente à medida que o tempo passa e a idade torna a vida mais palatável, mais instigante e mais sedutora. O tempo fica mais curto e por isso mesmo a felicidade mais atraente. A felicidade é redonda, brilhante e perfeita. Perfeita como a rosa que tem espinhos e que de vez em quando machucam a alma. Se os espinhos não espetassem de vez em quando, como saberíamos quando a ventura bate à porta e exala raios de luz perfumados? Os contrários é nos fazer perceber. A vida está pulsando latente e fascinante. A vida nos chama. Já cometi a insanidade e a ousadia de pensar escrevendo, e assim pensando, parece que essa felicidade - razão maior de nosso estar no mundo - essa felicidade profunda e bem-aventurada que todos almejamos está na maneira simples e acessível de olhar o mundo.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:23/11/2024

IMPÉRIO DA MENTIRA

Caros leitores, vivemos num país de mentiras onde uns fingem que governam, outros mentem quando dizem que não são fisiológicos, outros vivem o Dia da Mentira em seus negócios, no seu trabalho, passando sempre uma imagem quando a situação é completamente diferente. Nosso país começou sobre a égide da mentira, com a Proclamação da Independência por um português e não por um brasileiro. Brasília é o símbolo de um país de mentira. Os construtores de Brasília, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, eram inspirados numa corrente de arquitetura internacional, liderada por um belga, que acreditava que um projeto seria capaz de mudar a sociedade. Um exemplo disto era a máscara que tanto o Oscar quanto o Lúcio propunham ao Brasil: um país que tenha Brasília como capital nunca vai ser uma ditadura, e vejam 1964. Tudo, mas tudo mesmo na vida humana de hoje está impregnado de mentira. Regimes políticos e profissões, religiões e ciências, artes e literatura, crenças esotéricas e filosofias multifacetadas, nada pôde permanecer livre dela. Vivemos sob o império da mentira. É como se toda a Terra tivesse sido envolta por um único e denso lodaçal repugnante, que fez submergir sem resistência toda a raça humana juntamente com suas obras de que tanto se orgulha, impedindo qualquer um de chegar à tona por mais que se esforce, e muito menos ainda de voltar a ver com clareza e respirar ar puro. Mentem entre si diuturnamente pais e filhos, professores e alunos, patrões e empregados, governantes e governados. A mentira é o esteio da vida moderna, a base dos relacionamentos familiares, profissionais e públicos. Muitos dos mentirosos patológicos, não ficam contentes apenas em dizer mentiras. Eles vão um pouco mais além. Transformam suas vidas numa mentira. Em algumas situações, o indivíduo adota uma identidade completamente diferente daquela que realmente possui. Estamos vivenciando neste momento um ex-presidente que de tanto mentir que é honesto, acredita piamente que é, quando se sabe que foi um dos piores presidentes que já tivemos, negacionista e fazendo de suas bazófias, as mentiras mais deslavadas de nosso país. A mentira é como um arquétipo que baixa em todo canto. Imita-se aquilo que se é. Ao invés da verdade a sua versão. Em todos os escaninhos do cotidiano. Talvez o povo queira isso: esse show de mentiras. Esse espetáculo com canastrões em tudo que é canto. Inclusive, e principalmente, na política. Talvez goste de Artur Lira, com seu ar de autoridade, seu jeito de autoridade, sua cara de gente de respeito anunciando os aumentos dos deputados - imitando ele próprio. Talvez o povo queira Lula porque ele imita um estadista, um cara de respeito, um sujeito que quando abre a boca só sai coisas que o povo entende - imita um Lula que não existe. Mais importante que o fato é a imagem. 

A fome por celebridades – verdadeiras ou forjadas – é tanta que por qualquer coisa as pessoas ficam famosas. É só ver o caso de programas como Big Brother. Quando confinar um monte de gente numa casa e ficar filmando a vida deles vira notícia, a ponto de o canal de TV conseguir vender o programa para assinantes que querem acompanhar aquilo por 24 horas, é porque tem algo muito errado com os espectadores, ou seja, o gosto pela mentira. E o pior é que se você não vê o Big Brother e não acompanha a novela da Globo, acaba sem assunto nas reuniões sociais. Fica por fora. Esqueçam, este artigo é uma mentira.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:20/11/2024

MAURICINHOS DO CRIME

Jovens de classe média e média alta têm frequentado o noticiário policial. Crimes, consumo e tráfico de drogas deixaram de ser uma marca registrada das favelas e da periferia das grandes cidades. O novo rosto crime, perverso e surpreendente, transita nos bares badalados, estuda nos colégios da moda e vive em elegantes condomínios fechados. O comportamento das gangues bem-nascidas, flagrado em inúmeras matérias, angustia o presente e ensombrece o futuro. O fenômeno, aparentemente incompreensível, é o reflexo lógico de uma montanha de equívocos. O novo mapa da delinquência não é fruto do acaso. É o resultado acabado da crise da família, da educação permissiva e do bombardeio de certa mídia que se empenha em apagar quaisquer vestígios de valores objetivos. Os pais da geração transgressora têm grande parcela de culpa. Choram os delitos que prosperaram no terreno fertilizado pelo egoísmo e pela omissão. Compensam a ausência com valores materiais. O delito é, frequentemente, um grito de carência afetiva. Algumas teorias no campo da educação, cultivadas em escolas que renunciaram à missão de educar, estão apresentando seus resultados antissociais. Uma legião de desajustados, crescida à sombra do dogma da educação não-traumatizante, está mostrando sua cara. A despersonalização da culpa e o anonimato da responsabilidade, características da psicologia acovardada, estão gerando mauricinhos do crime. O saldo da educação permissiva é uma geração desnorteada, desfibrada, incapacitada para assumir seu papel na comunidade. A formação do caráter, compatível com um ambiente de tolerância e autêntica liberdade, começa a ganhar contornos de solução válida. É a sístole e a diástole da história. A pena é que tenhamos de pagar um preço tão alto para redescobrir o óbvio. Alguns setores da mídia, sobretudo a televisão, estão na outra ponta do problema. O culto à violência e a apresentação de aberrações num clima de normalidade são um convite diário à transgressão. Algumas matérias de comportamento, carregadas de frivolidade, transmitem uma falsa visão da felicidade. Os conceitos de sacrifício e trabalho, pré-requisitos de uma vida digna, foram sendo substituídos pelo afã desmedido de dinheiro e pela glamourização da malandragem. O inchaço do ego e o emagrecimento da solidariedade estão na raiz de inúmeras patologias comportamentais. O fecho destas considerações não é pessimista. Os problemas existem, mas não esgotam toda a realidade. Na verdade, outra juventude emerge dos escombros. Toda uma geração, perfilada em dados de várias pesquisas, está percorrendo um itinerário promissor. Notável é o entusiasmo dos adolescentes com inúmeras iniciativas no campo do voluntariado. O engajamento dos jovens na batalha da qualificação profissional é indiscutível. Há, de fato, um Brasil real que está muito distante da imagem apregoada pelos pessimistas de sempre. Precisamos, não obstante a gravidade dos problemas, recuperar a autoestima. A imprensa que denuncia cumpre um papel ético. Mas, ao mesmo tempo, não deve confundir independência com incapacidade de dar boas notícias. Nossa função não é antinada, mas a favor da informação verdadeira. Por isso, o texto que denuncia a cruel desenvoltura do banditismo bem-nascido é o mesmo que registra o outro lado: o da esperança iluminada.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:16/11/2024

PRAGMATISMO DESTRUTIVO

São muitas as ameaças que rondam o desamparado indivíduo. Razões não faltam para que se diga a toda hora indignado. É cômodo, no entanto, ver-se como simples vítima de uma realidade perversa para assim livrar-se de qualquer responsabilidade. Além do mais, a postura de sofredor impotente em nada contribui para a melhoria da vida pessoal e coletiva. Há motivos de sobra para que o cidadão se diga revoltado com impostos excessivos, governos perdulários e ineficientes, serviços públicos de má qualidade, caos urbano, violência generalizada. Ocorre, porém, que esse quadro desalentador é resultado da soma da ação de todos. Não é porque há tantas coisas erradas que se justifica uma manifesta falta de envolvimento afetivo com o País. Não deixa de ser oportunista, expressão apenas de um espírito festeiro, o amor fácil aos símbolos pátrios durante copas do mundo em que nos consideramos favoritos. Não há desgoverno e "problemas sociais" que justifiquem o flagrante desamor às cidades, aos bairros e às ruas. Infelizmente, o que se vê por toda parte é um enorme fosso entre o indivíduo e a comunidade. É inevitável que com a violência comendo solta o brasileiro se sinta sitiado, ameaçado em cada esquina, e perca muito da alegria de estar com os outros nos espaços públicos. Nada disso, porém, explica a indiferença cívica que caracteriza as relações dos brasileiros com suas instituições e organizações. Salta aos olhos que não conseguimos nos afeiçoar minimamente às coisas a ponto de nos empenharmos por elas, de procurarmos crescer com elas. Aplicássemos às coisas miúdas de nosso dia a dia coletivo um pouco da paixão que devotamos à Seleção Brasileira de futebol e seríamos uma sociedade muito mais coesa e participativa. Mas por que não temos ou perdemos o sentimento de vinculação ao outro e ao todo? Não aprendemos até hoje a lição de que a defesa dos interesses individuais obriga também cada um a se preocupar com o que é comum. Talvez o processo de nossa formação social explique por que o brasileiro não se envolve afetivamente com suas instituições. Cobra delas desempenho sem se sentir participando de sua construção. Enxerga-as como se fossem máquinas defeituosas e não como construções sociais resultantes das ações de cada cidadão. Se comemorações fossem suspensas sempre que as coisas não vão muito bem, o mundo mergulharia numa tristeza funérea. O fato é que os manipuladores da consciência coletiva invocam as imperfeições, os problemas sociais, como justificativas para um mal pior: a falta de "amor social". Os cidadãos precisam se ver como construtores do País e de suas instituições. Do contrário, permanecerão na cômoda posição de se indignar e esperar que o bom caia do céu. O mau funcionamento do País e das cidades não deve servir de pretexto para que fiquem na confortável posição de crítica sem participação. Uma sociedade é edificada com crenças, símbolos, instituições e ações. Falta por aqui uma saudável dose de apego aos símbolos que definem nossa existência compartilhada. Somos de um pragmatismo destrutivo: se não funciona bem não nos envolvemos. Mas o problema é que se não nos envolvemos não tem como funcionar bem. Este é o dilema.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:13/11/2024

TODO NÒS SOMOS POLÍTICOS 

Caros leitores, tudo que você lerá neste artigo, deve ter sido dito ou será dito por alguém com mais capacidade do que este articulista. Digo sempre que minha família não pariu nenhum político, político com mandato. É comum se ouvir alguém dizer, com ares de convicção, que não gosta de política, que não quer se meter em política, que até detesta política e os políticos. Como se tal assertiva tivesse incontrastável razão. Todos nós que estamos mergulhados na ordem social, jurídica e política de um país jamais poderemos afirmar frases como esta, pois na verdade, cada cidadão, queira ou não, está aprisionado na trama dos fatos e relações políticas, desde que nasce até a morte. Goste-se ou não se respira política, ingere-se política, veste-se política, aciona-se política, e se participa, inarredavelmente, do processo político em todos os dias de nossa vida. Quando nos alimentamos, respiramos, nos vestimos, trabalhamos, ou praticamos outras quaisquer ações em nossas vidas, são poucas aquelas que não se referem a algum procedimento pertinente a políticas públicas. O vazio deixado pela omissão social tem consequências diretas nos meus, nos teus, nos nossos interesses como sociedade. Temos a pretensão ou a vaidade de que somos melhores que os, genericamente chamados, “corruptos políticos” quanto a idéia de incapacidade ou humildade representam equívocos fatais ao exercício da cidadania em nosso país. Desconfiar das intenções dos políticos num país de histórico democrático tão recente parece justo, deixar de participar do processo eleitoral parece um crime, pois, se existem erros, estamos virando as costas para a possibilidade de consertá-los. E pareceria ingenuidade afirmarmos que não temos nada a ver com isso, se vivemos em sociedade. Somos responsáveis, e os mais jovens serão por mais tempo ainda, pelos destinos do nosso Brasil. Nosso país está cheio de trabalhadores que lutam honestamente por uma vida digna, mas está carente de cidadãos que se orgulhem de contribuir para a democracia sem exigir nada além do desejo de um país melhor no futuro. Ainda não me tornei fatalista e desejo continuar assim, acreditando na vitória do bem contra o mal. Se iremos errar ou acertar, concordar ou não, além de ser um direito de todos, é algo que ninguém conseguirá prever; mas o consciente e o inconsciente deste país chamado Brasil saberão que há alguém tentando.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:09/11/2024

DA BOCA PRA FORA

Durante muito tempo o silêncio foi o maior companheiro do povo. Um povo que não podia se expressar. Só podia sentir. E o que era sentido era uma grande frustração por ser apenas um observador da própria história. Mas isso é passado. Conquistamos a nossa liberdade, a nossa voz. Agora podemos participar, agir, falar. Agora é democracia. Vivemos pluma época de contrastes. A globalização e o desenvolvimento tecnológico asseguram liberdade e homogeneidade a diferentes povos e nacionalidades distintas, possibilitando um rico e dinâmico intercâmbio cultural e intelectual. Simultaneamente, esse mesmo aparato técnico-científico atua como um instrumento de isolamento e segregação, ao passo que acaba por marginalizar as culturas mais frágeis e mais primitivas. Diante dessa conjuntura, observa-se um impasse entre a criação de uma cultura global e a preservação das diversas identidades locais e regionais. Em suma, o que ocorre é um conflito entre um mundo globalizado e único e a individualidade de cada um enquanto ser humano. É preciso visualizar um mecanismo político capaz de assegurar o contínuo avanço da moderna sociedade e garantir as vontades e liberdades individuais de cada um de seus integrantes. É aí que entra a questão da democracia. Atualmente, utiliza-se bastante este termo para designar governo do povo, onde há liberdade, a igualdade e o respeito a cada indivíduo imperam. Entretanto, na prática, não é bem isso que acontece. O aumento das discrepâncias sociais e o benefício das elites em detrimento das classes menos favorecidas é algo notável mesmo nos governos ditos democratas. Mediante esse contexto, como é possível falar em democracia como instrumento de melhoria social e de respeito às peculiaridades de cada cidadão, especialmente nós brasileiros que vivemos em um país dito democrata, todavia extremamente injusto e desigual. Com certeza a construção de um contexto de um mundo mais igual e fraterno só será possível através da consciência individual, na busca por valores de cidadania e de justiça social. Até agora nenhuma sociedade alcançou a democracia sendo fiel a todos os seus princípios e valores até mesmo na Grécia Antiga onde esse sistema surgiu, boa parte da população era excluída das relações sociais, através da escravidão, da marginalização e da exploração do trabalho. Ainda hoje isso acontece. Não existem mais escravos, contudo, as pessoas vivem muito em função de seu trabalho e levam uma vida material, esquecendo as questões sociais e outros aspectos essenciais à existência humana. Na verdade, quanto mais o homem avança em termos de tecnologia e ciência, menos utiliza valores de solidariedade, igualdade, fraternidade e justiça. E é por esse motivo que o Mundo está um caos. A violência urbana, o desrespeito às individualidades, a miséria e a pobreza são frutos de um sistema elitista e autoritário. Só será possível falar em democracia no dia em que cada cidadão seja respeitado e valorizado na sua condição de ser humano porque ser democrata não é apenas diminuir as desigualdades sociais. É muito mais do que isso. Ser democrata é fazer o bem e praticar o bem. É acreditar que os problemas sociais podem ser minimizados ou resolvidos. É lutar por uma conjuntura mais digna e sensata. É se sensibilizar com uma criança abandonada e tomar algumas atitudes, ao invés de permanecer inerte. É se preocupar com a política do seu país e querer participar dela. Ir às ruas reivindicar direitos e o cumprimento das obrigações governamentais. É saber que se cada indivíduo se acomodar e achar que não pode modificar a conjuntura atual, o mundo estará partido. É acima de tudo acreditar que cada ser humano é único e que a individualidade e as particularidades de cada um são essenciais à criação de um contexto mais abrangente, capaz de respeitar e valorizar cada cidadão. As guerras, os conflitos internos dentro do Judiciário, Executivo e Legislativo, nos Tribunais de Contas, no Superior Tribunal de Justiça, mostra que fala-se em democracia da boca pra fora, sem esquecer que democracia também é, aceitar divergências mas não guerrear.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/11/2024

FINADOS

Dia de Finados, dia tão sinistro como é redundante dizê-lo. Lembro de alguns amigos que se foram neste ano. O corpo nunca adoece antes da alma. A verdade é que passamos a vida adiando o agora. Quantos acenos inconclusos, quando beijos adiados, quantos abraços esquecidos, quanta ternura poupada por conta da máxima cruel de nossa época: "não tive tempo"? É o jantar recusado à amada, a presença-ausente do Dia das Mães, do dia dos Pais, esquecimento sintomático do aniversário de um amigo, o ciúme levando a brigas evitáveis. Estamos assim desprezando a arte de viver e o encanto que as belezas, inapercebidas por deformação profissional, trazem. Se não o fazemos para que adiantou respirar ou transitar nesse mundo sublunar? Não adianta adiar o mapa do coração, dizer que “amanhã é possível”, “talvez quem sabe”, ou “não sei”. São questionamentos que me acompanham ao transitar, contrito, por esse dia dedicado aos mortos. Já escrevi que não vou a cemitérios, e espero não ter em minha agenda pelo maior tempo possível, nem vivo nem morto. Nesta iminente quase virada de ano, o este instante pode ser tão vago que, de modo impressentido, tomo-o entre os dedos de oscilantes e trêmulas mãos. Constato que há esquecidos soluços de muitos antigamente anteriores. Sementes genéticas do final de muitas coisas ocorridas, e o alvorecer de outras. Amanheço com a sensação de, durante a noite (os sonhos, quero dizer) ter sido um prisioneiro, dentro daqueles parâmetros de Proust, em busca do tempo perdido. Dentro das memórias audíveis voltarei, e todos nós, em um dia qualquer de 2025 à convivência do que passou em 2024. Um colecionador de sonhos do ano que termina. Eis o meu trabalho, diuturno. Até dos meus próprios fósseis, quando caminho em busca daquela luz, no final do túnel deste expirante 2024, que estará apagada dentro de 59 dias. Ouvir-se-ão, amanhã, os primeiros vagidos dos dias de novembro. Vago e impreciso nas definições, frases talvez desconexas, desativadas. Misturo preâmbulos de cogitações. Embrulho depois tudo, em papel celofane, ponho endereço, levo-o aos Correios, sob registro. Alguém (ou ninguém, talvez seja este meu objetivo) entretanto nada irá receber. Durma-se com um barulho desses, dirá o(a) leitor(a). O este instante de agora é semente reprodutora daqueles outros, dos amanhãs que virão. Há verdes circundantes, nuvens prenunciam chuvas, dentro da escaldante Manaus. A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Alguém já disse e eu também acho, que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Saudades dos que partiram, e escrevo tudo isso pelo Dia de Finados.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:02/11/2024

VIDA É UM SOPRO

Este ano que ainda não findou, tive a tristeza de perder alguns amigos, e aí fico me perguntando o que é a morte, mesmo com ideias e conhecimento espirituais, e chego a conclusão que a morte nada mais é do que uma passagem. A passagem de um mundo que conhecemos bem, para outro totalmente desconhecido. E, por isso, amedronta e traz dor... Essa era a sensação de dois fetos gêmeos dentro do útero da mãe, que percebiam que chegava a hora de nascer. Um perguntou ao outro: E aí, você acredita na vida após o parto? E o irmão respondeu: 

Não, ninguém voltou para contar. Nascer, para eles, seria passar de um mundo conhecido para o desconhecido...Aquele mundo imenso fora dos limites do útero materno. Quantas vezes nós também olhamos para a nossa vida com a mesma limitação? Pois igual aos fetos, cremos que o mundo se reduz ao que conhecemos, ao que nos parece familiar, ao que podemos perceber com os nossos sentidos. Os dois gêmeos, estavam familiarizados com o quentinho da bolsa, as batidas do coração da mãe e o alimento que chegavam fácil por um tubo... 

Assustados, conversavam sobre aquele momento traumático. Como seria o mundo lá fora? Escuro? Frio? Ameaçador? Estavam prestes a ser expelidos daquela penumbra repousante para um mundo de luz, cores, cheiros e ruídos... Eles sentiam medo de sair dali... As contrações começaram, o mundo em torno se fechava e eles estavam sendo forçados de lá para fora. Ao nascer, o impacto dos pulmões se enchendo de ar pela primeira vez causou um impacto tão violento que até a memória da vida intrauterina se extinguiu... E o que eles tinham á frente era nada mais do que a vida... A vida num mundo, até então desconhecido onde eles iriam crescer, se formar, ter descendentes, envelhecer e novamente se preparar para uma nova passagem... Por isso, os monges beneditinos jamais falam de morte e sim de passagem. Passamos por esta vida, como um grande presente de amor que deus nos deu... Nosso nascimento, "o nascimento desses fetos", certamente trará muita felicidade e amor aos seus pais e, vendo assim, como uma passagem, podemos imaginar que o que nos espera, na outra etapa, na outra passagem... É algo muito melhor. Nada mais natural que a morte! As vezes fazemos a passagem muito jovens, não mais velhos, aliás velho e velhice são palavras de conteúdo e peso psicológico terríveis, sobre a mente humana, em particular do idoso que se acostumou a vê-la, ouvir e chegar. Envelhecido e sem condições físicas de desfrutar na sua totalidade da recompensa, já se considera velho, e essa velhice cria-lhe problemas diuturnos e crescentes. Outro dia fui abordado por um amigo de longas datas, com esta pergunta: Você se considera um velho? Pasmei por alguns instantes e o respondi que não, visto que a vida é linda e a velhice não é coisa inesperada é o resultado das mais diversas fases da sua existência desde o nascimento, crescimento, até chegar à idade adulta, mesmo se notando na nossa face, todas as manhãs, sinais inexoráveis da marcha do tempo refletido através de um espelho. O tempo passa pela ação deletéria a partir de certa idade. O efeito é o encurtamento da existência a não ser que medidas preventivas sejam tomadas, se não para evitar tal desfecho, pelo menos para ampliar a expectativa de vida. E, tenho certeza que um dia todos nos encontraremos: a vida é um mistério maravilhoso! Mas continuo com meu velho jargão: A vida é um sopro.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:30/10/2024

CARTA ABERTA AO FUTURO PREFEITO

Caro candidato, antecipo-me ao pleito do próximo domingo no segundo turno, para congratular-me com a democracia não o faço pelas pesquisas, mas pela vontade que sinto do povo manauara. Como já citei em artigo antes do primeiro turno, a campanha teve baixo nível das candidaturas. na defesa de postulações personalistas e grupais. Não se trata de escolha do afeto. Não elegeremos o amigo que nos acompanhará a uma viagem de férias nem o cônjuge, com que partilharemos agradável intimidade. Outorgaremos procuração a alguém que cuidará de nossos interesses maiores, ou seja, que tratará ,da urbanidade manauara, com o seu patrimônio moral e seus recursos tangentes, o seu espaço de soberania e sua continuidade no futuro. É como se confiássemos a você futuro Prefeito, os nossos próprios olhos, os próprios braços, os nossos bens e a educação de nossos filhos, a nossa indignação e a nossa esperança. Será a vitória do bem, no silêncio necessário e fecundo, que presidirá na hora do voto o diálogo da emoção com a razão, e no espaço indevassável da consciência, vencerá quem o povo depositou maior confiança. O futuro Prefeito que escolheremos domingo, deverá possuir atributos que podem transformar a cidade de Manaus em uma das mais prósperas e mais bem administradas, com vistas a formulação de políticas públicas, na medida do possível, largamente consensuais. A perspectiva que se abre é a de uma transformação ou até mesmo de uma revolução, isto é, de superação de problemas de nossa urbe, para cuja tarefa se incluem diversas forças políticas e partidárias, refletindo aliás, o sentimento predominante do eleitorado. Sei que as promessas foram muitas, e sei também que terão que ser exequíveis, não impostas por marqueteiros políticos, a doce reencarnação eletrônica e midiática de Maquiavel. Os desafios são muitos a enfrentar neste turbulento tempo em que vive a cidade de Manaus. Não se deixe levar pela fadiga e á pressões dos puxa-sacos e sussurros de vaidade. A degradação dos serviços de água e esgotos em Manaus, exige providências urgentes, além dos constrangimentos diretos e evidentes impostos à população, a falta desses serviços compromete a qualidade de vida, faz ressurgir doenças e dificulta o desenvolvimento, repercutindo sobre a atividade do turismo, por exemplo. Existem ações simples, sem precisar de muito dinheiro e fáceis de serem executadas. Só precisará de modéstia para examiná-las e torná-las factíveis. Muitas vezes o simples é tão óbvio, mas não se vê. Sei que com a maturidade, bom senso e equilíbrio, atuará junto com o Governador somando esforços para melhorar as condições de nossa cidade. Teus desafios são muitos, mas devemos confiar em tua capacidade, experiência, coragem, determinação e espírito público. Esperamos que no próximo aniversário de Manaus, a cidade esteja mais bem cuidada, mais risonha e mais bonita.

 

De um eleitor consciente, 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:25/10/2024

AOS MEUS LEITORES HABITUAIS* 

Quem escreve semanalmente como eu com mais de mil e oitocentos artigos e ensaios, fica com o ego massageado quando se recebe ou por e-mail ou por mensagem do Facebook, mensagens como “seu artigo lavou-me a alma, me fez rir, me comoveu, me fez dizer "É isto mesmo". Sinalizam que não estou sozinho em meus modos de perceber e de pensar. Também sou construtivamente marcado pelos que discordam e criticam, pois me ajudam a manter a mente aberta. Inspirados em indignações ou encantamentos, meus artigos refletem a marca de valores legados pelos construtores da minha bagagem em seus "recados de vida": Ignorância gera besteira ou desgraça. Pode ser melhor, sim. Desconfie sempre do governo e não confie demais na oposição. Discurso é ação e o autor deve ser responsabilizado por suas palavras. O preço das decisões é para ser pago sem queixas. Imoral é enganar os outros. O bem que fizeres retorna a ti, o mal também. Sede assim, qualquer coisa, serena, isenta, fiel. Quem merece de Deus os dias e as noites, merece de nós bom dia, desculpe e obrigado. Faz vinte e cinco anos que comecei a escrever diariamente no Jornal O Jornal e também no Diário da Tarde onde o velho Ajuricaba e a própria D. Lourdes Archer Pinto me davam incentivos para escrever, e olha que era coluna social, com pseudônimo. Depois fui escrever no Jornal A Critica, onde levava meu artigo para o velho Martins Diretor de Redação ainda na Lobo DÁlmada, e ele era o meu censor. Entre pesadas máquinas de escrever Olivetti, na velha redação do Jornal do Comercio, tive a atenção fraterna do proprietário e já experiente Guilherme Aluísio, cujo bom humor elegância e coleguismo são inesquecíveis. Depois de outros tantos anos como docente eis-me colaborador em blogs, jornais e Facebook, onde publiquei mais de 1.200 matérias. Falei de mazelas sociais, desmantelos urbanos, amor, ética, política, religião, causos e causos verdadeiros ou não ( a maioria foram verdadeiros), sobre um lado de sandália deixado na Djalma Batista, artigo que me trouxe muitos elogios, e até futebol. Com profissionalismo, respeitei rigorosamente o limite determinado para o tamanho dos textos, apurando forçosamente um estilo enxuto que parece agradar à minha vintena de leitores.  Após todos esses anos, não abandono a causa do respeito às diferenças nem o sonho de melhora da cidade de Manaus e do Mundo. O labor e a responsabilidade de expressar ideias esculpindo textos são para mim, também curtição. Sou grato aos leitores, que me motivaram, e vou prosseguir de olho no mundo, de coração nos afetos, de alma na trilha da paz. Continuo como artesão de textos em outros contextos, nutrindo a humilde esperança de marcar um pouco os outros com minha visão de mundo e ser por eles marcada. Grato a todos os leitores e leitoras que me acompanham e que tecem comentários sobre as matérias geradas as vezes no raiar do dia a dia que escrevo.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:23/10/2024

BRASIL UM PAÍS DE MANETAS

Pela lei do Alcorão, o ladrão deve ter a mão direita decepada. Nos tempos atuais, por influência da tecnologia ocidental, a única concessão que os islamitas fazem é permitir a anestesia do braço do condenado. Suponha só o leitor se, como consequência da vitória do Islã no mundo, o Brasil fosse islamizado: acabaríamos virando um país de manetas, pois, haveria multidões com a destra decepada, de deputados, ministros, senadores, juízes, governadores ao povão analfabeto do interior. Basta ler os jornais: a lista dos “lalaus” e assemelhados não acaba; cada dia aparecem mais em todas as camadas sociais. Se um caminhão sofre qualquer acidente nas estradas, num instante sua carga é saqueada pela população da vizinhança. Pelo visto, o sétimo mandamento do Decálogo é aqui simplesmente desconsiderado senão ignorado: as exceções confirmam a regra. Somos então um país de ladrões, pelo menos em maioria? Que o leitor responda e não eu. Apenas quero aqui refletir em profundidade sobre os fatos assinalados quase diariamente pelos jornais e TV em matéria de furto e roubo. A ideia de propriedade nasce no homem como consequência do trabalho. Ora, nossos índios e primeiros colonizadores apenas colhiam na natureza o que precisavam para o próprio sustento: O título do livro de Jorge Amado Terras do Sem Fim é um documento significativo dessa mentalidade ingenuamente coletivista. Quantos séculos levou a Inglaterra, por exemplo, para enraizar na mentalidade de seu povo os direitos do cidadão? A Magna Carta é de 1215 e nunca foi abolida, mas só enriquecida com novas leis de detalhamento do texto primitivo e, até hoje, o Parlamento britânico permanece atento a qualquer violação de direito individual. Logo, para o brasileiro deixar de roubar precisa ir à escola desde cedo, aprende a ganhar o seu pão com o suor do próprio rosto e “não fazer aos outros o que não quer que lhe façam”, como já ensinava o velho Confúcio. Ora, isso vai demorar um bom tempo, mas um dia chegaremos lá: aí, então, seremos plenamente desenvolvidos. Com a derrocada do comunismo no mundo, a partir da própria ex-União Soviética, a ideia de propriedade perdeu aquele triste ranço coletivista de Proudhon para quem “a propriedade é o roubo” e partilhado ainda por muitos esquerdistas. Claro que ela não pode atender contra os direitos individuais do cidadão e tem os limites do bom senso e, por isso, a luta entre direita e esquerda não faz mais sentido hoje em matéria de posse de bens. No Brasil, a ideia de propriedade evoluiu na razão direta do crescimento demográfico: a prova está nesse grande movimento dos sem-terra. Afinal, as florestas produzem oxigênio, indispensável à vida, logo são muito produtivas: derrubá-las é um crime contra a saúde do povo. Se continuar esse infeliz desmatamento do Brasil, seremos um dia obrigados a viver com máscaras de oxigênio. A racionalidade nem sempre tem norteado a evolução do nosso povo.. O respeito ao direito alheio é a base da sociedade democrática. Para construirmos o Brasil com que todos sonhamos é preciso conscientizar cada cidadão de que só terá seus direitos respeitados na medida em que respeitar os dos outros.

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:19/10/2024

VERBOS ENSINAR E APRENDER

Em homenagem ao Dia do Professor, passo a refletir depois de vinte anos fazendo explanações, e formando gerações, sobre o papel do professor universitário. Nos últimos anos o professor universitário buscou um aperfeiçoamento que, no meu entendimento, na verdade o distancia da profissão docente, uma vez que adquiriu uma disciplina de pesquisa, acumulando um conhecimento que não encontra pares para discussão em sala de aula, e muitas vezes até entre os colegas, pois estes (como todos nós hoje na universidade) não têm mais tempo para se reunirem e simplesmente conversarem. Estão imersos em seus objetos de estudo. Os interlocutores disponíveis para os professores universitários são seus alunos nos espaços de sala de aula, onde deveria ocorrer parte do processo de ensino – cuja tarefa é do professor – e aprendizagem – cujo fenômeno é preferencialmente do aluno. A deduzir por depoimentos e apelos recebidos dos estudantes nos últimos anos, posso dizer que a distância entre estes e os professores aumentou. E não foi pela relação de autoridade formal tradicional, mas pela autoridade do conhecimento acadêmico em nível de pós-graduação. Os estudantes universitários chegam na universidade com muitas carências conceituais herdadas do ensino básico e da própria cultura geral. Por outro lado, o professor universitário já iniciou um processo de desenvolvimento que não quer e não pode mais parar. As políticas educacionais o têm exigido este aprimoramento. Os estudantes muitas vezes se tornam um empecilho para a continuidade daquele desenvolvimento, se o professor não recuperar a consciência de que a docência é ensino, pesquisa e extensão. O resultado desta falta de clareza ou consciência retomada é que se adotam procedimentos para o cumprimento dos programas das disciplinas que têm sido chamados de metodologia de ensino superior, mas que na verdade não se consegue nomear. Esta metodologia tem se resumido na indicação de leituras de autores que vamos descobrindo no caminho de nosso desenvolvimento, e que, portanto, fazem parte de uma história de construção do conhecimento que é nossa, não do estudante. Tentamos a todo custo encaixar no processo de aprendizagem destes, os nossos saberes em construção. Como fica a conjugação dos verbos ensinar e aprender neste contexto? Não teríamos que partir do conhecimento do estudante para então orientá-lo, no tempo dele, ao entendimento e compreensão de informações e reflexões de outrem, constituídas como instrumento para a construção autônoma (vinculada a seu interesse e responsabilidade) de seu conhecimento? Um sintoma da falta de entendimento e compreensão de tais informações e reflexões, a meu ver, motivada pela metodologia da palavra pronta e do devaneio, está numa realidade estonteante da sala de aula: a mudez dos estudantes. Por que eles não falam em sala de aula? Por que não conseguimos parar de falar? Mesmo não querendo ser, não estaríamos sendo autoritários com nossa autoridade do saber adquirido; sobre o qual muitas vezes estamos ainda incertos? Sobre o qual muitas vezes ainda estamos em fase de devaneios? É metodologicamente correto nos darmos ao luxo dos devaneios teóricos, quando os estudantes não dominam conceitos fundamentais das disciplinas que tratamos com devaneios e liberdade de aproximações com nossos interesses teóricos? Em que, afinal, consiste na educação como prática da liberdade (positiva)? Estaríamos contribuindo para o desenvolvimento da autonomia (poder decisório, crítico e criativo) de nossos estudantes enquanto futuros profissionais de educação? E mais do que isto, estamos orientando como promover o mesmo com outrem, na medida em que obstruímos sua fala ingênua ou mágica, evitando que se exponha sem medo para então problematizá-la com respeito e consideração de sua história, dando-lhe a opção de escolher o caminho, desde que o fundamente coerentemente? Isto me faz citar Freire: “O diálogo, que é sempre comunicação, funda a colaboração. Na teoria da ação dialógica, não há lugar para a conquista das massas aos ideais revolucionários, mas para sua adesão. O diálogo não impõe, não maneja, não domestica, não sloganiza”. É possível o diálogo entre alunos e professores quando estes tentam impor suas ideias, convencendo-os, seduzindo-os ou coagindo-os?

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Autor Flávio Lauria 

Publicado:15/10/2024

ANTIFÁBULA

Era uma vez uma cidade sorriso. Ali, os bairros com suas características próprias de tranquilidade, com seus moradores conversando na porta das casas, encantavam os meninos de Manaus, a desfilar sua beleza pelas ruas que davam geralmente em igarapés. Ah, os igarapés, do Quarenta, do Crespo, do Parque 10, da Ponte da Bolivia, do Tarumã. Pobres e ricos súditos do mesmo rei, o Estado Oficial, embora mínima fosse a presença do poder público. Lentamente, em 30 anos, as ruas incharam. No vácuo do poder, a partir dos anos 80, surgiram os estados paralelos, lobos alimentados pelo tráfico de drogas. Estruturados e profissionais, assimilaram a organização no contato com os presos que foram soltos. Criaram facções, que se detestam, numa guerra econômica que movimenta cerca de R$ 50 milhões mensais, mas têm um inimigo comum, o Estado oficial. 
Eles prendem e julgam segundo as próprias leis, exercendo os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. E como esses Estados paralelos são administrados? Vale o exercício de imaginação. Tem o Ministério das Comunicações, responsável pelas centrais telefônicas clandestinas e pelos celulares distribuídos nas prisões. Providencia fogos de artifícios, balões e pipas que dão o alerta quando o inimigo tenta chegar. Há o Ministério da Infância e Cultura, importantíssimo, pois organiza os bailes funks, tão a gosto dos locais, que cantam "tá dominado, tá tudo dominado". Existe o Ministério da Economia e Comércio, um dos principais. O produto interno é bruto (crack) ou refinado (cocaína). Lida com os pontos de venda e chega ao requinte mercadológico de fornecer grátis a droga para os curiosos. Depois de viciados, bem, depois é outra coisa. Afinal, a economia é auto-sustentável. Já o Ministério da Agricultura adota a terceirização, sinal do mundo globalizado. A coca vem de plantações na Colômbia. A maconha é paraguaia ou cultivada no Nordeste e no Centro-Oeste brasileiros. O Ministério do Trabalho emprega menores e jovens adultos, garantindo um ganho médio de 800 reais por semana nos escalões mais baixos, equivalentes a dois meses e meio de serviço no Estado oficial. Já o Ministério dos Transportes impulsiona os "bondes", comboios de carros roubados que atacam postos inimigos, tais como prédios da prefeitura, delegacias e fóruns. Cuida também dos barcos que avançam pela orla do Rio Negro conduzindo fuzis AK 47, AR 15 e Fal, além de granadas. O da Justiça, Saúde e Previdência Social administra cemitérios clandestinos e garante tratamento médico e subsistência para os presos e familiares. Faz o trabalho social, determina a "lei do silêncio", o funcionamento do comércio e as penas aplicadas aos delatores e inimigos, desde o banimento até a morte. Enfim, qual é a moral dessa antifabula? Nenhuma. É da natureza da anti não possuir qualquer espécie de moral. Ademais, a história não terminou. No segundo turno da eleição municipal, os dois atores ao invés de se digladiarem, mostrem maniuaras que embora a segurança pública seja uma atribuição do Estado, o município pode colaborar e muito para que não contemos mais uma antifábula. Essa é a Manaus de hoje.


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Autor Flávio Lauria 

Publicado:12/10/2024

O GARROTEAMENTO DA IMPRENSA

Estava decidido a comentar sobre a eleição de domingo, e o segundo turno definido, com surpresa colocando o Capitão Alberto Neto no segundo turno junto com o atual Prefeito de Manaus, mas, resolvi escrever sobre a boa imprensa, aquela que não se utiliza de recursos para informar e analisar os fatos, e checam verdadeiramente a notícia, sem a pretensão de querer induzir o leitor ou telespectador. Lembro então de Ruy Barbosa, que era o luzeiro guia de nossas vidas e para ele nos voltávamos sempre que algum direito estava colocado diante de perigo iminente. De quantos ensinamentos foram bebidos nas páginas imortais do notável tribuno e jurista, nos prélios estudantis e nas lutas pelas liberdades cívicas sempre ressumavam conceitos a respeito da liberdade de imprensa, a "rainha das liberdades", segundo Thomaz Jefferson, os olhos da nação, por intermédio dos quais ela fica sabendo o que se passa em seu redor, devassa aquilo que lhe ocultam, expõe ao pelourinho do julgamento popular os corruptos e corruptores.
De todas as liberdades, não há nenhuma mais conspícua e mais necessária. Se tais conceitos e definições ganharam foros de verdades definitivas, não menos verdadeiro é que a liberdade de imprensa no mundo vem sofrendo a agressão de aprendizes de tiranos, a pressão dos endinheirados e a intolerância dos liberticidas. Abatem-se sobre ela as mais variadas tentativas de garroteamento, desde a força bruta até os blandiciosos acenos da pecúnia com os quais governos fracos e incompetentes tentam embair a opinião pública. Se as pressões econômicas e financeiras são desfiguradoras do verdadeiro papel da imprensa livre, não menos verdade é que o engajamento político-ideológico da mídia constitui, nos dias de hoje, espécie de câncer capaz de fragilizá-la até a morte. Nesses estamentos radicais concentra-se o grande perigo a ameaçá-la. Tanto à esquerda quanto à direita montam acampamento os verdadeiros inimigos da verdadeira liberdade de imprensa. Ambos se alimentam de preconceitos, nada mais nada menos de velhos ranços autoritários. Por paradoxal que possa parecer, outorgam-se a condição de defensores da liberdade para poder mais facilmente esmagá-la. Não faz parte do cardápio dos tiranetes, quando no exercício do poder, permitir excesso de liberdade de imprensa, salvo quando ela se transforma em turibularia para o cantochão das louvaminhas estereotipadas. É o que está acontecendo com o tirano Maduro na Venezuela. Por mais que tenha o gado de cores preconceituosas, a tentativa de sua punição foi ato falho de quem fez seu aprendizado nos tratados de autoritarismo político chavista. É o mesmo padrão de prosélitos de José Saramago, para quem "a democracia é uma santa coberta de chagas, cheira mal e, ainda por cima, é surda. E mente quantos dentes tem na boca". Quando verdadeiros democratas, entendidos aqueles por convicção e formação, não por ocasião ou oportunismo político, são atingidos por abusos no exercício da verdadeira liberdade de imprensa, sua reação é assinalada pela tolerância e a crença na superioridade da verdade. Se desejarmos tomar como exemplo dois mineiros ilustres que mais terrivelmente sofreram as assacadilhas de jornais e jornalistas no abuso de sua liberdade, retiramos de suas vidas o melhor modelo de paciência democrática. Juscelino Kubitschek e Israel Pinheiro padeceram das mais iníquas e sórdidas campanhas contra sua honra e sua capacidade pessoal. Responderam sempre com arrasador silêncio e menosprezo aos acusadores, encontrando na consciência neutra da história o julgamento definitivo quanto à sua dignidade e ao seu discernimento de homens públicos. A expulsão de jornalistas foi o despertar do subconsciente autoritário que presidiu a formação marxista do chavismo a quem Lula parece admirar, e ainda prevalece em sua conduta e decisões. A democracia, que, no conceito de Saramago, "cheira mal", foi o remédio simples e nobre que restaurou a dignidade da liberdade que representa todas as outras.
 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:09/10/2024

QUE OS SINOS NÃO DOBREM POR NÓS

É chegada a hora de rever nosso País, nossos costumes, nossos filhos e netos, que porventura ainda não vieram, encarando seriamente estes derradeiros dias de pútrida política, descarados comportamentos dos que fazem nossa vida pública - há muito dissecando nossas consciências, dissolvendo nossa identidade, envergonhando o patriotismo e esculhambando nossa cidadania. O Brasil está sendo corroído pelo cinismo da maioria dos poderes constituídos, intermitentemente terminais em câmara de gás torturante ao penhor da sua nacionalidade - orgulho que deveria ser de toda a nossa gente letrada e a esquecidamente ignorante e marginalizada da sociedade. Não mais adianta cobrarmos punibilidade às autoridades responsáveis - é fatigante. Para que rogarmos, como já fizemos em demasia? De nada nos satisfaz insistirmos para que a justiça nos proteja. Apelarmos para todos os santos, nem pensar.
O que nos vale divagar pelas chamas ainda acesas de exemplos da história tirânica de príncipes que usurparam a dignidade e os bens de seus súditos, transcendendo séculos, beneficiando seus descendentes?
Por isso, meus caros leitores, jovens pais e mães de um futuro bem próximo: tratem de repensar os valores da educação doméstica que terão de legar aos seus filhos. Ensine-os o que é liberdade sem libertinagem; a aprender o que é amar a terra onde nasceram e exigir respeito pela sua soberania. Faça-os voltar a amar o prazer de ler. Encaminhem-nos no sentido da verdade, para que não descubram na mentira o prólogo manifestante da hipocrisia, da improbidade. Não os deixem entender que ser inteligente é levar vantagem em tudo. Registrem, mas bem claro mesmo, que furtar e roubar são crimes iguais e tão graves quanto a omissão e a injúria. E, antes que seja muito tarde, indique aos queridos pimpolhos onde ficam o lixeiro e o lavatório, o guardanapo e o papel higiênico; a escola mais próxima, a igreja mais condizente com a crença no Ser supremo; e que só se educa pelo exemplo, de forma carinhosa e firme pelo norteamento da instituição familiar.
Sintam-se, pois, governantes, e mostrem como devem ser os governados, afastando-lhes a ideia de que estão sob a égide de um poder principesco, moldando-lhes a conduta. Vamos todos lembrar o sentimento de educação que hoje cerca esses nossos senhores políticos com mandatos populares que brilham pelo choro e pela cara lisa. Segundo Cícero, Dâmocles estava se imaginando o mais afortunado dos homens quando, em meio ao festim, percebeu, por sobre a cabeça, uma espada nua que Dionísio fizera pendurar ao teto, sustentada por uma simples crina de cavalo. Que todos os moços deste querido Brasil não permitam, tal Hemingway, que o nosso torrão seja arrastado para o mar como se fosse um promontório - um solar tão íngreme que não mais possamos alcançar com nossos próprios passos. E, "...se alguém perguntar por quem os sinos dobram?" -, que eles não dobrem por nós. 
 
 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:05/10/2024

Hora de Decidir

Neste domingo, o eleitorado brasileiro, e especificamente o amazonense, decide seus governantes municipais e seus representantes no Legislativo, no bojo de uma estridente crise política que não envolve apenas  especificamente as relações entre o governo e Oposição, mas também os fundamentos éticos da democracia representativa e do ideário republicano. Por vias inesperadas, estamos nesse momento diante de duas prioridades do interesse do estado e do povo brasileiro. Já não se trata somente de convocar o eleitorado, vale dizer, a opinião pública, para responder nas urnas se aprova ou desaprova o governo municipal que aí está. Um novo elemento entrou em cena, pois agora se trata também de procurar superar uma crise política que traz no seu ventre outras ameaças latentes, como sejam as que colocam em risco a estabilidade das instituições, a governabilidade e o avanço inabalável do País no rumo do desenvolvimento sustentado e das conquistas sociais e humanísticas próprias da civilização do Primeiro Mundo.
Chega a hora de perguntar: não seria também o momento de pensarmos no desarmamento dos espíritos na sociedade brasileira? A crise política da corrupção, dos mensalões, do festival de denúncias, dos antagonismos que essas situações anormais vão criando e engrossando, parece abonar o nosso argumento. É preciso que à insegurança pública, já por si uma tragédia, não se some a insegurança política. E para enfrentarmos a insegurança política, os remédios são muito mais simples do que aqueles exigidos para debelar o banditismo: bastará que os nossos homens públicos mais responsáveis, dentro do Executivo, do Congresso, do partidos etc. decidam abandonar a fogueira dos confrontos e se dediquem a soluções construtivas, mergulhando no campo das reformas estruturais ou apenas operacionais do nosso modelo presidencialista. O desarmamento dos espíritos, terá de ser a tônica dominante de qualquer tentativa séria de construção sólida e racional da nossa arquitetura democrática. Do contrário, seremos obrigados a pagar por mais alguns anos de caminhada inconsistente até que encontremos o rumo de uma democracia não apenas formal, mas também mais ainda comprometida com princípios éticos rigorosos. Estaremos, assim, fazendo justiça às expectativas e às esperanças da massa votante, por enquanto uma figura indefesa e, não raro, traída no cenário da tão consagrada vontade popular, em nome da qual só então todo o poder pode ser considerado legitimamente exercido. Votemos conscientes.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:01/10/2024

CONTINUIDADE SEM CONTINUÍSMO

Analisando os programas dos candidatos a Prefeitura de Manaus, verifiquei que são ocos e sem conteúdo, e lembro que na conhecida peça de Pirandello, tratava-se de seis personagens à procura de um autor. No nosso caso, parece que se trata de seis candidatos à procura de um programa. O que há até o momento em matéria de propostas não passa de afirmações vagas e genéricas, mais o reino da indefinição do que da determinação, mais o âmbito da inocência do que do compromisso. Por isso mesmo, têm sido vistas como equivalentes. Temos, por um lado, a continuidade sem continuísmo, por outro, a descontinuidade sem descontinuísmo. Em outros termos, lá, continuidade com descontinuidade; aqui, descontinuidade com continuidade. Ou será o contrário? Em suma, tudo se assemelha a um giro ou a uma revolução de 360 graus. Com uma grande desvantagem para quem pretenda efetivamente mudar: se os discursos se confundem dessa maneira, se as palavras se misturam de todas as maneiras, por que apostar na mudança/continuidade do lado de cá, com toda a incerteza do imprevisível, se disponível a continuidade/mudança do lado de lá, com toda a segurança do previsível? Nesse terreno fértil e propício, crescem naturalmente em importância as técnicas de marketing político. A indefinição ou a indeterminação das propostas faz com que se sobreponha a forma ao conteúdo, o pouco ao muito. Podem alguns pensar que permanece de qualquer maneira a possibilidade de uma vez alguém vitorioso, tirar ele da cartola a solução nunca sugerida ou expressa, embora sempre pensada. Além da ilusão, reflete atitude ou omissão muito conveniente para o establishment, já que qualquer política de mudanças consistentes e sérias exige apoio social manifesto, antes de tudo no próprio processo eleitoral. Entretanto, como explicitar apoio se não se formulam efetivamente as propostas, como ouvir e responder se não se fala? Os mais otimistas podem observar que a carência de programas, o acento na imagem dos candidatos, a ênfase nas técnicas de marketing político, entre outras coisas, decorre da tradição de personalização da vida política nacional e da característica imperial de nosso presidencialismo. Mas esquecem que esse desprezo pelo eleitor e pelo cidadão resultante da falta de propostas claras e objetivas pode ter como resultado o desinteresse ou a desafeição para com a política, terminando por deslegitimar os partidos, de direita ou de esquerda, e o próprio sistema político. Eis aí refletido o desencanto de cidadãos cujo voto é a mais legítima expressão da soberania popular. Não é difícil apontar a causa de tal desapontamento. Ocorre que os aspirantes ao poder deveriam pautar sua conduta pela maturidade atingida pela sociedade brasileira e pelo vigor com que se resguarda nesta nação o Estado de direito tão arduamente conquistado. Em suma, deveriam desde já travar um debate elevado sobre os grandes desafios econômicos e sociais de Manaus e as suas propostas para superá-los. Deveriam expor com lealdade seus programas e suas metas, os projetos que acalentam para que este se transforme em um país mais próspero e mais justo. Deveriam defender o ideário de seus partidos e a filosofia de ação que os norteia. Deveriam, assim, permitir que a escolha dos votantes não se desse em função de dossiês, de jogadas de marketing, de brilhaturas efêmeras, mas em razão do conhecimento adquirido dos disputantes e de sua identificação com o que pregam. Que então os candidatos lancem suas cartas na mesa que o eleitor paga para ver!

Autor Flávio Lauria 

Publicado:28/09/2024

VOTAR NÃO TERMINA NA URNA

Meus caríssimos leitores: sou um pobre escriba, que semanalmente escrevo para que vocês me leiam. Repito o que digo invariavelmente em mais de mil oito centos e trinta artigos... Populismo é coisa aproveitada pela elite do nosso Brasil! Eu não peço voto para ninguém, mesmo tendo minhas preferências, mas acho que já chegamos ao limite. A corrupção e a ignorância são a fonte de todos os males da sociedade. Por sermos seres sociais e pessoas distintas umas das outras, é a estrutura política o único instrumento que assegura o desenvolvimento individual. Reconhecendo a importância da política e, portanto, conscientes de nosso papel na atual fase da democracia brasileira, estamos também perplexos, o que significa, ao mesmo tempo, irresolutos e tomados de espanto. Na verdade, ficamos condenados a escolher, nas próximas eleições daqui a onze dias, por indicação dos partidos, representantes no Legislativo e no Executivo Municipal, em um contexto extremamente desfavorável, de profunda desconfiança, muito justificada pelos fatos de todos conhecidos. O certo é que, mesmo nessa situação desfavorável, a omissão em nada ajudará a caminhada para o futuro. O voto deve ser dado com aquele cuidado do cirurgião que, mesmo sob o risco de o paciente morrer, faz a intervenção com a frieza do especialista. As opções serão poucas, terão que resvalar entre o ruim e o péssimo com brigas de moleque, sem um norte moral. O gesto do voto não terminará na urna, mas se prolongará na fiscalização coletiva da ação dos políticos nos poderes Legislativo e Executivo, ao longo de seus mandatos. Seria também altamente desejável que ajudássemos na renovação de nomes, queimando aqueles que se mostraram indignos de seus mandatos e que já estão elencados na memória popular. Não percamos de vista que muitos anos se escoarão até que consigamos chegar a uma reforma político-partidária minimamente democrática, sempre fruto do exercício continuado do voto e das pressões populares sobre governos e Parlamento, já que não cabe hoje em dia pensar em revoluções redentoras. O maior problema é que os escândalos estão a esgarçar a consciência ética da sociedade. Á luz do bendito populismo, são prometidos vale gás, bolsas e mais bolsas e muitas quinquilharias sociais, no sentido de anestesiar o povo. Só que por aqui é acintosa a subordinação do discurso da moralidade à lógica de conquista ou preservação do poder. Esta a razão pela qual já não basta denunciar escândalos político-administrativos. Sem que se diminua a vulnerabilidade institucional, a mamata continuará livre, leve e solta. Tratar a roubalheira como uma questão política, e não institucional, é desviar a atenção do sol para os planetas. A corrupção não é desencadeada por perversidade ideológica, mas por falhas institucionais que permitem ilicitudes em cadeia. Estamos cansados.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:25/09/2024

AS MÃOS

Caros leitores, prestem atenção nas mãos de candidatos a Prefeito de Manaus, na propaganda eleitoral ou nas entrevistas, vejam as mãos, nenhuma pega cadeira para bater em adversário, como símbolo criado para o contraste poético na história dos homens. Elas assumem um protagonismo especial. Mãos trêmulas de alguns que parecem querer esmurrar seus adversários, mãos que tocam e retocam papéis e microfone a todo instante. Encontro em cada uma das mãos, algo original no tipo, no formato e nos fins que tinham em vista: vejo mãos carregadas de um lirismo ingênuo, mãos que gesticulam. criam falam, vejo
mãos verdadeiras, acolhedoras e reflexivas. Mas vejo também mãos cruéis, dominadoras, fazendo o contraponto com as mãos calejadas pelo trabalho e demasiado sujas com as dores ou desgraças do mundo. Todas as mãos deveriam ser profundamente assépticas. Exatamente como as mãos de um cirurgião no instante em que apanha o bisturi para salvar uma vida. Pela defesa ferrenha de alguns candidatos, cheguei até pensar que nesses candidatos, só tem mãos limpas. As mãos assumiram um significado importante na história. Elas servem, por exemplo, para barrar os escândalos, a corrupção ou o nepotismo. Como imaginar um governo com mãos autoritárias, ou inversamente, com mãos frouxas. A lassidão permite sentir a vertiginosa sensação de queda e de vazio no poder que acabará por converter a sociedade numa Babel. Falo aqui da Babel complexa que se faz perceber no levantar coletivo de uma multiplicidade de mãos numa espécie de coreografia de massa. É como se observássemos um espetáculo de balé de sombras. Nessa representação real, as mãos são de todas as cores, idades e formatos. Agora fechadas – numa situação de protesto – elas exigem direitos constitucionalmente assegurados e reclamam a segurança pelo menos no uso do transporte coletivo sem serem violentadas. Esperam justiça no ressarcimento das suas perdas e a não humilhação que se evidencia numa simples frase: resistir é perigoso e denunciar é inútil. Novamente as mãos. Mãos agora sitiadas. Mãos que recusam as leis ditadas pelos homens porque eles não representam os verdadeiros interesses e necessidades daqueles que os elegeram. Revemos as mãos do Estado: frouxas, flácidas, hesitantes. Mãos que não sabem encontrar alternativas para os conflitos existentes na sociedade, mãos que levantam o dedo polegar direito – exatamente como nas grandes arenas romanas – para a defesa do direito de propriedade e, ambivalentemente, alçam o mesmo polegar, desta vez esquerdo, para a retórica do direito à moradia daqueles privados de teto. Mãos que, imitando Pilatos, são lavadas perante o público no firme desejo de isenção de responsabilidade pelos atos espúrios ou ilegais dos seus súditos. Mãos do Estado, manietadas ou subjugadas pelos acordos nos bastidores, pela ideologia capitalista e pelas teias dos poderosos, sempre invisíveis ou ocultos. Sempre as mãos.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:21/09/2024

CHEGAMOS AO APOCALIPSE?

Prever com exatidão em que tempo o apocalipse vai acontecer é impossível. As profecias, apesar de precisas, são, contudo, imprevisíveis. Perdido nestas reflexões, ontem a noite concluí que o tempo do apocalipse chegou, e isto porque: 
O mundo está em fogo, a fumaça atinge todo o Brasil, nos outros países não é diferente, Manaus é uma cidade feita de fumaça, e conforme o INPE, o maior número de focos de incêndio, estão no Para, Mato Grosso, e Amazônia, fora isso, 
Mães abandonam recém-nascidos e filhos exterminam pais. Governantes enganam o povo; e o povo desmoraliza governantes. Jovens criminosos são protegidos por leis, enquanto as vítimas tratadas como criminosas. Funcionários pagam, a tempo certo e antecipadamente pela aposentadoria, mas ao se aposentarem têm que pagá-la até morrer. Seres eram feitos individualmente, pelo amor; agora, em série e pela tecnologia. Políticos submetiam-se às doutrinas dos Partidos; hoje, cada político faz a doutrina de seu Partido particular. Valores morais primavam na sociedade, hoje, a primazia é dos valores econômicos. A educação era nacionalista e visava a ética, a moral, o patriotismo, a liberdade; hoje, até a educação é globalizada e subordinada aos ditames do FMI. A saúde, direito existencial, era confiada aos médicos de família; hoje, o povo morre nos umbrais das Casas de Saúde, lotadas de médicos. Problemas eram discutidos e solucionados em diálogos serenos, nas salas de visitas; hoje, o direito ao diálogo se transforma em problemas. Músicas exaltavam o amor, o carinho, a afeição, a saudade, enquanto hoje falam de tapas, bundas e bundinhas. A porta da rua, a praia, a avenida e a pracinha eram lugares de lazer; hoje são locais de violência, agressões e marginalidade. A justiça era invocada e ou avocada com respeito, e acatadíssimas eram suas decisões; hoje, rasgam-se lhe as sentenças em frontal desrespeito ao direito nelas proclamado. Dirigentes e funcionários respeitavam o inviolável e sagrado dinheiro público; hoje, transitam, manipulam e dispendem esse dinheiro como coisa própria. A dignidade do homem estava no seu trabalho; agora, sem o trabalho não há que se falar em dignidade para muitos. No Grupo Escolar, prevalecia o orgulho de ensinar, o amor ao aluno e do aluno; hoje, muitas Escolas são apenas restaurantes da pobreza, instituições complementares do salário mínimo e os lugares onde se gasta brincando de fazer educação. Paletó não era funcionário público; hoje, paletó é funcionário e o governo o paga seis vezes mais do que a um professor público. O lavrador humilde recebia do patrão as garantias do teto e do alimento; agora, assistimos impassíveis à luta desigual dos sem teto, sem emprego, sem comida, disputando humildemente as calçadas e os lixões. A prática da corrupção, desvio de verbas, vencimentos nababescos para quem não trabalha, semana de trabalho reduzida a apenas três dias de atividades, pagamento de aluguel para proprietários de casas principescas, em outros tempos, levava ao repúdio da sociedade e à prisão; hoje, é prática usual e, ainda que condenada, pouco se faz para extirpá-la. A Pátria, por seus grandes heróis, pugnava pela justiça social, nacionalismo, defesa de ideais coletivos, soberania; hoje, a sociedade aceita a deplorável inversão de direitos e valores, lamuriando apenas, sem a garra daqueles que deram a vida pela transformação da iniquidade em justiça e coragem; da impunidade à exemplar punição; da corrupção em honestidade; da escravidão em liberdade e soberania. Espero só que o povo tenha o discernimento para fazer melhor uso do sagrado direito do voto, mas, se isto de todo não for possível, que o leve à não opção porque pior do que está não há nenhum santo no céu que aguente.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:14/09/2024

A QUESTÃO AMBIENTAL

Vejam só caros leitores, parte do presente artigo foi feito em 2019, e a comoção mundial provocada pela ocorrência de incêndios florestais na Amazônia, continua, mas não é só na Amazônia, em São Paulo, em Brasília, Tocantins e Mato Grosso, tem provocado uma destruição de aéreas verdes e de animais afetados pelo fogo nas redes sociais. Em Manaus, o calor é insuportável. A discussão sobre a questão ambiental já não se mostra como uma novidade. Está incorporada aos currículos, às ações de ONGs, está presente nos noticiários... mas aparece, na maioria das vezes, como uma proposta “tradicional”, isto é, enfocando apenas as causas ambientais e propondo apenas mudanças culturais. Precisamos hoje, de uma Educação Ambiental crítica que busque além das raízes, causas e mudanças culturais. A Educação Ambiental hoje deve discutir “ambiente x relações produtivas e mercantis”, buscando a transformação social. Sociedade e cultura não podem se opor à natureza, mas, enquanto o homem permanecer como detentor dos direitos sobre os recursos naturais, desmatando, contaminando o ambiente com chumbo, os rios com mercúrio e esgotos, não teremos solução para os problemas ambientais. As raízes da questão ambiental estão longínquas, podemos quiçá relacioná-las com a descoberta do fogo: quando o homem fez sua primeira fogueira estava praticando, seguramente, seu primeiro ato de agressão ao meio ambiente. Mas as causas da crise ambiental tal como ela hoje se apresentam são mais recentes e estão associadas ao ganho de capital, infelizmente ganho de muito poucos em detrimento de uma maioria que de todo o processo só usufrui fumaça, mau cheiro e doenças resultantes da poluição da água, do ar e do solo. Os segmentos mais marginalizados da sociedade – os trabalhadores pobres, as populações indígenas e negras – são os mais afetados pela crise ambiental, basta observar que lixões e aterros estão sempre próximos às comunidades pobres. O individualismo de uns poucos que se beneficiam da modernidade deve ser substituído pelo coletivismo em prol da natureza. A questão que se coloca então é: como pensar no coletivo sem deixar de “ganhar capital”? A geração de riquezas a partir dos recursos naturais não passa pela luta pelo equilíbrio social e se torna um risco ecológico principalmente para aqueles que vivem à margem dos benefícios, quer em termos locais como globais, repetindo a histórica divisão entre os que podem e os que não podem, entre os que têm e os que não têm. A natureza, sem a interferência do homem, se mostra equilibrada e assim também deveria se mostrar a sociedade que dela usufrui. Necessitamos da implementação de uma política pública coerente, “crítica” e “transformadora”.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:07/09/2024

ELEVAÇÃO DO ESTADO

Comemoramos hoje, a elevação do nosso Estado á categoria de Província, feita através de longa e dura busca da autonomia política, saindo da subordinação ao Pará, feita através de muita paciência velha conhecida da nossa história. Somos um país de pacientes. Sem muito pensar aceitamos o descobrimento; sem imaginação nos fizemos colônia; sem discutir aceitamos a monarquia; através de um grito saímos independentes; noutro grito nos transformamos em república; modelando a nação fizeram de nós uma democracia. Somos um país de paciência para tudo, inclusive de paciência para ver passar o tempo sem nos trazer as soluções prometidas. Podemos nos conhecer também como um país de enforcados que no cotidiano e nas diversões públicas alegres nos deixamos enganar pelo barulho das promessas e das ilusões que nos dão esperanças de algum dia amadurecermos como sociedade política.  A paciência nos faz passar o tempo sem reações e nos ajustar aos problemas que não queremos equacionar. Fazemos da fome um processo telúrico e vivemos do vazio que gera a miséria social. Passamos as noites sonhando sonhos infantis sem nunca querer entrar para sentir que nada somos diante dos largos privilégios sociais. Somos democratas, de várias constituições, sem nunca ganhar legitimidade eleitoral. Viajando ao passado, avaliando o esforço consciente de alguns movimentos caboclos, podemos testemunhar pelo que nos contam, que esta nação sempre reagiu contra os desvios nacionais, reações que não encontraram eco na tendência de se copiar instituições, nas inclinações que sempre ou pelas transformações europeias e depois americanas. O Brasil que sempre esbanjou energias, em nenhum tempo da sua história, soube preparar o seu futuro. Entregou o que não devia entregar. Transou o que devia amealhar. Paciente, com as coisas e os homens, o povo que aqui foi se formando, se acostumou a dever, empenhando o que já tinha ou comprometendo o que ainda não tinha. Improbos administradores se fizeram estadistas e tudo foi negócio de tirar proveitos. No final das contas, se vivemos enforcados, devendo e sempre devendo mais, nossa paciência que é social e individual, nos afaga e nos corrompe, esperando que as coisas que ficam para trás, num dia incerto hão de vir à tona em busca dos salvados do grande incêndio. Se devemos acreditar em alguma coisa sem saber o que, esse crédito damos ao futuro para saber então o que será este país depois dos enganos históricos. Pacientes, outra vez quem sabe, não faltem aplausos aqueles que em tempos que se foram, foram bons pacientes e não reagiram em favor do patrimônio nacional. Depois de ocupados, dificilmente, teremos condições políticas libertárias. Já caminhamos demais para reconquistar o nosso mundo perdido. Pois fizemos da paciência o nosso modo ordeiro de resistir comprometendo nossas riquezas naturais, nossa própria busca de cultura, nosso idioma bem herdado, todos aqueles elementos de formação social que por cinco séculos pareciam estimáveis para consolidar um povo e uma nação

Autor Flávio Lauria 

Publicado:04/09/2024

OS PINÓQUIOS 

Pronto, começaram os debates eleitorais, e a propaganda eleitoral, é tempo de feira de candidatos. Em cada barraca partidária, arrumam os estandes e a embalagem daqueles que se oferecem no mercado eleitoral. Há candidatos que remontam á ancianidade, á antiguidade, pra não dizer velhacaria restaurados como produto novo e novidades pintadas do que se acredita seja o gosto dos fregueses - nós, eleitores - otários em potencial. Na vitrina dos candidatos ressaltam-lhes as virtudes, escondem-lhes as fraquezas. Exatamente o inverso é feito ao descrever concorrentes nos comerciais da campanha. Nessa feira, uns eleitores participam do escambo: votos ou trabalho em campanha são trocados por benefícios - de camisetas a dentaduras no presente; de assessorias a privilégios no futuro. Estes são convencidos pelo toma lá, dá cá. Outros são capazes de votar de graça, por fé, esperança e, às vezes, até por caridade. A estes são dirigidos discurso e imagens persuasivas. No dicionário de português, o verbete marketing aparece como substantivo de origem inglesa significando "o estudo de atividades comerciais, partindo do conhecimento das necessidades e da psicologia do consumidor, a fim de dirigir a produção, adaptando-a melhor ao mercado; estudo de mercado; mercadologia". A mercadologia estendeu-se ao campo da política resultando nos neologismos marketing político e marqueteiro. Encarregados de esculpir perfis de candidatos e melhorar a imagem de governantes, os marqueteiros são especialistas em verossimilhança. Têm sido glorificados pela vitória ou injustamente execrados pela derrota de políticos em eleições ou em pesquisas de popularidade. Nem magos nem incompetentes, são apenas os Gepettos da história, talhando habilmente bonecos de madeira e esperando que se tornem "meninos de verdade", como Pinóquio, de preferência sem crescer muito o nariz. A expressão marketing político é uma metáfora, ou seja, a descrição de uma coisa em termos de outra. Significa tratar os políticos como produtos manufaturados de acordo com as necessidades e a psicologia dos clientes-votantes. Aos marqueteiros cabe adaptá-los ao mercado eleitoral, diferenciando-os dos produtos concorrentes e buscando a fidelidade do eleitor-consumidor. Já que é assim, analisemos e avaliemos as ofertas pela mesma ótica. Vale perguntar: o que está por dentro da embalagem do candidato produzido pelo marketing político? O que a propaganda realça ou esconde? Que garantias o produto oferece? As qualidades alegadas são convincentes? De onde vem a sua confiabilidade? Já fui vítima de propaganda enganosa dele ou de seu partido? Apliquemos o Código de Defesa do Consumidor aos produtos oferecidos no mercado eleitoral, punindo com o esquecimento no dia cinco de outubro. Pelo menos é um bom exercício de cidadania.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:31/08/2024

BATALHAS DA VIDA

A história é um relato das relações humanas. Suas conquistas, seus triunfos, as batalhas ganhas, no relacionamento social, empresarial ou político. Mas também as batalhas perdidas. Pequenas e grandes perdas do cotidiano. As que nem são percebidas, ou nem são consideradas perdas efetivas, como, por exemplo, o próprio tempo vivido. Por outro lado, a submissão econômica, a opressão e a irracionalidade social, sendo sempre endêmicas na história são causadoras de tantas perdas. Quantos de nós trocamos por remunerações, muitas vezes irrisórias, os nossos anos mais floridos e as horas mais coloridas dos nossos dias? As vicissitudes da 

própria condição humana levam os homens, de um modo geral, a se preocupar com as relações entre a felicidade e a virtude, a liberdade e a justiça, a fé e a consciência, o bem e o mal e, inserindo nesses conceitos as perdas do dia a A notícia Pai mas todos os d tá preso abusada a família dia. Alguém já disse que não morremos de uma vez. Morremos aos poucos, a cada dia, com o enfrentamento das pequenas decepções, desenganos, dissabores, das perdas, mesmo que banais. Um amor incompreendido. A morte de parentes, de grandes amigos ou mesmo um mero desconhecido da via pública, vítima da belicosidade do homem dos nossos tempos. Em confronto com isso tudo e, nos entregando à passividade do silêncio, chegamos à perda maior de todas elas. A derradeira. A definitiva, como paradigma do absoluto: a nossa própria morte. Como dizia Kafka: "Não a morte gloriosa dos deuses, dos santos ou dos heróis, mas a morte cotidiana, banal, burocrática, médico-legal". A que nos faz ficar fitando o vazio! A que não tem retorno e que, de resto, somente nos cabe o cultivo da esperança da ressurreição, muito embora sempre com o medo do incumprido. Para quem me conhece mais amiúde sabe que além de ser um doador sou um admirador  da organização humanitária internacional criada em 1971, na França, por jovens médicos e jornalistas, Médico sem Fronteiras, toda vez que escuto a musica Fix You com Coldplay, eu choro, choro por lembrar dos pequenos sendo pesados em pesos que talvez não deem 3 quilos,  Para George Steiner; "Todas as dicotomias que determinam a condição humana, como a vida e a morte ou a luz e as trevas, podem ser compreendidas como representações específicas, embora difusas, da dualidade absolutamente estabelecida da presença e da ausência". Já Heidegger, que era agnóstico, fez com que a consciência da morte fosse determinante para a compreensão do significado da vida. Para ele, "apenas a consciência de nossa mortalidade torna a nossa existência preciosa. Se não morrêssemos, tudo perderia o sentido. Tudo o que fazemos hoje, poderíamos deixar para amanhã".

Finalmente com o apoio e fundamento na crença religiosa, de qualquer culto que seja, nas grandes perdas há de se fazer a ligação ainda mais íntima com o Ser Superior no aguardo da passagem para a espiritualidade plena. É nessa ocasião que nos entregamos à solidão pela iminência da presença de Deus. Às vezes parece que economizamos nossos sentimentos, seja consciente ou inconscientemente. Somos levados pela maré do comodismo nos relacionamentos e arrastados pela onda do corre-corre da vida contemporânea. Ficamos inertes em palavras e gestos com aqueles que amamos, incluindo ai, infelizmente, nossos próprios pais. Por vezes, permanecemos à espera, quiçá, do Dia dos Pais para dar um presente, nem sempre agregado a um cartão que expresse nossos sentimentos e muito menos junto a um "Eu te amo". Com relação às mães a história não muda muito. Não que seja uma obrigação. Muito pelo contrário, a demonstração de nosso amor deve ser considerada, pura e simplesmente, um prazer. Eu achava  com toda a sinceridade que durante e após a pandemia e pelas inúmeras perdas , o ser humano seria mais humano na expressão exata da palavra e seus sinônimos como compreensivo, bondoso, bom, benevolente, benévolo, humanitário, sensível, generoso, caridoso, piedoso, misericordioso, afável, compassivo, condolente, clemente, caritativo, indulgente. Ledo engano, mas a vida continua. Fico a refletir e pergunto-me. Onde estão as pessoas de bem? por que pessoas más se unem com tanta facilidade e nós que nos consideramos de bem não nos unimos também?

É o que temos assistido de braços cruzados e olhar assombrado, o império do crime, o domínio da marginalidade, a força da bandidagem; atenção ao criminoso, o direito estabelecido ao delinquente, reconhecido e protegido, pela omissão do próprio Estado maior responsável por tudo de errado que assistimos por aí. Vivemos uma guerra. E o pior estamos em sociedade perdendo essa luta. O inimigo já não se encontra em nossas fronteiras já o vemos em nossas trincheiras.

Se considerarmos o estado tendo o governo como responsável maior, não nos esqueçamos que governo somos todos nós , sociedade organizada ou desorganizada como a nossa. Daí aquela expressão alemã: governo bom é aquele que governa pouco; quem deve governar é a sociedade judiciosa. O japonês, outro povo a frente cinqüenta anos de nós vai mais além nas suas elucubrações: quanto menos governo nas coisas melhor ante sociedades capacitadas a dirigir-se e administrar-se.Lógico que governo aqui citado é o oficial, burocrático, delegado pelas "gentes" promotor e cumpridor das leis minimamente organizadas ante o poder maior, o plenário em que toda população tem cadeira cativa.’;’Com todo este poder, onde estamos nós cidadãos? ausentes do campo de batalha, omissos considerada a omissão o maior dos pecados; assim não chegaremos jamais na formação de uma sociedade organizada, saudável.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:24/08/2024

A Força da Palavra

Escrita ou oralmente expressa, a palavra tem ampla e significativa importância, por isso de tal forma compromete e responsabiliza quem a profere que, muitas vezes, exige-se a confirmação para não restar a mínima dúvida acerca do que foi publicamente afirmado. O cidadão comum, a autoridade de qualquer natureza, todos respondem de alguma forma pelo que dizem, daí a exigível discrição, a continência da linguagem, especialmente em torno do que se deve expressar quando está em causa o interesse comum, e chega a ser uma forma de sabedoria dizer apenas o necessário, no momento certo. Daqueles que por dever de ofício são quase obrigados a falar em público, muitos evitam o improviso, ou para não omitir fatos e nomes, ou para, medindo as palavras, não cometer excessos, enfim, para preservar a autoridade do cargo no qual estão investidos, imunizando-se a cobranças. O noticiário através da televisão obriga a ouvir, ou o que não se quer, ou o que não se deve, sobretudo quando choca, a ponto de, tão estarrecedora a notícia, preferir-se aguardar o jornal do dia seguinte para uma necessária conferência, para a possível confirmação do que foi dito por determinada autoridade. Mas fiz essa introdução para falar sobre o debate televisivo dos candidatos a Prefeito em todo o Brasil, a metodologia dos embates é feita para quem tem a melhor oratória, e fala melhor, e não aquele que expressa a confiança, e mostra ou tenta mostrar seu programa de governo, sem atacar, sem ultrajar nenhum adversário, o que vale é a força da palavra e não quem mostra ser o melhor gestor para as cidades.
 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:17/08/2024

A FIGURA PATERNAL

Este artigo foi escrito por mim já tem dez anos, modifiquei o lapso temporal e reescrevo para relembrar meus filhos e meus netos que são filhos duas vezes. Sinto que economizamos nossos sentimentos, seja consciente ou inconscientemente, mesmo tendo como mote a vida é um sopro, somos levados pela maré do comodismo nos relacionamentos e arrastados pela onda do corre-corre da vida contemporânea. Mas hoje faço uma homenagem como pai e avô, uma reflexão de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade. Ficamos inertes em palavras e gestos com aqueles que amamos, incluindo ai, infelizmente, nossos próprios pais. Por vezes, permanecemos à espera, quiçá, do Dia dos Pais para dar um presente, nem sempre agregado a um cartão que expresse nossos sentimentos e muito menos junto a um "Eu te amo".
Entretanto, nos achamos cada vez mais donos do nosso próprio nariz, independentes e detentores das rédeas de nosso próprio destino e nos esquecemos de que, se fomos vencedores da efusiva corrida pela vida - da concepção do espermatozóide campeão ao óvulo - tal vitória apenas foi possível de ser obtida, a partir da sublime e espetacular oportunidade de viver dada por nossos pais. E o nascimento representa apenas o primeiro momento de uma longa jornada, pois é a partir dele que os genitores da criança começam a aprender o que de fato representa a palavra pai/mãe. Imaginemos o que seria de nós, se eles não tivessem cuidado, dia após dia, de nossa saúde e educação. Se hoje podemos caminhar com nossas próprias pernas, isso só foi possível após a luta incansável de nossos pais na batalha da criação, hoje vencida através de nossas próprias vidas. É por essas e outras razões que, em homenagem aos pais, traduzo neste artigo a alegria indecifrável que é a experiência de poder gerar, cuidar, educar e amar um filho. Ao mesmo tempo em que, cada dia mais, percebo, amadureço e solidifico a certeza da inigualável alegria que é ser filho. Sempre achei interessante um trecho da música "Pais e Filhos", escrita por Renato Russo: "Sou uma gota d'água / Sou um grão de areia / Você me diz que seus pais não lhe entendem / Mas você não entende seus pais / Você culpa seus pais por tudo / Isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser / Quando você crescer?" Ela nos faz perceber que nós, filhos hoje, somos os pais do futuro e, como tal, devemos buscar compreender mais nossos pais: Felizes, pois, os filhos que ainda têm seus pais e podem participar dessa troca de experiências formidável. Eu me considero feliz por ser filho do homem (infelizmente já partiu) e da mulher que Deus escolheu para serem meus pais, pois eles foram minha estrela guia, meu farol, meu alicerce, minha razão de viver. Sempre me deram o exemplo da honestidade, da gratidão, da luta, da perseverança e me orgulham por servirem de espelho naquilo que fizeram e fazem. Acho que também dei essa lição de vida e de amor aos meus filhos. Por isso, você filho(a) não deixe para depois a palavra ou o gesto de carinho guardado a sete chaves. Abra seu coração, pois amanhã pode ser tarde. Como cantava Renato Russo, no refrão da canção já citada: "É preciso amar as pessoas / Como se não houvesse amanhã / Por que se você parar, pra pensar / Na verdade não há." Feliz Dia dos Pais. Aos meus filhos Rafael e Gabriel, e aos meus netos Matheus e Bernardo.
Este artigo foi escrito por mim já tem dez anos, modifiquei o lapso temporal e reescrevo para relembrar meus filhos e meus netos que são filhos duas vezes. Sinto que economizamos nossos sentimentos, seja consciente ou inconscientemente, mesmo tendo como mote a vida é um sopro, somos levados pela maré do comodismo nos relacionamentos e arrastados pela onda do corre-corre da vida contemporânea. Mas hoje faço uma homenagem como pai e avô, uma reflexão de todos estes anos de convivência, ensinamentos e aprendizado; e de esperança em construir um alicerce seguro que possa suportar para sempre, em qualquer época, os solavancos desta vida, para que sejam sólidos de educação, caráter, dignidade, honra, respeito ao próximo e religiosidade. Ficamos inertes em palavras e gestos com aqueles que amamos, incluindo ai, infelizmente, nossos próprios pais. Por vezes, permanecemos à espera, quiçá, do Dia dos Pais para dar um presente, nem sempre agregado a um cartão que expresse nossos sentimentos e muito menos junto a um "Eu te amo".
Entretanto, nos achamos cada vez mais donos do nosso próprio nariz, independentes e detentores das rédeas de nosso próprio destino e nos esquecemos de que, se fomos vencedores da efusiva corrida pela vida - da concepção do espermatozóide campeão ao óvulo - tal vitória apenas foi possível de ser obtida, a partir da sublime e espetacular oportunidade de viver dada por nossos pais. E o nascimento representa apenas o primeiro momento de uma longa jornada, pois é a partir dele que os genitores da criança começam a aprender o que de fato representa a palavra pai/mãe. Imaginemos o que seria de nós, se eles não tivessem cuidado, dia após dia, de nossa saúde e educação. Se hoje podemos caminhar com nossas próprias pernas, isso só foi possível após a luta incansável de nossos pais na batalha da criação, hoje vencida através de nossas próprias vidas. É por essas e outras razões que, em homenagem aos pais, traduzo neste artigo a alegria indecifrável que é a experiência de poder gerar, cuidar, educar e amar um filho. Ao mesmo tempo em que, cada dia mais, percebo, amadureço e solidifico a certeza da inigualável alegria que é ser filho. Sempre achei interessante um trecho da música "Pais e Filhos", escrita por Renato Russo: "Sou uma gota d'água / Sou um grão de areia / Você me diz que seus pais não lhe entendem / Mas você não entende seus pais / Você culpa seus pais por tudo / Isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser / Quando você crescer?" Ela nos faz perceber que nós, filhos hoje, somos os pais do futuro e, como tal, devemos buscar compreender mais nossos pais: Felizes, pois, os filhos que ainda têm seus pais e podem participar dessa troca de experiências formidável. Eu me considero feliz por ser filho do homem (infelizmente já partiu) e da mulher que Deus escolheu para serem meus pais, pois eles foram minha estrela guia, meu farol, meu alicerce, minha razão de viver. Sempre me deram o exemplo da honestidade, da gratidão, da luta, da perseverança e me orgulham por servirem de espelho naquilo que fizeram e fazem. Acho que também dei essa lição de vida e de amor aos meus filhos. Por isso, você filho(a) não deixe para depois a palavra ou o gesto de carinho guardado a sete chaves. Abra seu coração, pois amanhã pode ser tarde. Como cantava Renato Russo, no refrão da canção já citada: "É preciso amar as pessoas / Como se não houvesse amanhã / Por que se você parar, pra pensar / Na verdade não há." Feliz Dia dos Pais. Aos meus filhos Rafael e Gabriel, e aos meus netos Matheus e Bernardo.
 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:10/08/2024

Somos todos cúmplices

Em meu último artigo no início dessa semana, mostrei a fadiga dos que tentam se perpetuar no poder, mas não expressei minha opinião sobre tempo para políticos, síndicos e quem exerce poder por voto, é simples, é só acabar com reeleição, aumentar o mandato dos ocupantes, e votar consciente. Relembro um filme francês antigo, dirigido por André Cayatte, tem como título “Noas Somes Tous des Assassins” (Somos Todos Assassinos). É um filme de tese, como na época era nomeado e busca mostrar o perigo das injustiças que rondam a adoção da pena de morte. Porém, vai mais longe e defende a tese de que toda a sociedade é responsável pelos comportamentos desviantes de seus membros. Pensando na sociedade brasileira atual, baseando-nos na observação dos fatos expostos na mídia, concluímos que, como dizia Cayatte, se não somos todos assassinos, somos todos cúmplices. O crime de corrupção, sobretudo o da corrupção nas altas esferas, e quando se fala de altas esferas é nos píncaros da administração pública e da sociedade civil, virou endêmico. Empresários, magistrados, legisladores, administradores estão envolvidos nas denúncias que, em vão, a mídia oferece. O escândalo de hoje serve de borracha para apagar o de ontem. E, levianamente, esquecemos os que ficaram para trás, que canalizaram o dinheiro suado dos impostos pagos pela classe média para o bolso de alguns abonados. O valor que escorre no ralo da corrupção é estimado em 30 bilhões. E a sociedade brasileira mesmo com todas essas manifestações que aconteceram e acontecem, continua omissa, apática e por isso mesmo conivente. Em todas as cidades, lembrando aqui especialmente a nossa, aumenta a taxa de mortalidade em assaltos, apesar do programa Ronda nos Bairros. A discussão política que domina e chega aos jornais não leva em conta as necessidades da comunidade, sendo apenas: quem será o candidato para os cargos majoritários nas eleições vindouras? Qual o índice de aumento de salário do Poder Executivo e Legislativo? Só interessa a cada um o próprio destino político, nem sequer o de seu partido, pois mudam de lado a cada eleição. São de um individualismo feroz e o de um descaso evidente com os interesses sociais. O ensino básico público no Brasil foi reprovado, e a informação passa ao largo das preocupações da sociedade. Mas é essa educação, atabalhoada, mal ministrada, mal remunerada e mal digerida, que vai gerar já no futuro e já está gerando no presente, os trombadinhas, os aviões do tráfico, os meninos de rua que, sem condições e preparo, não encontram como se encaixar no mundo do trabalho. Muitos, enquanto alunos da escola pública, já estão no mundo do crime, em assaltos à mão armada, fato testemunhado por professores do Centro e da periferia. Assim, a geração dos bandidos atuais, será substituída por outra mais jovem, mais preparada e mais aguerrida, pelos que sobreviveram à guerrilha urbana. Somos todos cúmplices e coniventes, porque nos omitimos. Nunca estivemos tão indignados, mas, sempre estivemos sendo roubados, surrupiados em nossos direitos mais básicos de viver dignamente. E aqui finalmente relembro uma frase de Victor Hugo em os Miseráveis: “Os grandes são grandes porque talvez os seus súditos estejam de joelhos”.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:03/08/2024

FADIGA

Caros leitores, acredito que já fiz artigos com este título umas cinco vezes, mas sempre com textos e construções diferentes. Como é sabido, os aviões têm idade-limite para voar pelo desgaste natural dos metais de que se compõe sua fuselagem. É o que se chama de fadiga dos metais. Quando em uma administração qualquer, seja na iniciativa publica ou privada, como prefeitos, governadores, CEOS de empresas, síndicos de condomínios, começarem a surgir, indecisão, inapetência, e carência de aptidão nas relações da administração do quotidiano, não é exagero afirmar que também ele está a padecer do mesmo mal. Por isso a reeleição em qualquer nível ou a continuidade por muito tempo, leva a não se diagnosticar mais problemas, além de surgirem apadrinhamentos e por via de consequência, improdutividade. Eu ja fui síndico em dois prédios, e nos dois renunciei após dois anos. Ao pé da letra, fadiga é um fenômeno que se manifesta nos materiais submetidos a solicitações variáveis e que abaixam significativamente o limite de resistência à ruptura. Em muitas situações, verificam-se rupturas imprevistas, sem que o material tenha atingido sua carga de ruptura. Este método visa avaliar o comportamento dos diversos materiais aplicados na indústria, utilizando-se corpos de prova normalizado. E isso acontece com nosso corpo e nossa mente também. Sempre se espera que esse cansaço venha a demorar mais. A incompetência, entretanto, é tão explícita que, precocemente, a mesma doença ataca os humanos que insistem em permanecer no poder, vejam o caso de Trump, o próprio Biden que só não continuará porque foi forçado, e tantos outros, Gerentes, administradores, síndicos, prefeitos,, governadores, e tantos outros, que não conseguem ficar sem ter o poder. É a fadiga dos que aturam. Mas a obsessão pelo poder, desemboca na pachorrenta de total letargia e de congênita indecisão no comando dos deveres funcionais.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:27/07/2024

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE POLÍTICOS

Relembro aspectos menos encantadores do louvado jeitinho brasileiro (também responsável pela burla a leis, em nome do (‘‘jogo de cintura’’) para buscar compreender as cenas grotescas a que assistimos, entre membros do Poder Legislativo, nas diversas esferas, em diferentes pontos do território nacional, em diferentes momentos. É certo que também assistimos a processos inéditos, que levaram à retirada, da cena oficial, de figuras que anteriormente ocuparam lugares destacados, tudo provocado por comportamentos inaceitáveis, antirregimentais, ilegais. Discussão franca e abertura pública dos procedimentos — facilitada em boa parte pela presença correta da mídia — propiciaram o início de novos ares para a democracia tenra que se constrói no Brasil. Lamentavelmente, não deixaram de continuar havendo sopapos e troca de insultos entre outros representantes eleitos pelo povo para representá-lo na defesa da cidadania e não na cópia das características que mais o fragilizam, porém o início de transformação é evidente. 
É por isso que vale a pena que as autoridades, por exemplo, do Poder Legislativo, pensem alternativas para a formação dos políticos, que haverá de redundar em benefícios para a população como um todo, tanto em termos de ser mais bem representados quanto em relação à possibilidade de transformação de mentalidade. É evidente que o Brasil tem, dentro de si, a convivência de vários brasis, não só na óbvia diversidade étnica, racial, cultural, religiosa — e já é difícil adjetivar, tão diversa é — como também na multiplicidade de modos de mentalidades, que se combinam com a diversidade. Não se trata de refletir sobre a heterogeneidade de, por exemplo, posições políticas que convivem no interior de cada uma das diferentes manifestações da diversidade. Trata-se de algo diferente, que torna o quadro mais complexo, impossibilitando previsões.
Que tal imaginarmos, por exemplo, os políticos fazendo visitas por todo o Brasil, não apenas os candidatos a presidente, que não podem escapar da sina, mas candidatos em geral, para que possam conhecer o Brasil de que tanto se fala, mas que pouco se conhece. Que possam ver as populações diversas, expressando a pluralidade cultural que temos, conversando com o povo, pelas ruas, sem intermediários ou mediadores. Seria uma forma de compreender melhor a dificuldade que é a construção da democracia, constatar que o empenho compensa, exigindo esforço, que auscultar mentalidades é uma forma de colocar em xeque a que se tem.
Temos representantes que nos dignificam e mostram a força da história do país: que possam ser líderes e mestres de um processo e uma escola, em que a argumentação competente, gentileza e conhecimento do Brasil sejam vitoriosos contra modos menores de exercer, ou propagandear, a possibilidade de representar o povo brasileiro claro, mas para conhecer in loco a realidade porque atuam, cujos interesses defendem. Somos um povo habituado, o mais das vezes, a transformar as coisas mais graves em jocosidade, levando a atitudes que a tudo vulgarizam, banalizando o que é nobre e digno, muitas vezes ridicularizando-o, ou menosprezando conquistas importantes. 
Pensemos numa escola de formação de políticos com temas como democracia, instâncias do poder, presidencialismo e parlamentarismo, história dos partidos políticos, engenharia dos votos, sistemas eleitorais e acima de tudo uma boa carga horária de ética. Se bem que tem alguns velhos conhecidos que só querem fazer da política balcão de negócios.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:20/07/2024

PROMETO, CUMPRIR É OUTRA COISA

Já no meio do sétimo mês do ano, mantenho uma longa conversa comigo mesmo que serve de exercício para mutações. Nunca é demais o ato de meditar, como também nunca é demais o ato de escrever. O papel acolhe a palavra que pronuncio, congelando-a em um pacto de tempo indefinido. Hoje me exponho, amanhã releio o velho escrito que poderá não fazer mais sentido, pouco importa em que época o tenha explicitado, as letras penhoram um momento vivido. Assim, vou rabiscando traços de mim em folhas em branco, traços e juras. Estamos em época de campanha política municipal, e as promessas tanto de prefeitos ou de vereadores são das mais notáveis às mais esdruxulas possíveis. Recebo no meu celular, pedidos de votos, e de programas não só irreais, como se eu fosse um idiota, igual aos que me mandam pedidos. O leitor pode achar que é radical a proposta, mas se analisarmos profundamente a política, tomada em significado de governo, direção e administração do poder público, sob a forma do estado, faliu, tornou-se sem sentido, não funciona mais. No Brasil e no mundo. O bem comum embutido na palavra logrou o fracasso. O homem não aprende muito com a história. Todos os regimes políticos tornaram-se arremedo de sua invenção grega original. Uma falácia em nome da isonomia democrática, da tal politika praticada por homens sem ética, res publica em causa própria. O estado de miséria decorre das políticas públicas; os políticos alimentam-se de pobres. O poder que emana do povo é contra o povo: com a classe política, nenhum problema é resolvido. A sacralização dos políticos resulta de sua contraditoriedade: elege-se político para nada. Pela Constituição, os políticos são legisladores. Nenhuma lei, porém, se lhes corta privilégios. A esperteza do que hoje resolvemos chamar de empreendedorismo chega à ganância, que, pelos caminhos tortuosos do sistema financeiro, dilapida o patrimônio do povo, com total desfaçatez. Parece que temos em mãos – e assim espero – uma crise sem precedentes em nossas estruturas republicanas. Certamente, essa impressão de que “não sobra ninguém para contar a história”, tal a amplitude da corrupção, não é verdadeira. Ainda há em nossas elites uma massa crítica de pessoas de bem, em que pese seu proverbial imobilismo, porque o status quo lhes é benéfico. Mas, talvez para não perder os dedos, cedam os anéis e se movimentem, ao lado do povo, para fazer os expurgos de limpeza do terreno e iniciem as necessárias reformas estruturais.
Ao longo dos séculos, política deixou de ser um valor e de ter um sentido para a vida humana. Desde a Idade do Ouro, quando os homens começaram a se organizar socialmente, à pós-modernidade, a política é responsável pelo fato de a humanidade ser infeliz. Em nome da lei, do estado ou de Deus, tudo é permitido e permissivo. A política é um castigo como o mito de Prometeu. Ela opõe-se por conveniência a todos os conceitos de decência, seja pela injustiça comunitária, pelo lastro irrefutável da corrupção, ou em oposição à virtude oriunda da themis – lei divina incidente no universo, a physis, a ordem do mundo, ou nomos e a dike – justiça entre os homens e as coisas. O caos é político. A crise é política. A esculhambação é política. Todo corpo de leis reconhecido tem origem política, portanto, não funciona. A política é um presente grego. A política, além de corromper, mente, rouba, deturpa, mata e nunca, mas nunca mesmo muda para melhor a situação social e econômica.
Qual a razão de terem tantos candidatos a vereador? e a briga para ou permanecer no poder executivo ou ser Prefeito pela primeira vez? As promessas são esquecidas logo que são eleitos, cumpri-las é tarefa quase impossível. É razoável questionar por que então manter-se a classe política? E se a classe política desse um tempo? Deixasse de existir por pelo menos uma década e permitisse à sociedade se organizar em torno de um novo paradigma que não tivesse o vírus da política nem dos políticos? Quem pode afirmar que não, se nada foi tentado? E se os políticos não fossem mais escolhidos pelo voto, mas pelo veto e durante o (longo, espera-se) período de hibernação, lhes fosse imposta uma radical reciclagem que incluísse o fim de todos os seus privilégios, como salários altos, imunidade parlamentar, nepotismo, pagamento de despesas extras? O mundo, o Brasil está a exigir um novo modelo político. O que acontece atualmente no País, ainda que haja precedentes planetários, é indigno, mas tem de servir para promover mudanças. 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:17/07/2024

Hino ao Tempo

Não sei e ninguém sabe se para o ano estarei neste ou em outro teclado, comentando sobre outros assuntos, porque a vida como eu estou cansado de dizer, é um sopro. Pergunto-me que tempo é esse que vivi ou qual será o tempo que viverei. Não importando a resposta que possa ter acalento a verdade de que o principal é querer viver. Sinto-me com os mesmos seis anos em que fui estudante do Grupo Escolar Getulio Vargas na Cachoeirinha. Ou com os mesmos 11 de quando ingressei no Instituto de Educação do Amazonas, ou quando aos 15 ingressei no Colégio Estadual do Amazonas. Tenho a mesma vontade de estudar que tinha ao galgar, por muitas vezes, o Quadro de Honra Mensal daquela escola, pelas notas obtidas. Gosto, hoje, de esportes com a mesma satisfação que tinha quando os praticava. Futebol, me atrai à televisão quando me sinto reintegrado em minha imagem de jogador. Sinto-me bem como aos 17 anos, quando me preparava para o vestibular da Faculdade de Administração, estudando 12 horas por dia e aprovado sem problemas. Venço o tempo enfrentando os desafios. Os mesmos que prometi enfrentar como Administrador, por toda a vida, como professor de Teoria Geral da Administração, Administração Publica, Recursos Humanos, Planejamento Estratégico, Empreendedorismo. É importante fazer do tempo seu aliado, na experiência que lhe confere. Olhar para os jovens como pessoa que sabe mais do que eles pronto a passar-lhes a grandeza e a força adquiridas. Para poder acordar pensando no que terá de fazer durante um dia de trabalho e nunca num ócio que lhe destruirá rapidamente. Poder sentir o ímpeto de um jovem de 25 anos que foi campeão de um torneio de futebol no Senai. Ter a força e a vibração que me fazia aguardar os domingos pela manhã, para jogar no campo da Santa Rita ou no Parque Amazonense, time dos jogadores da Cachoeirinha que me fez conviver com Heraldo, Arlindo, Marcelo, Yane, Nelson, Clovis meus companheiros de pelada. Tudo isso, em minha vida, haveria de dar forças para substituir meu pai, após sua morte, na Loja Maçônica cumprindo jornada de felicidade. Para me sentir honrado em ser membro do Conselho Regional de Administração, da Associação de Escritores do Amazonas e de ser articulista de vários blogs e jornais. Tenho os mesmos 22 anos de quando me formei em Administração, dedicando-me, na profissão e mostrando que as técnicas de administração continuam vindo de fora, os novos enfoques dão um sentido mais social ao tratamento das pessoas dentro das empresas e o centro das discussões passou a ser outro. Ou quando terminei meu mestrado em Administração, e também quando fiz o doutorado em Planejamento Governamental. Enfatizo que nos tempos atuais, não se espera que um administrador moderno conheça apenas as tarefas requeridas no seu trabalho normal e restrita às suas funções. Numa era caracterizada pela globalização, o administrador não deve limitar seus conhecimentos á empresa ou ao seu país, mas sim a tudo que está acontecendo no mundo. Os desafios continuam tão fortes como antes, encontrando-me com a mocidade e a têmpera que o tempo não consegue destruir. Este é um hino que entoo ao tempo, meu amigo e meu conselheiro, que me dá forças e honradez para beijar meus filhos e netos de braços com a dignidade e abraçar meus amigos com a sinceridade que carrego no coração. Que venham os desafios. Estou firme, amparado pelo tempo.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:13/07/2024

MEMÓRIAS AFETIVAS

O leitor ou a leitora vão achar que talvez a sensibilidade tenha aflorado no articulista, ou, que pela data natalícia, ficamos mais vulneráveis, e com mais maturidade, a verdade é que deixamos de lado algumas cizânias acontecidas no decorrer de nossa passagem, lembrando sempre que a vida é um sopro, Escrevo o presente, talvez, pela instabilidade emocional pelo estado de minha mãe, Confesso que não sou um especialista em lembrar, mas existem detalhes na vida que dificilmente deixaremos de recordar, amigos, filhos, namoros, brincadeiras, viagens, lembranças que surgem por meio de elementos sensoriais e emocionais. Assim, ela aparece a partir de gatilhos específicos, como sons, cheiros, sabores e cores que remetem a algum momento importante que aconteceu no passado.

Faço esse introito para falar sobre a importância de lembrar. Dentre os muitíssimos atributos necessários a um bom vivente, destaco e ressalto ser o dote da lembrança a mais esplendorosa e insuperável necessidade que porta o homem, que é a memória. Principalmente, aquela que é concedida aos que fazem do relato humano uma saborosa referência às acontecências havidas e sabidas através de um ato vivido, ou então, por intermédio daquelas outras que são agregadas nas incontáveis andanças vida afora, parte indelével de todos os nossos cotidianos.
E nesse mister, sou o próprio acusado da mais trágica e profunda incapacidade de reter referências de memória que me oferte o deleite no que se entende pelo profundo prazer que contém o agradável e conveniente bom lembrar, excetuando é claro, os filhos, netos, musicas, momentos com amigos, que depois descobri que não eram tão amigos assim. Relembrar sempre será o mais excepcional motivo na existência de todas as havidas saudades. Mas se desse predicado não fui agudamente favorecido, mesmo assim mantenho-me contente em saber dessa presença em meio a alguns amigos, os quais considero os mais completos "narrativistas" do que se possa saber do valor que contenha uma prosa enriquecida por detalhes minuciosos envolvendo assuntos de variadíssimos teores e de finas lembranças. Jamaistive o privilégio de observá-los conjuntamente, embora cada qual ao seu modo me transmita a forte convicção da importância dos seus lembrares. 
E de outro lembrar, este inesquecível por sua evidente atualidade e que ocorre em Manaus - como houvesse ser caprichosa e "repentemente" encantado mais pelos forasteiros de que por aqueles aqui mesmo paridos, onde nos recentes tempos tem dado demasiada "lembrança" àqueles que, mesmo na justificativa discutível de serem experts funcionais, perderiam consistência e importância se confrontados com as sapiências por aqui sabidamente havidas. Acima, fui de própria confissão ser parco o meu lembrar, mas não tanto que me leve a "esquecer" as fortes vozes amazonenses berrando o orgulho do inesgotável "rubro veio" contido no valoroso coração de todos nós daqui do longínquo Amazonas
Sem ser, e menos ainda querer pretender parecer xenófobo, intolerante ou piegas, o que se a mim imputado seria de profundo desconforto, insisto, porém, no inestimável valor que contém uma tarefa quando executada com a melodia do nosso sotaque e no benefício das nossas próprias genuinidades: - enquanto outras praças "vendem" suas qualidades, nós nos lembramos de "comprar" prerrogativas!.todo aquele que isto faz ainda mantém a esperança de que nem tudo se "apague" nos registros do bom lembrar - para lhes afirmar admiração e dizer que, sem a existência da boa memória de alguns, duvido que melhor soubesse das minhas saudades!

Mas jamais esquecerei momentos, com amigos como Nahum Falcão, Porfirio Lemos, Frânio Lima, Jorge Álvaro, Oyama Ituassu, Elcy Barroso, Raimundo Cabral, Celerino Leite, Leal da Cunha,Antônio Bulcão (este de inquestionável tolerância) Sergio Rogerio e Antônio Sanches, Evandro, Alexandre Carlinhos e Evelyn, primos, e por via de consequência, Maria, Michelle e Célia, meu pai, minha mãe, meus filhos, minha ex-mulher Ana Lucia, e meus netos, estes, minha alegria de viver. Aproveito para em nome de outros de inquestionável lembrar, que trazem a felicidade, parabenizando-me pelo dez de julho, data em que vim ao mundo, também agradecer muitos momentos afetivos, mas os tenho guardado dentro do peito. Gratíssimo.

 

 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:09/07/2024

MULHERES NA POLÍTICA

Há uma evolução da presença feminina na sociedade como um todo. Pouco, pode-se observar, se decidirmos analisar a presença das mulheres na política. Na eleição municipal deste ano, temos uma candidata que pontua nas pesquisas, Maria do Carmo Seffair, isso se não ficar como vice de algum prefeiturável. Apesar de alguns avanços notáveis, como o fato de hoje as mulheres poderem ocupar 30% das vagas destinadas aos partidos nas eleições – coisa que vigora para todo o País, diga-se de passagem – é difícil imaginar quando as mulheres vão poder dividir com os homens os cargos públicos, na real proporção da participação feminina na sociedade – mais de 50% do eleitorado. Basta recorrermos à ponta do lápis. Nas últimas eleições, as mulheres não conseguiram ocupar nenhuma das oito vagas de deputados federais do estado, temos apenas cinco mulheres na Assembleia Legislativa, de vinte e quatro vagas, e, analisando só o caso de Manaus, apenas quatro mulheres conseguiram se eleger vereadoras. Em alguns casos experimentamos retrocesso. Nas eleições majoritárias, em relação ao sexo feminino, o Amazonas seguramente é o Estado menos avançado do Norte. Disputamos o último lugar com o Piauí. Ao contrário da Bahia e Ceará, só para citar esses dois, nunca elegemos uma mulher prefeita de capital. Muito menos uma governadora, como o Rio Grande do Norte e o Maranhão. Tivemos sim senadoras, como Eunice Michiiles, Vanessa Graziotin, mas são poucas as representações femininas. Os quadros políticos no Brasil, e o Amazonas não é diferente, ainda se formam, em percentual elevado, no ambiente familiar e dificilmente um pai aposta em uma mulher na vida pública se tem um filho que possa lançar primeiro seria o exagerado machismo o culpado por tudo isso? Novamente só um estudo sociológico para responder, mas, sem sombra de dúvida, no dia em que a mulher depender menos do âmbito familiar para chegar à política, vai andar com muito mais celeridade e confiança. Exemplos em outros Estados já se tem de sobra e no mundo eles se multiplicam a cada dia. Na Alemanha, a primeira-ministra foi uma mulher, Ângela Merkel. Elen Sirleaf foi eleita presidente da Libéria. Michelle Bachelet comandou o Chile, pertinho de nós. na França, Marine Le Pen ,  levou a extrema direita a obter a maioria no Parlamento. No passado tivemos Margaret Thatcher, na Inglaterra, e Indira Ghandi, na Índia. E nas últimas eleições brasileiras, uma mulher, Simone Tebet chegou a 4,2 das intenções de votos para a presidência da República. Com raras exceções, essas mulheres não aguardaram o reconhecimento familiar. Foram em frente, lutaram e venceram. Do contrário poderiam permanecer até hoje como ilustres desconhecidas.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:06/07/2024

LADROAGEM EM TODAS AS CORTES

Vejo hoje no noticiário, algo que parece repetitivo, e fico a pensar, como podemos confiar na Justiça brasileira, juízes presos por agiotagem, desembargadores, vendendo sentenças, em todo o Brasil, em Manaus, já tivemos o presente dado pelo CNJ, de aposentadoria vitalícia a alguns juízes e desembargadores, que cometeram atos de corrupção. Na verdade, a maioria de nossa corte está contaminada de ladroagens, cinismos, omissões, mentiras, e o silêncio inexplicável do mais alto poder de justiça nos espanta. Salvo manifestação em concessões de hábeas corpus a bandidos de colarinhos brancos, para que os mesmos, de caras lavadas, gozem das caras sérias de todo brasileiro. Lamentavelmente, estamos perdidos – ainda que irremediavelmente, esperemos. É mensalão em todos os cantos e recantos de nossos poderes – imaginem em outras paragens. É no Executivo, Legislativo e, esperamos, seja dado um sacolejo também no Judiciário. Cadê a abertura da caixa-preta proposta? O que ocorreu no nosso Supremo Tribunal Federal quando do episódio da aprovação da taxação dos inativos, fechando aquela maldita Reforma da Previdência? Os velhinhos aposentados do Brasil inteiro estavam convictos de que teriam a proteção mais do que justíssima do STF – último patamar de esperança de todo cidadão, principalmente o marginalizado. No entanto, coitados, qual nada. Somente comemoraram até quando o placar marcava quatro votos contra a taxação e apenas um a favor. Um ministro pediu vistas do processo e o levou debaixo do braço. Patere legem quam facisti (Respeite a lei que fizeste). Esquisito, não? E logo se trancaram aqueles sete vestais na mais precisa eutanásia da coragem e personalidade reinantes em suas vidas, gerando para todo povo brasileiro um arrepiante descrédito naquele Poder e, como sequela, um desabonador silêncio para a Nação. Nunca o silêncio dos inocentes, pelo amor de Deus, mas aquele mistificado como resguardo comum a detentores de caras lisas. É bom nem imaginar que o tal mensalão da compra de votos e favores criado nas tapadeiras do PT e nas antessalas do Planalto possa ter atingido as barbas daquela imponente e respeitável instituição. Ou chegaremos ao fundo do poço. E agora? Tem no bobobó também em tudo que é órgão oficial, empresas estatais – economia mista ou fundação, enfim, atingindo todas as veias sociais, populares. Estoura a crise de safadagem no futebol, especificamente no setor de arbitragem. Quadrilhas de apostadores, eletrônicos ou virtuais, cibernéticos ou robotizados, pouco importa. Juízes comprados para mudar resultados de jogos, fazendo a torcida de boba, jogadores de corpos-moles, técnicos burros, e pior, jogando toda a classe de árbitros à galhofa pública e, de agora em diante, passiva da mínima fiscalização. Embora, é bom lembrar, que essa tal compra de juízes de futebol vem de muito tempo atrás. Dizem os mais velhos – experientes dirigentes de clubes – que essa prática é antiga e os autores eram os próprios dirigentes e até presidentes de federações em ações às vezes comuns aos seus interesses. Por exemplo, falavam do já ex-árbitro João Etzel (como o chefão da máfia), Oscar Scolfaro, o baixinho Romualdo Arpi Filho, (Valquir Pimentel, entre tantos outros marcados nos cromos do tempo. Provado que o VAR esse que deveria ser imparcial, roubou meu Vasco, em um gol legitimo contra o Flamengo, isso sem falar no Amazonas Futebol Clube hoje na serie B, sempre tirado um jogador por falta e o juiz, nada marca. Por que os clubes do Norte e Nordeste nunca tiveram vez frente aos congêneres do Sul e Sudeste nas decisões nacionais? A verdade é que a gatunagem é incrível no nosso solo pátrio e a corte brasileira está encurralada. E, quase esqueço, quanto ao nosso Bolsonaro... Este é de todos os Ramos. 

Autor Flávio Lauria 

Publicado:03/07/2024

PARADOXO ESTRANHO

Época de boi em Parintins, diz uma amiga que mais do que no carnaval, depois de nove meses, o índice de nascimento de crianças, cresce assustadoramente. Fui uma vez ao festival, com todas as mordomias, e verifiquei que realmente a ilha de Parintins, é uma devassidão, mas pelo calor que torna aquela ilha mais quente que Manaus, e pela necessidade da liberdade, principalmente feminina. Mamilos à mostra, mesmo que aconteça em meio a corpos seminus, nas praias e piscinas, geram bate-boca. E piadas. E assobios marotos. E mesmo brigas. E podem destruir reputações. Cá no Brasil, já deram até prisão. Juntamente com a genitália (que é, como esclarece o Aurélio, o “conjunto do órgão copulador e anexos nos artrópodes”), eles, os mamilos, são o patinho feio do corpo feminino. Assim sendo, não devem ser exibidos em público. Ao contrário, cumpre que sejam mantidos longe dos olhos alheios. Apesar disso,o topless, por mostrar o que mostra, a muitos escandaliza.   Essa norma é um imperativo da moral e dos costumes vigentes neste país tropical. Se ela resulta igualmente de dispositivo legal ou não, é matéria controversa que não cabe discutir aqui. Suponho que o eventual leitor desta crônica esteja imaginando que este introito vá desembocar numa acusação ou defesa do topless. Esclareço-o logo: nem uma coisa nem outra. Meu intento é apenas o de divulgar o resultado de um levantamento que fiz não só na ilha do boi, mas à beira-mar, durante cerca de dois meses deste verão. Trabalho sério, embora realizado na base do “olhômetro” atento e imparcial. Sua conclusão – a qual de certa forma já antecipei de início – foi esta: ao contrário do que se costuma dizer, ler e ouvir, não são exatamente os seios desnudos que sofrem restrição e até punição no Brasil. Contra a exibição de seu formato, de suas cores, de sua rigidez ou flacidez nenhuma reprovação se faz sentir. Eles por aí andam à mostra, não só nas praias e nas piscinas, mas também nas ruas, nos salões, no bumbodromo, e até nos templos religiosos. A olho nu, contanto que os mamilos estejam discretamente cobertos, podem ser vistos e dimensionados com extrema facilidade, graças aos cada vez mais generosos decotes dos vestidos, blusas, sutiãs e maiôs de uma ou duas peças – todas elas partes de um vestuário feminino a cada dia, a cada verão, mais e mais sumários e transparentes como os céus dos mais belos dias de outono...Lembrado isso, volto aos mamilos. É através de sua exibição ou não que se costuma avaliar o maior ou menor grau da pudicícia das mulheres de hoje. Se os mantiver cobertos, ainda que, como hoje se observa no litoral e nas piscinas, com uma simples tirazinha à guisa de sutiã, tudo bem, muito a contemplar, nada a reclamar...Postas estas considerações, resta-me compor um final que as justifique, livrando-as de qualquer conotação picaresca passível de má interpretação. E o que me ocorre é esta lembrança que põe a descoberto este paradoxo: por incrível que pareça, o mamilo é justamente a primeira parte do corpo feminino com o qual o homem visualiza e toma contato, não sem antes reclamá-lo aos prantos... Apesar disso, o topless, por mostrar o que mostra, a muitos de nós escandaliza. Já quanto às nádegas femininas, bem mais carnudas do que os seios, só por não terem mamilos, nenhuma restrição visual. Enfim...

Autor Flávio Lauria 

Publicado:29/06/2024

Sonho Acordado

Com meu problema sério de insônia, sonho acordado como muitos. Sonhamos a paz, sonhamos liberdade, sonhamo-nos ricos ou pobres, sonhamos planos - incertos e vocacionais. Sonhamos ilusão - fugas da realidade, o próprio sono, a fantasia e a quimera. Sonhamos pensar com insistência - ter a ideia fixa, sonhamos com a glória e a tragédia, com o amigo e o inimigo, sonhamos amor e ódio. Sonhamos recontando o passado, no vago misticismo de quem sonha um sonho abandonado. Há sempre a capitalização do imaginário. Se há na face da terra de um hoje propagador do cansaço de viver, creditemos nossos anseios à vontade de sobreviver nas divagações noturnas que nos fazem a melhor forma de apreciar a vida. Quando se vai ficando velho é preciso reunir as forças que restam para aproveitá-las mais viáveis ao romantismo de cantar, escrever, conversar saber do que fez e o que deixou de fazer sem as lamúrias do arrependimento. Sempre podendo recordar que passou, saudando o que saldou de bom, com saudade atual e alicerçando os finais de horas e minutos no recanto que mais aprouver a nós na companhia dos entes mais queridos. Já não aguento a dinâmica da violência, quantitativamente esturricada no cotidiano, absorvendo-nos a paciência - absolvendo-nos de todo o mal. Violência de todo tipo - não somente a da agressão física, mas a da incompreensão, da mentira, da falta de amor, do descaso, da falta de cidadania, da incoerência, do ódio, da omissão, da injúria e do perjúrio. Portanto, não há limite para sonhar. Antes, bem mais novo, é claro, sonhava em ser alguém na medida do possível, que conseguisse uma maneira de acabar com políticos espúrios e corruptos e com essa elite burguesa que atola nosso País há século seculorum; acabaria com essas igrejas universais forjadas por mentes servegonhentas de pastores de caras lisas; mandaria evacuar os humildes de bem dos morros do Rio de Janeiro e incendiaria com Napalm os traficantes que resistissem; não permitiria nenhum menor abandonado sem lar nem comida, muito menos sem escola; Obrigaria todos os vagabundos de movimentos de siglas fajutas a trabalharem para o bem geral da Nação;meu Vasco da Gama teria o melhor time de futebol do mundo e nem o Real Madrid teria coragem de enfrentá-lo; expulsaria todos os estrangeiros da Amazônia e daria guarida ao pulmão do Mundo. Hoje, sonho-me diferente. Dou-me o direito, assim, de terminar meus dias com o amor de meus filhos, com certeza daquele diferenciado dos meus netos e, mais explicitamente do carinho dos familiares e dos amigos. Beberei meu puro scoth, ou meu vinho Cabernet. Não é à toa que sempre repito o que escrevia aos 18 anos: Um sonho dificilmente deixa de ser um sonho - mas esses são dos vera!

Autor Flávio Lauria 

Publicado:22/06/2024

Nós e a  Violência Manauara

O título se refere a Manaus, mas pode ser estendido para todo o planeta, inclusive Nova Iorque e Jamaica, o país mais violento do mundo. Está muito em moda, nos últimos dias, falar em segurança. Sobretudo depois do impacto das imagens da violência em Manaus, com assaltos em ônibus, assaltos em ruas, que entraram pela TV direto na alma dos espectadores, vindo acordar um sentimento antigo de desproteção. Um sentimento que carregamos desde os primeiros momentos de vida e que por vezes gostamos de visitar em filmes de terror, nos trens fantasmas dos parques de diversão, para exercitar nosso controle sobre ele e mostrar para nós mesmos que somos capazes de dominá-lo: o medo. Cenas com um potencial explosivo de nitroglicerina, que provocaram no governo a atitude de um pai cujo filho desperta gritando à noite com medo do bicho-papão e a quem ele tem que consolar dizendo que vai fazer alguma coisa com o bicho-papão, mas que não sabe o quê. Você, que não mora mais na sua cidade, vive sitiado em sua casa, por trás dos muros com que tenta separar o espaço da sua família do território livre ocupado pelos bandidos; você, que a cada assalto de que sai vivo agradece a Deus pela graça recebida, mas não perde o tempo de ir até a polícia; você, que enfrenta diariamente a roleta-russa que é atravessar o território “deles” para ir de casa até o trabalho e voltar, sem levar um tiro; você, que paga um terço da produção nacional em impostos para viver no meio dessa guerra que mata mais que as “de verdade”, que comovem o mundo, como a da Iugoslávia, já sabia de tudo isso. Mas “eles” insistem em não ver. Há um sistema que faz do crime um dos poucos negócios seguros do Brasil. Pelos bastidores do “sistema” de cada mil assaltantes, estupradores e assassinos pegos armando as tragédias de que você é a vítima, 999 escapem incólumes, sem pagar nada pelo que fizeram. Para você, as tragédias são reais. É a sua vida que se vai ou se arrebenta, pela bala perdida ou pela bala dirigida. Mas, para o “sistema”, tudo não passa de um jogo onde assassinato se chama “infração” e onde, dessa “infração” para baixo, tudo é permitido. Nesse jogo, o coitado não é quem morre. É quem mata. Não importam os fatos, as histórias de carne e osso. O que importa é o ritual que para ele se criou e que o “sistema” cultua, acima de tudo. Um ritual movido a dinheiro, feito não para exumar a verdade e punir o crime, mas para fazer durar as causas e para tornar imprescindíveis os advogados. Um ritual onde os regimentos, os carimbos e os prazos, que mantêm próspera a indústria que se abriga nos suntuosos palácios da “Justiça”, são mais importantes que a verdade ou a vida, a culpa ou a inocência. Há erros por todos os lados nessa trajetória que leva do crime à ausência de castigo. São dois os combustíveis que alimentam o “sistema” que alimenta o crime: a corrupção e a covardia. Mas é a covardia – a covardia política, em especial – o primeiro elo dessa cadeia. Todos contribuímos com o nosso quinhão dela, para isso que está aí. É covardia a de todos que “não queremos saber”, que levamos a vida desviando das balas, “dando jeitinhos”, e não nos rebelamos. É covardia a dos autores das leis que põem os interesses dos criminosos à frente dos das vítimas. É covardia a da mídia que adere incondicionalmente ao discurso dos que negam as evidências que você conhece e insiste em que se procure a solução para a violência que diariamente o atinge apenas onde ela manifestamente não está.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:15/06/2024

NAMORADOS

Escrevendo em jornais completando 17 anos, desde A Crítica, passando pelo Em Tempo, Jornal do Comercio do meu inesquecível e último romântico Guilherme Aluizio, e agora em blogs e jornais digitais, já coincidiu de escrever vários artigos sobre o Dia dos Namorados, e até duvidar se namorado tem dia, mas antes que esse artigo fique enfadonho, sugiro aos caros e caras leitoras, que nesse dia se curtam, se enamorem, e deixo como sugestão. Na verdade, quem não tem namorada ou namorada nesse dia tem que se enamorar mesmo. Seja enamorado! Isso mesmo! Seja enamorado… mostre-se apaixonado, mas não por alguém, por si, pelo mundo, por um motivo além do físico, por pensamentos, palavras, ideais, pela vida! Não há algo mais grandioso e belo que o viver. Preocupe-se menos nesse dia em planejar que o próximo será acompanhado, não sinta raiva ou desprezo por casais já existentes, não se sinta péssimo pelo término no Dia dos Namorados (aliás, acabaria qualquer outro dia mesmo), ame e fuja do real significado desta data e preze pelo significado que ela deveria ter, você verá tudo ao seu redor tornar-se mais bonito e prazeroso, até esquecerá que tal dia é o Dia dos Namorados

Muitas pessoas sabem que no exterior o Dia dos Namorados (Valentine’s Day) não é celebrado em junho, como no Brasil, mas sim em fevereiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Dia dos Namorados é uma homenagem a São Valentim, padroeiro e protetor dos casais apaixonados. Por lá, a comemoração romântica acontece em 14 de fevereiro. Aqui no Brasil, o Dia dos Namorados incorporou a cultura nacional e foi colocado no dia 12 de junho como homenagem a Santo Antônio, o santo casamenteiro, que é celebrado todos os anos em 13 de junho. Independentemente da data, o conceito e o sentimento envolvidos na comemoração do Dia dos Namorados são os mesmos em todos os países. A data é uma bela oportunidade para demonstrações de amor e carinho. Pra alguns, talvez o Dia dos Namorados seja realmente uma data especial, como o Dia dos Pais, mães, crianças e todos esse festival de “dias comemorativos” sejam de fato significativos, por um (diversos) momento o comércio conseguiu usar o sentimentalismo ao seu favor para venda de produtos que são correlatos a data: presentes relacionados ao amor e paixão no dia dos namorados e dia das mães. 

O significado de estar vivo não é ligado ao fato de obter presença de outrem, o poder postar seu relacionamento, suas fotos a fim de não menos, causar inveja ou publicar vaidosamente para que todos vejam que és feliz (ou tenta ser). Alex Supertramp (se não reconhece esse nome assista Into The Wild urgentemente!) dizia em sua mais célebre frase “a felicidade só é real quando compartilhada”, porém ele nunca disse que isso seria proveniente de um compartilhamento em redes sociais. O compartilhar envolve muito mais que sua etimologia e mais que ter algum compartilhado, ser feliz também não é proveniente dos desejos e prazeres. 

Num momento como esse, onde relacionamentos duram pouco, bem pouco ou nem chegam a se concretizar, valorizar o que tem pra si é uma grande virtude, zelar e manter diariamente um relacionamento é uma tarefa árdua e desnecessária: não é preciso ter alguém pra viver pois é preciso viver pra que se tenha, então viva primeiro, que o amor é subsequente. Sorrisos ao andar do shopping, carinhos e abraços nos parques não são sempre provas de amor, por vezes pessoas usam os relacionamentos como âncora para apaziguar seus ânimos e pensamentos que morrerá sozinha ou ficará sozinha, sem ninguém, como se a solidão fosse de fato ruim, precisamos de socialização isso é fato, mas não é uma necessidade vital, não se apegue a isso ou enlouquecerá e será facilmente manipulado por aquele que identificar isso. Por fim, caso namore, dou-lhe uma dica: use esse dia (não leve em consideração o que falo se não identifica-se com o argumento, para muitos, obviamente como verá, é de extrema importância tal dia e não seja egoísta ao ponto de achar que só seus ideais contam, se for o caso, comemore sem pestanejar, doe-se) para mostrar que independente da data, estará lá, durando até o próximo dia ou o fim dos seus dias você será enamorado e não um namorado, pois esse título (quase que nobiliárquico) foi bem estagnado e já não serve necessariamente para uma aliança, que você é enamorado com o mundo, com as pessoas, com a natureza, que amando aos outros, mostrará que sabe amar e mergulharão de cabeça no amor que tens pra dar.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:12/06/2024

O Parlamento e os jabutis

Já escrevi e comentei sobre o tema corrupção, não sem certo nojo e fastio, mesmo porque sua repetição continuará pelo tempo afora, até quando resolverem aprofundar uma reforma institucional que elimine, ou pelo menos tente reduzir, a influência do poder econômico nas eleições. O dinheiro move o mundo e alimenta a corrupção em seu efeito circular, atingindo a alma das instituições todas as vezes que não sofre controles rígidos da opinião pública. Mas hoje resolvi escrever sobre a instituição Parlamento. As instituições não são as pessoas que eventualmente as fazem. As pessoas passam, as instituições ficam, permanecem no tempo como uma necessidade da vida em comum. Elas são o fator de aglutinação, a personificação e materialização da vontade que lhe deu forma para a realização de interesses e valores humanos e coletivos. Assim, há pessoas que integram as instituições e vivem os seus ideais de maneira tão autêntica e legítima que marcam para sempre a sua passagem. Outras, no entanto, assinalam sua passagem de forma negativa, porque distorcem e traem fins e objetivos. Por isso, passam a representar maus exemplos, aquilo que deve ser evitado. É o que infelizmente está acontecendo com o Parlamento nacional. De tanta tradição e glória, como aquela que tirou de cena dois presidentes da República surpreendidos em graves erros, vive agora uma das mais difíceis fases de sua existência. A inserção dos chamados “jabutis” em projetos de Lei, que nada têm a ver com o texto original, é uma excrescência. O Parlamento não é isso que aí está e as graves acusações que fazem a alguns parlamentares não é justo que atinjam a todos. E não é justo igualmente que a cena política seja reduzida ao que se vê, escuta e lê. Conforme sabemos, a tarefa legislativa é fundamental para qualquer sociedade democrática. É no Legislativo que se devem produzir as leis fundamentais de uma sociedade, as quais precisam ser justas e benéficas ao corpo social. Não é ocioso relembrar a importância que Rousseau, no seu consagrado Contrato Social, dispensava ao Parlamento, considerando o legislador uma pessoa semidivina ou divinamente inspirada, em face da grandiosidade de sua missão, qual seja a de fazer as leis. O que está havendo, na verdade, é, a um só tempo, abuso de poder e desvio de finalidade por parte de alguns dos envolvidos neste hediondo escândalo político. É ato de verdadeira traição à vontade popular, aos que confiaram em indignos mandatários. Portanto, é uso injusto, ilícito. Destarte, devemos ter esperança de que esta crise vai passar. Precisamos de um Parlamento forte e atuante, sobretudo ele, que no concerto dos Poderes é o único que tem todos os seus membros eleitos pela vontade popular O ideal democrático exige e supõe cidadãos atentos e informados dos acontecimentos. Que saibam repudiar os que desservem à causa pública. Porém que também saibam separar o joio do trigo, as pessoas das instituições. Isto porque, os príncipes e suas faltas passam, mas os princípios e as instituições ficam.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:08/06/2024

Sujem-se Ladrões

Num dos seus contos mais conhecidos, incluído em Relíquias da casa velha, Machado de Assis põe na boca do narrador a história de um moço que, tendo furtado irrisórios 200 mil réis, é condenado quase por unanimidade por um corpo de jurados do qual fazia parte certo Lopes, que ao longo do julgamento não cansa de resmungar: - Quer sujar-se? Suje-se gordo! Suje-se gordo! Anos depois o narrador, mais uma vez sorteado para o júri, depara-se com o mesmíssimo Lopes, agora transformado em réu, acusado do desvio de 110 contos de réis do Banco do Trabalho Honrado, do qual era caixa: como de esperar, Lopes, que perante o Tribunal mantivera ar desafiador e petulante (e que além do mais era ruivo, como faz questão de esclarecer Machado), é absolvido por absoluta falta de provas. E conclui com ironia o narrador, ou por detrás dele o bruxo do Cosme Velho, tão atual hoje como há 100 anos atrás: - Vi que não era um ladrão reles, um ladrão de nada, sim de grande valor. O verbo é que definia duramente a ação: "Suje-se gordo"! Queria dizer que o homem não se devia levar a um ato daquela espécie sem a grossura da soma. A ninguém cabia sujar-se por quatro patacas. Quer sujar-se? Suje-se gordo! Lembrei-me do conto nesse momento porque acabo de ler nos jornais a infeliz declaração de um senador, flor meio murcha da democracia tupiniquim, segundo o qual embolsar um subornozinho de 50 milhões de reais, como dizem ter feito um deputado, é coisa insignificante - o que nos dá ganas de lhe perguntar quanto dinheiro ele considera necessário para que um corrupto seja realmente importante. O caso é que nos últimos tempos têm sido numerosos no Brasil os que, esquecendo-se do sábio conselho do Lopes, sujam-se por meras quatro patacas, desse modo arriscando cargo, reputação e pescoço: três mil reais, que foi quanto levou o funcionário dos Correios que deu início à crise do chamado Mensalão, algumas gravatas, no episódio nos EUA envolvendo conhecido rabino, um vaso de cimento, afanado por badalado estilista de uma necrópole paulista. Diga-se aliás, em favor do rabino, que as gravatas surrupiadas eram de seda pura e de grife, já o costureiro não merece piedade, pois se deixou seduzir por um horroroso vaso de cemitério, quando podia ter tentado levar no mínimo um anjinho. Senhores, mais vergonha na cara! Sujem-se gordos, pelo amor de Deus! Mas o leitor há de perguntar: `60 milhões, 80 milhões, 6 milhões é insignificante? Corroído pela corrupção até o Presidente da República entrou na roda, para não ficar de fora. A verdade é que as duas casas do Poder Legislativo estão tão desmoralizadas que imaginar que os parlamentares votarão reforma política é o mesmo que atribuir aos perus, no Natal, a administração de seus pescoços. O país está numa situação de virtual paralisia. Apostar no futuro mesmo que seja próximo, passou a ser um jogo de adivinhação em que a única certeza é o fatal comprometimento da governabilidade.

Autor Flávio Lauria 

Publicado:01/06/2024

Descaminhos Nacionais

Um Congresso sem causas a defender só pode percorrer os tortuosos caminhos da preservação dos corruptos, criando imensas cortinas de fumaça para não ser mais duro e asperamente criticado pela sociedade. Existe, no entanto, a imprensa. Cumprindo seu papel social, denunciando escândalos e arranjos inaceitáveis, tem seu trabalho desqualificado por todos aqueles que, perturbados e incomodados em seu ofício de fazer com que as mãos sejam maiores que os bolsos, transporta o fardo de os preços dos bois das excelências não se entenderem contabilmente com os documentos oficiais. Aceitemos, então, que a culpa seja da imprensa, desde que possa continuar publicando os descaminhos nacionais, entre eles as 400 obras federais paralisadas, depois de centenas de milhões de reais terem sido gastos sem que se saibam exatamente os motivos. Os congressistas deveriam identificar pequenas causas para a construção de um Brasil diferente, com todos os brasileiros tendo a mesma chance na vida. Naturalmente, uns terão mais, outros menos, pelo talento, pela perseverança, pela vocação, mas não pela sorte, pelo apadrinhamento. Voltemos à mesma chance aos brasileiros. Isso significa a certeza do atendimento médico, a garantia de que a bandidagem foi exorcizada das ruas, a existência de educação de qualidade, transportes públicos eficientes e coisas que, nos países civilizados, há décadas são rotinas do cotidiano. Neste país desigual, pelo menos 25 milhões de brasileiros esperam ônibus sem saber a hora em que passam por suas paradas. Os congressistas não se lembram – há cortinas de fumaça em toda a vida nacional – de que centenas de milhares de pessoas aguardam, a cada mês, não o avião, mas a cirurgia que pode salvar-lhes a vida e que não é agendada em razão da precariedade da saúde pública. Muito menos querem saber da existência de milhões de crianças que acordam de madrugada e não têm aulas naquele dia. Se não conhecem essa situação, o que dizer do medonho turismo sexual que se pratica nas cidades? O Congresso fez opção por causas que pouca ou nenhuma intimidade têm com o povo. Os apagões, que ofendem e agridem a população, não se transformam em CPIs, nem fazem a instituição sangrar. Mas o que é um congressista? O povo nele vota, mas não o conhece. Já que sua existência também deve ser culpa da imprensa, tentemos explicar: é alguém que, junto com o governo, tem a mão em nosso bolso, a língua em nosso ouvido e imensa fé em nossa paciência. É desanimadora a hora que se vive. Dá vontade de recolher-se na carapaça, como um caracol, e calar. Não é de hoje que os descalabros acontecem, não são frutos apenas de administrações atuais, pois resultam do desinteresse, do descaso e da omissão em relação à coisa pública, acumulados há décadas. O tripé educação-saúde-segurança, sobre o qual deve assentar-se a vida social, desmorona-se diante dos nossos olhos, pois nunca foi objeto de verdadeiro interesse administrativo. Segurança é utopia e ironia. Os telejornais tornaram-se uma espécie de coluna policial, estampando crimes de todos os níveis: assassinatos na periferia e corrupção nas altas esferas.

Autor Flávio Lauria 

Publicado: 25/05/2024

SEM LAMÚRIAS 

Já fiz um artigo, e este é o meu bordão, de que “ a vida é um sopro” Este ano de 2024 apesar de ainda estarmos no quinto mês do ano já tive várias perdas, e aí fico a me perguntar: Que lição a vida nos dá através das perdas? Essa

Semana mesmo o primo de um amigo cometeu a mais aberrante das formas de sair do mundo, cometeu o suicídio, e penso que se estivermos com nossos corações e mentes receptivos, sem dúvida alguma, apesar das dores resultantes, teremos grandes oportunidades de ganhos, tanto para o nosso crescimento pessoal quanto espiritual. A primeira grande lição que aprendemos com as perdas é exatamente sobre a enfermidade da vida. Nossa existência humana é muito frágil, efêmera. Quando perdemos um amigo, perguntamos: quem será o próximo? serei eu? Se a vida é muito efêmera, devemos aproveitá-la muito bem. O tempo de conviver com os amigos, valorizar as pessoas, ampliar as amizades é exatamente agora. Deixar para o amanhã poderá ser tarde demais! A vida é muito curta para adiarmos sempre o tempo de sermos amigos e solidários. Em segundo lugar, com as perdas, aprendemos sobre o valor real das pessoas. Muitas vezes, nossa vida é circundada por coisas, objetos, imóveis, enfim, vivemos presos ao material, não valorizamos aqueles que nos cercam, os quais passam a ter valor secundário em nossa vida e em nossa escala de valores. É importante nunca esquecer que as coisas foram feitas para serem usadas, e nunca para ocupar, em nosso coração, valor superior. As pessoas é que são importantes. Elas devem ser amadas e o amor vai dando, pouco a pouco, sentido à nossa existência e nos tornando mais dignos da vida e de nós mesmos. Finalmente, através das perdas, aprendemos muito sobre as surpresas da vida. O dia de amanhã será sempre um mistério onde tudo pode acontecer! Às vezes, acordamos sorrindo e anoitecemos em prantos. Como nós não temos controle sobre o amanhã, devemos viver hoje intensamente o tempo que temos para viver, amando as pessoas, perdoando aqueles que nos prejudicaram ou ofenderam, ajudando aos necessitados, dando carinho especial para a família, dando atenção aos idosos, brincando com os filhos, enfim, tornando a existência mais bonita, nosso tempo menos fútil e nossos valores mais espirituais. Numa existência tão curta, tão materializada e tão cheia de surpresas, só nos resta uma saída: o amor; viver bem é também aprender com as experiências amargas, é saber ganhar através das perdas, pois elas possuem uma pedagogia própria, e nos ensinam lições preciosas. A única perda irrecuperável é a perda de tempo. Quando se vai ficando velho é preciso reunir as forças que restam para aproveita-las mais viáveis ao romantismo de cantar, escrever, conversar saber do que fez e o que deixou de fazer sem as lamúrias do arrependimento.

Autor Flávio Lauria 

Publicado: 18/05/2024

Amor de Mãe

Amor de mãe é o único que não tem vergonha de ser absolutamente incondicional. O único amor que sobrevive intacto à indiferença, ao descaso e à traição, simplesmente porque estando acima dessas miudezas da alma humana, nunca será de fato ameaçado por elas.Ofenda a sua mãe e ela soluçará como uma namorada, mas quando as lágrimas secarem, ela já estará se sentindo um pouco culpada pelo desamor do filho e buscando um jeito de reconquistá-lo.Esse é o amor padrão da imensa maioria das mães, que idolatram filhos imperfeitos e explicam atitudes inexplicáveis, e são capazes de dar a vida pelos seus filhotes medíocres mas maravilhosos.Mesmo sendo pai, acredito que ser mãe é ficar emocionada com os movimentos anárquicos daquele corpúsculo disforme na ecografia e depois chorar de pura emoção ao receber aquele anteprojeto gosmento e mal acabado, de cara torta e assustada, e tão lindinho!Ser mãe é dobrar com carinho as suas roupas de recém nascido e se estremecer ao lembrar o inesquecível cheiro de bebê que você um dia teve no pescoço, não importa quanto tempo já tenha passado. Ser mãe é não pregar o olho nas infindáveis madrugadas, e depois fingir que dorme placidamente quando você finalmente retorna, barulhento e despreocupado. Ser mãe é perceber a tristeza do filho por trás do sorriso disfarçado e intuir que alguma coisa está errada quando o machão independente reaparece com cara de filho extremado. Ser mãe é sublimar o ranço ciumento da nora ou genro para manter o rebento por perto, e suportar em silêncio a repetição dos erros que ela própria cometeu, para não parecer intrometida. Ser mãe é doar um órgão para salvar o filho doente, e ser operada, e não usar nenhum analgésico, como se a queixa de dor pudesse minimizar o tamanho do seu gesto. Ser mãe é oferecer um pulmão inteiro para tentar recuperar o filho ou a filhota linda, e, ao ser informada que isso não seria possível porque colocaria em risco a sua própria vida, perguntar: “E viver para que, sem meu filho?”Ser mãe é ser capaz de tudo isso e ainda ter que suportar a ironia dos engraçadinhos que parecem se divertir sugerindo que gostam mais do pai. Nesse mundo de generosidade ameaçadas, que tal fazer do Dia das Mães uma homenagem ao amor incondicional? Diga isso à sua mãe neste 11 de maio e receberá dela um sorriso que só uma mãe sabe sorrir. E, quando ela te abraçar agradecida, tenha a certeza que a alegria que ela estará sentindo se misturará generosamente com o doce perdão pela sua derrota em perceber a incondicionalidade do seu amor de mãe. Se não confiar no discurso, leve também um presentinho, com o doce perdão pela sua derrota em perceber a incondicionalidade do seu amor de mãe. Dedico este artigo a todas as mães, e em especial á minha Iolanda Lauria (Nanda).



   
 
 
Autor Flávio Lauria
Publicado: 11/05/2024

O Tempo voa

Hoje é o primeiro sábado do quinto mês de 2024. Como justificar essa pressa toda com a qual os calendários se sucedem, passando-nos a impressão de que, mais do que correr, o tempo voa e, com ele, a vida da gente se esvai? Não é verdade que há bem pouco estávamos envolvidos com as festas de mudança de século? Eu sei, e muito bem, que essas lembranças só nos tomam de assalto a partir de certa idade. E que antes dessa etapa, quando ainda se é criança, acontece o inverso: entre um Natal e outro o espaço é imenso, o tempo se arrasta em ritmo de tartaruga. Não ignoro igualmente que depois, enquanto se estiver na casa dos “intas”, a contagem não interessa: flutua-se, indiferente ao desfolhar do calendário. A primeira cogitação sobre o assunto geralmente ocorre com o ingresso no território dos “entas”, sobre cujos trilhos o tempo começa a ganhar velocidade. Sucedem-se o “enta um”, o “enta dois”... o “enta nove” e, de repente, quando menos se espera depara-se o “enta” que nos diz termos chegado à metade de nosso incerto e problemático centenário.. Que horror! – mudemos de assunto – já! – antes que seja demasiado tarde... O que importa hoje é que já estamos nos acostumando com o corcovos do novo século - algo que para muitos de minha geração parecia demasiado distante, provavelmente um ponto inatingível. Qualquer um que afirme estar ciente do desenrolar dos acontecimentos mundiais dos próximos doze meses, é provável que esteja conectado com alguma rede mediúnica de antecipação da História. Em todo caso, convém estar atento para as análises porque, escoradas nos fatos, podem errar feio ou acertar algo. A soma dos fatos e opiniões parece apontar para dias de sobressaltos, insegurança e terror. Mas, diante de tudo que parece inacessível a nós, telespectadores de cenas verdes com pontinhos de luz ao vivo, simulando o entretenimento do videogame e não o horror da guerra, eu imagino que pedir mais clareza de imagens e fatos é pedir mais realidade a um plano de proporções irreais.

Mas cá estamos, sãos e salvos, aleluia, aleluia... Por isto, a palavra de ordem a ser obedecida deve ser esta: enquanto houver música no salão e par disponível convém que dancemos, dancemos, até a última valsa, ainda que lenta, se não der para bailar um forró. Por falar em dança, pobre vizinha Argentina! Para quem a conheceu em seus tempos de abastança, com sua capital ostentando riqueza, cantando e bailando alegremente mesmo seus tangos geralmente nostálgicos, custa e dói sabê-la na situação em que se encontra. Cada notícia que de lá nos chega me devolve à memória, entre outras, as imagens daquela Calle Corrientes na qual ela refletia sua pujança econômica e o bem- estar de sua gente: uma avenida que não dormia, que atravessava suas noites com seus teatros, cinemas, dancings, confeitarias, restaurantes e congêneres lotados por uma população bem vestida, risonha e orgulhosa de poder se proclamar como sendo habitante da cidade mais civilizada, mais próspera, mais culta e mais europeia da América Latina.. Bem, chega de relembranças que soam nostalgicamente. E para encerrá-las nada melhor do que recordar trecho de um velho tango de Le Pera e Gardel, que este último cantava assim: “Mi Buenos Aires querido / cuando yo te vuelva a ver / no habrá penas ni olvido...” etc.



   
Autor Flávio Lauria
Publicado: 04/05/2024

DÚVIDAS E SOBRESSALTOS NAS ELEIÇÕES

Com a devida vênia dos meus sofridos e heróicos concidadãos, espero que este artigo, não os encontre nas mesmas dúvidas e sobressaltos que me afligem ultimamente. A menos de seis meses de em todo os municípios do Brasil  incluíndo nosso Estado, que teremos eleições em sessenta e dois municípios, e no Rio de Janeiro para contextualizar, noventa e dois minicipios, há algum tempo venho constatando, através de pesquisas cuidadosas (e observações cotidianas), além de estudos minuciosos e compilação rigorosa dos fatos científicos, que os Estados e Manaus, particularmente, veem adquirindo um acervo tecnológico dos mais avançados em corrupção, bandalheira e incompetência. Na realidade, o estágio alcançado configura pós-graduação em nível de doutoramento, fruto do ingente esforço de um grupo bem selecionado de especialistas. E isso não é de agora, lembro perfeitamente depois do governo José Lindoso, e a entrada de Gilberto Mestrinho, como a gestão foi levada para o lado não republicano, e no Rio depois de Sérgio Cabral, todos os governadores e alguns prefeitos foram cassados. Entretanto, a referida atroz dúvida se divide em duas semidúvidas: a primeira, como deve reagir o meu exacerbado sentimento manauara e amazonense, ante tão brilhante e reconhecido acervo. A segunda, não menos angustiante, é que os ilustres e impertérritos diplomados não são chamados para receber os respectivos pergaminhos ou, ao menos, nominados para as famosas embora desacreditadas, devidas providências. Hão de concordar comigo os caros compatriotas, no mínimo esses que ainda têm vergonha na cara e moral para se encarar de frente no espelho, que a diplomação dessa gente é tarefa urgente. Mas parece coisa tão imbecil essa diplomação, como foi em época não tão recente, que o mal motorista, ultrapassado seus pontos na CNH, tinha que fazer um curso, que lhe dava no final um diploma de mal motorista, incluindo aí nesse curso o próprio diretor do DETRAN. E o que digo, ignorância sincera, e estupidez consciente. Quando não para satisfazer a elementares exigências legais, ao menos como respeito aos, sistematicamente, esbulhados patrícios, cujos impostos, taxas, tributos e demais emolumentos vêm sustentando a alta especialização dos bandalhos. Talvez o cidadão comum, esse Dom Quixote do dia a dia, do aperto orçamentário, da insegurança incorporada ao cotidiano, nas ruas de Manaus, nos ônibus, enfim, do trágico balé da sobrevivência, não se tenha inteirado dos detalhes das doutas teses, surgidas dessa evoluída pós-graduação. Seria pretensão de minha parte, simples mortal da rotina diária, professor de muitas gerações recomendar o manuseio e a análise de tais teses.

Entretanto, como este desalinhado artigo é aberto, parece-me altamente conveniente colaborar para o aprimoramento dos conhecimentos gerais, sugerindo a leitura de edificantes contribuições técnico-científicas, das obras faraônicas inacabadas, das negociatas e desvios do dinheiro público, das construções superfaturadas, das concorrências dirigidas, da alienação do patrimônio público, da propaganda enganosa e da mentira sistemática. Isso tudo, além do rendoso e promissor tráfico de drogas, a cujo crédito deve-se a destruição e morte de milhares de jovens e tem como prêmio a proteção corporativista e a impunidade. Sem dúvida, as lições daí advindas são indiscutivelmente proveitosas, mesmo que seja para refutar algumas maldosas calúnias e eventuais fofocas, quem sabe frutos até da intriga do povão contra tão ínclitos varões. Fossem outros os temos, seria o caso de pensar na ação de "solertes comunistas" (uma expressão ridícula na atual conjuntura), tal é a extensão do falatório reinante por aí. afinal, há de concordar comigo o paciente leitor que essa história de bancos suíços, ou de paraísos fiscais, ou de aplicação em minérios no Pará, pode ser bisbilhotice de desocupados, tanto quanto os demais cochichos que pairam nos ares.

Por sua vez, teses de somenos importância, como o achatamento salarial, o arrocho dos empresários, a violência urbana, o desemprego endêmico e epidêmico, prestações e juros escorchantes, ficam a cargo de "nós o povo", desde que só rendem sufocos, úlceras e enfartes. Enfim, para encerrar esta epístola e, assim, abreviar o tédio de quem teve a pachorra de lê-la até aqui, tenho a convicção de que o inverno de nossa desesperança (com o perdão de Steinbeck), não será longo demais. Há, neste querido Brasil,  no Amazonas, e em Manaus, pessoas e instituições em que você e eu temos de acreditar, pelo inegável papel histórico que representam. Há inúmeros outros varões, gestores inclusive, com dignidade, senso de responsabilidade, boa vontade e desejo de lutar contra uma situação que envergonha, deprime e degrada uma pátria e estado que desejamos nobre, altiva e independente.

No mais, sem piada, formulo meu desejo de saúde e prosperidade aos irmãos, fazendo sinceros votos que aquele triste acervo seja metamorfoseado em trabalho sério e honesto, no trato do suado e surrado dinheiro público, fundamentalmente nas eleições municipais de outubro próximo, já que não moramos no país, nem no Estado, moramos no município, e que os projetos e planos não sejam transformados em uma mostra apenas cosmética e marqueteira.

   
Autor Flávio Lauria
Publicado: 27/04/2024

INVERNO DA DESESPERANÇA

Existem marcas deixadas por leitores que me nutrem o coração com reações do tipo: seu artigo lavou-me a alma, me fez rir, me comoveu, me fez dizer "É isto mesmo". Sinalizam que não estou sozinho em meus modos de perceber e de pensar. Também sou construtivamente marcado pelos que discordam e criticam, pois me ajudam a manter a mente aberta. Inspirados em indignações ou encantamentos, meus artigos refletem a marca de valores legados pelos construtores da minha bagagem em seus "recados de vida": Ignorância gera besteira ou desgraça. Pode ser melhor, sim. Desconfie sempre do governo e não confie demais na oposição. Discurso é ação e o autor deve ser responsabilizado por suas palavras. O preço das decisões é para ser pago sem queixas. Imoral é enganar os outros. O bem que fizeres retorna a ti, o mal também. Sede assim, qualquer coisa, serena, isenta, fiel. Quem merece de Deus os dias e as noites, merece de nós bom dia, desculpe e obrigado. Faz vinte anos que comecei a escrever semanalmente para jornais em Manaus. Entre pesadas máquinas de escrever Olivetti,na velha redação de A Crítica, tive a atenção fraterna do jovem e já experiente repórter Ajuricaba, cujo bom humor e coleguismo são inesquecíveis. Depois de outros tantos anos como docente, eis-me colaborador da página de Espaço Crítico, onde publiquei mais de 200 matérias. Mas ao todo em jornais impressos tenho mais de mil e seiscentos artigos. Falei de mazelas sociais, desmantelos urbanos, amor, ética, política, religião e até futebol. Com profissionalismo, respeitei rigorosamente o limite determinado para o tamanho dos textos, apurando forçosamente um estilo enxuto que parece agradar à minha vintena de leitores Após todos estes anos, sem abandonar a causa do respeito às diferenças nem o sonho de melhora da cidade e do Mundo, confesso que ao receber uma curtição ou um compartilhamento no Facebook onde também publico meus artigos, sinto-me regozijado, formando opiniões, e para alguns leitores sendo o contraponto do que pensam. O labor e a responsabilidade de expressar ideias esculpindo textos são para mim, também curtição. Prossigo de olho no mundo, de coração nos afetos, de alma na trilha da paz. Continuo como artesão de textos em outros contextos, nutrindo a humilde esperança de marcar um pouco os outros com minha visão de mundo e ser por eles marcada. O que torna nossa sociedade perversa é o fato de a vulnerabilidade institucional ser benéfica aos poderosos e madrasta para o cidadão comum. Das práticas mais comezinhas do cotidiano às decisões dos mais altos escalões administrativos é patente que as instituições não conseguem impor funcionalidades impessoais. Não servem à coletividade porque funcionam mal e porque se ajustam aos projetos de seus dirigentes circunstanciais. Enfim, para encerrar esta epístola e, assim, abreviar o tédio de quem teve a pachorra de lê-la até aqui, tenho a convicção de que o inverno de nossa desesperança, não será longo demais. Há, neste querido Brasil e em Manaus, instituições em que você e eu temos de acreditar, pelo inegável papel histórico que representam. Há inúmeros outros varões, com dignidade, senso de responsabilidade, boa vontade e desejo de lutar contra uma situação que envergonha, deprime e degrada uma pátria que desejamos nobre, altiva e independente.

INTOLERÂNCIA HUMANA

Cada época desenvolve suas próprias formas de patologias. O Mundo atual sofre de um mal-estar que parece exigir um olhar e diagnóstico cuidadoso. A atitude humana perante o estar no Mundo tem se degradado espantosamente. A vida vem sendo tratada como um espetáculo banal, algo simples e desprezível que dela se faz uso para fins "naturalmente" destrutivos. E não estou falando só da guerra contra a Ucrânia. Esse tipo de atitude vem sendo fortalecida nos contextos em que crescem os narcisismos e as intolerâncias, promovendo um desapreciação crescente do cordial, do relacional, do amoroso. Felicidade passou a ser buscada apenas nas coisas, no consumo, na ostentação, no poder e não dentro do sujeito ou nas relações que estabelece. O outro foi perdendo então seu lugar de parceiro e passou a ser visto como rival, concorrente, inimigo em potencial. Paradoxalmente, há na contemporaneidade, uma síndrome de insuficiência que induz a insatisfações e quadros depressivos, e uma síndrome do vencedor a qualquer preço que agudiza os narcisismos. Nenhum meio termo parece reunir a Humanidade em torno de atitudes que promovam sua saúde mental. Parece que perdemos o fiel da balança que aponta o caminho do meio. Perdemos a fórmula sensível de buscar a felicidade no relacional, na cordialidade, na partilha com os outros. "Ser capaz de apreciar a vida em um processo que envolve uma crescente identificação com a felicidade e realizações de outras pessoas está tragicamente além da capacidade das personalistas narcisistas", adverte C. Lasch. Narcísicos, perversos e fanáticos empurram a Humanidade para uma destruição de valores e da própria vida. "A tragédia em cena já não nos basta", diz Artaud, assistimos ao vivo e a cores as destruições que procedem da orgia de intolerâncias que marcam os dias atuais. A uma Guerra Santa responde-se com Justiça Infinita. Um jogo sórdido que se estabelece em nome de Deus, para dizimar e oprimir as pessoas. Tolerância e bom senso tornaram-se valores obsoletos. Parecemos uma sociedade que perdeu o interesse pelo futuro. Essa apatia indica a morte de projetos coletivos que deem sustentação e sentido à vida das pessoas. Esse vazio leva as pessoas tanto a se suicidarem, como a tornarem-se bombas vivas do ódio e da intolerância. O corpo humano feito instrumento bélico, tornou-se a mais imprevisível das armas, contra a qual nada pode prevenir, a não ser uma maior valorização da vida e das pessoas. Parece que chegamos ao fundo do poço da banalização de dimensões preciosas da existência. Modificar esse tipo de atitude supõe que se resgatem valores éticos, ou antropoéticos, como queria E. Morin, valores que se colocam a serviço do bem-estar do gênero humano. Supõe uma ética da tolerância que é a base do respeito ao ser humano. "Tolerar é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera... Mas ninguém quer renunciar a nada. "Não há tolerância quando nada se tem a perder ou quando se tem tudo a ganhar...",diz Sponville.
Ansiamos pelo oxigênio da paz. Mas a paz que se quer para si e para o Mundo, terá de começar por cada um. Teremos de reaprender o gosto pelo ético, pelo relacional, pelo cordial. Teremos de desconstruir hábitos perversos de gozar com a dor alheia, de querer vitórias ao preço da autoestima dos outros. Nenhuma potência tem o direito de impor sua arrogância ao Mundo e fazer que outras nações se curvem diante de seus narcisismos feridos. A paz que buscamos como seres humanos, como cidadãos do Mundo, terá de começar por cada um de nós, processando corajosamente transformações internas que instalem em nós a vontade de paz, o exercício da tolerância, a capacidade do perdão. Do contrário, seremos como o lindo robô de Spielberg, no filme "Inteligência Artificial" que, embora programado para amar, vivia na inquietude de não ser humano, não podendo, portanto, ser feliz.

PAÍS BURRO

Reportagem desse domingo no Fantástico, mostrou nove milhões de analfabetos no Brasil, desses noventa por cento, são pretos ou pardos. Faltou complementar que entre estudantes de 32 países, testados em sua compreensão de leitura, os brasileiros tiraram o último lugar. Não o penúltimo ou o antepenúltimo. O último. Com uma das maiores redes de ensino público do universo, com uma quantidade impressionante de professores per capita, com investimentos maciços do governo e o esforço conjugado de milhares de ONGs e empresas milionárias empenhadas soi disant em “elevar o nível” da nossa educação, o Brasil é, hoje mais que nunca, um país de analfabetos funcionais. Nada do que saiu impresso nos últimos dias pode dar, como esse fato alarmante, uma ideia da verdadeira situação do Brasil no mundo. Por que uma notícia tão significativa – a mais importante da semana, sob certos aspectos – suscita na mídia e nos meios ditos intelectuais uma quantidade tão escassa de comentários? Por que as poucas reações que se fazem discretamente ouvir se limitam às lamentações convencionais de sempre, quando não a desculpas de ocasião? A resposta é simples. A estupidez da nossa classe estudantil não se explica por causas menores, de ordem administrativa ou econômica, nem por curiosas coincidências. Ela não é um fato isolado. Ela reflete o estrago geral da cultura brasileira Existe os efeitos de uma devastadora “revolução cultural”, que, iniciada nos anos 70 e empenhada em reduzir a rede de ensino e todas as instituições de cultura a instrumentos do mais maquiavélico oportunismo político de todos os tempos, estampa agora diante de nós o seu abjeto resultado. Não se pode manipular a inteligência humana sem engessá-la, imobilizá-la e atrofiá-la. Vinte anos atrás eu trabalhava como professor de Centros Universitários, e publicava artigos contra a massificação de ementas, ementas que eram de minha época de Universidade, se repetiam nos programas de cursos de terceiro grau, mas  os intelectuais ativistas faziam críticas ferozes ao que chamavam “educação tradicional” e infundiam nas professorinhas uma confiança ilimitada nos novos modelos que, a seu ver, dariam aos jovens brasileiros a educação ideal. Esses modelos traziam algo das ideias de Jean Piaget, mas eram inspirados sobretudo nos ídolos pedagógicos do esquerdismo militante: Paulo Freire, Demerval Saviani. Sinceramente: eu lia aquela porcaria toda e previa uma catástrofe. Hoje a catástrofe está aí, mas ela é tão profunda que já não pode tomar consciência de si mesma. Aquelas entusiasmadas professorinhas que imaginavam fazer uma revolução por meio de seus alunos, convertidos em “agentes de transformação social”, foram elas próprias transformadas no curso do processo: já estão burras demais para atinar com a conexão de causa e efeito. Por isto a revelação brutal dos resultados da mutação idiotizante não suscita nenhum debate sério, nenhuma tomada de consciência, nenhuma corajosa admissão do erro fundamental. As professorinhas não apenas esqueceram o que sabiam: esqueceram que esqueceram. Estão amortecidas e estupidificadas pelo seu próprio discurso. E a pandemia fez dos alunos nos escandalosos cursos de Ensino a Distância, emburrecerem mais. Há uma queda mundial do nível de inteligência, e o Brasil está na vanguarda do abismo. Vejam só caros leitores, o fenômeno espantoso na Academia Brasileira de Letras. Gosto de Fernanda Montenegro como atriz e de Gilberto Gil como musico, letrista e cantor, mas não há entre eles um cabedal de conhecimentos como escritores, e ninguém notou a diferença.

Império do Fingimento

Poderia atribuir o título do presente artigo, ao fingimento de não comer carne na semana santa, porque foi a ressureição de Cristo, mas vou tecer comentários sobre a mídia. A  visão que o público tem da realidade do mundo depende do que lhe chega pela mídia. Conforme a seleção das notícias, tal será o critério popular para distinguir o real do ilusório, o provável do improvável, o verossímil do inverossímil. Goethe foi um dos primeiros a assinalar um dos efeitos mais característicos da ascensão da mídia moderna. Dizia ele: "Assim como em Roma, além dos romanos, há uma outra população de estátuas, assim também existe, ao lado do mundo real, um outro mundo feito de alucinações, quase mais poderoso, no qual está vivendo a maioria das pessoas." Não há dúvida de que o próprio progresso da mídia, estimulando a variedade de pontos de vista, neutraliza em parte esse efeito, mas volta e meia ele aparece de novo, nas periódicas retomadas dos meios de comunicação por grupos ideologicamente orientados, que impõem sua própria fantasia gremial como a única realidade publicamente admitida. O controle da mídia por uma classe ideologicamente homogênea leva inevitavelmente a opinião popular a viver num mundo falso e a rejeitar como loucura qualquer informação que não combine com o estreito padrão de verossimilhança aprovado pelos detentores do microfone. Quem são esses detentores? Os jornalistas de esquerda continuam se fazendo de coitadinhos oprimidos pelas empresas jornalísticas. Mas o fato é que hoje nenhuma empresa jornalística, do Brasil, dos EUA ou da Europa, se aventura a tentar controlar o esquerdismo desvairado que impera nas redações. A "ocupação de espaços" pela militância esquerdista cresceu junto com o poder da própria classe jornalística, e hoje ambas, fundidas numa unidade indissolúvel, exercem sobre a opinião pública uma tirania mental que só meia dúzia de inconformados ousa desafiar. Quando esse estado de coisas dura por tempo suficiente, mesmo aqueles que o criaram já não se lembram mais de que é um produto artificial: vivem no mundo ficcional que criaram e adaptam para as dimensões dele todas as distinções entre realidade e fantasia, tornadas por sua vez pura fantasia. Assim, pois, todos já se esqueceram de que o PT e o PSDB foram essencialmente criações de um mesmo grupo de intelectuais esquerdistas empenhados em aplicar no Brasil o que Lenin chamava "estratégia das tesouras": a partilha do espaço político entre dois partidos de esquerda, um moderado, outro radical, de modo a eliminar toda resistência conservadora ao avanço da hegemonia esquerdista e a desviar para a esquerda o quadro inteiro das possibilidades em disputa. Tendo-se esquecido disso, interpretam o predomínio temporário da esquerda moderada, que eles próprios instauraram para fins de transição, como um efetivo império do "conservadorismo", e então se sentem - sinceramente - oprimidos e jogados para escanteio no momento mesmo em que sua estratégia triunfa por completo. Que sanidade, que instinto da realidade pode sobreviver a um tão completo e perfeito império do fingimento? Na sua corrida para o poder ilimitado, a voracidade do poder não se inibe de destruir, de passagem, a alma e a consciência de todo um povo. De qualquer modo, Feliz Páscoa a todos.

AS DROGAS ESTÃO NAS ESQUINAS

Matéria de capa dos jornais  “Tráfico nas bocas de Luxo” mostra que ao contrário de lança-perfume, maconha ou cocaína, as drogas do momento não estão nas mãos dos traficantes. Elas podem ser compradas em qualquer esquina, porque os barões do tráfico têm seus representantes. Recente reportagem em um jornal de S. Paulo denunciou o combustível que está incendiando a juventude paulistana. O gás butano, por exemplo, é encontrado em isqueiros e cornetas vendidas em barracas de camelôs e lojas de brinquedos. Fitas cassete e de vídeo, pilhas e radiografias, artigos aparentemente inofensivos, podem ser o estopim da curtição adolescente. Altamente tóxicas, essas substâncias químicas se tornam drogas perigosas nas mãos dos jovens. Algumas são inaladas ou ingeridas em sua composição original. Como estão contidas em diversos produtos, passam despercebidas e o seu uso consegue driblar a vigilância da polícia. Usamos na sala de aula mesmo. A gente derrama o líquido na manga da blusa e os professores não percebem. A sensação é igual à do lança-perfume, você fica tonto e meio aéreo. Só que o efeito é pior, parece que toma a cabeça, diz Marcos à reportagem do jornal (o nome é fictício), de 16 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, que comprava com dois colegas 240 mililitros de cola para acrílico (conhecida como B-25). Segundo a reportagem, os três vestiam o uniforme de um dos colégios mais tradicionais da cidade, perto da Avenida Paulista. A reportagem confirma os indícios de uma escalada no consumo de drogas no meio estudantil. Xaropes, colírios, anestésicos de uso veterinário, bebidas energéticas, calmantes e anfetaminas consumidos puros ou misturados com bebidas alcoólicas, estão fazendo a cabeça da juventude. Segundo especialistas, o efeito a longo prazo é devastador: danos irreversíveis ao cérebro, alterações no comportamento, depressão e morte. Ao buscar o barato nessas substâncias, o usuário entra no atalho para o uso das drogas pesadas. E é aí que o inferno começa. O hediondo mercado das drogas está dizimando a juventude. Ele avança e vai ceifando vidas nos barracos da periferia abandonada de todo o país e em bares e boates frequentados pela juventude bem-nascida. Movimenta muito dinheiro. Seu poder corruptor anula, na prática, estratégias meramente repressivas. Por isso, a prevenção e a recuperação, únicas armas eficazes a médio e longo prazos, reclamam apoio mais efetivo do governo e da iniciativa privada às instituições sérias e aos grupos de autoajuda que lutam pela reabilitação de dependentes. Tenho acompanhado o excelente trabalho realizado por alguns serviços especializados. Admirável tem sido a atividade promovida pelos grupos de Narcóticos Anônimos (NA) e Amor-Exigente e a bem-sucedida estratégia adotada pelas comunidades terapêuticas. Sem uso de medicamentos e apostando num conjunto de providências que vão às causas profundas da dependência, essas comunidades têm obtido bons índices de recuperação.  Impressionou-me, por exemplo, a seriedade do trabalho desenvolvido pela Comunidade Terapêutica Horto de Deus, em Taquaritinga, no interior de São Paulo. Os internos, tratados com dignidade e carinho, estão lá voluntariamente. Aliás, o desejo explícito de deixar as drogas é um pré-requisito para ingressar na comunidade terapêutica. As internações compulsórias, em clínicas caras e sofisticadas, frequentemente acabam na amargura da recaída. A Secretaria Nacional Antidrogas está desenvolvendo uma estratégia de qualificação e credenciamento das comunidades terapêuticas. Faz bem. O governo tem o dever de fechar as arapucas, mas, ao mesmo tempo, precisa apoiar e prestigiar as instituições idôneas que estão aí. É preciso apertar, mas sem burocratizar ou inviabilizar. Impõe-se, sobretudo, que a regulamentação do funcionamento dessas instituições não seja o resultado de uma decisão de gabinete. Convém conhecer o dia-a-dia dos centros de recuperação. Só então, com conhecimento direto das coisas, será possível separar o joio do trigo. A escalada das drogas é um fato alarmante. A dependência química não admite decisões autistas. Reclama, sim, seriedade e realismo.

POLÍTICOS

Se os políticos praticassem individualmente contra seus eleitores os desaforos e as fraudes que lhes infligem coletivamente, certamente seriam hoje uma espécie extinta, pois de um ou de outro já teriam recebido o troco que merecem. Mas eles agem coletivamente. Quer dizer, ocultamente. Ocultos pelo anonimato, protegidos pela abstração das instituições: O Estado, O Fisco, A Câmara, O Congresso, A Prefeitura, O Judiciário. Abrigados sob o anonimato dessas pomposas, temíveis e inefáveis estruturas convencionais e abstratas, não há como identificá-los, individualizá-los, personalizá-los, nomeá-los, vê-los, botar as mãos em cima deles. Embora por baixo ou por cima dessas instituições o que se acha são indivíduos em iguais aos seus eleitores – salvo nos privilégios e imunidades que se auto outorgam. Entretanto, só eles se conhecem, se identificam, se personalizam. Só eles estão inteirados de suas vantagens e falcatruas. Investidos de seu mandato, de seus privilégios e de suas imunidades, não há como o eleitorado, e muito menos o eleitor, individual, alcançá-los. A ficção democrática os investe da soberania: eles são “os representantes do povo”, sua voz, seu desejo, seu poder. A ideologia democrática diz que eles são o poder maior, absoluto, incontestável. Acima do povo ou contra ele, que poder maior pode se impor? São eles que fazem as leis, são eles que estruturam a Justiça e comandam a Polícia, os fiscais, e todos os demais aparelhos legais de coerção e repressão. Sem dúvida, a Ética, o Direito, a Constituição, se acham acima deles. Na prática, os instrumentos de operação social desses valores são imponderáveis e impotentes. Existe, inegavelmente, uma Opinião que exprime o pensamento, os sentimentos e o desejo da maioria. Existem a Mídia, os Tribunais de Contas, os Ministérios e Promotorias públicos. Mas sabe-se bem o limite de ação prática desses instrumentos e a que ponto a política e o Estado os controla e manipula. 
Assim, o único corretivo contra as deformidades, abusos e degenerações da Política está nas mãos dos próprios políticos. E nada existe mais poderoso, mais salutar e mais produtivo para a melhoria dos costumes políticos do que as brigas de família entre eles. Só eles conhecem seus próprios podres e suas próprias fraquezas e só eles têm o poder de corrigi-los. Daí a salubridade das comissões de inquérito. Daí, também, a prontidão com que eles tratam de encerrá-las o quanto antes e minimizar seus efeitos. Hodi mihi, cras tibi. Embora a maioria dos políticos ignore o latim, nenhum deles desconhece esse ditado: Hoje eu, amanhã você. E, como todos têm os rabos trançados no mesmo rolo de minhocas, nenhuma Máfia observa com maior escrúpulo e temor a regra da Omertà – o silêncio da cumplicidade que a ameaça da retribuição assegura. Hoje se denomina de corporativismo a esse espírito de defesa grupal. As corporações eram instituições de ofício medievais. Mas a coisa é mais antiga e mais profunda do que isso. Os etnólogos a conheciam por tribalismo e os zoólogos por instinto grupal. Em nenhum grupo humano esse instinto é mais forte do que na manada política. A razão é simples. Zoologicamente eles pertencem à variedade animal dos predadores e, se nesse tipo de bicho não predominar o instinto grupal, sua sobrevivência estará ameaçada. É por isso que lobo não come lobo e os leões vivem em paz entre si. Piranha também não come piranha. Salvo se uma delas for sangrada. Na política, o processo de criar bodes expiatórios é um sistema de preservar a tribo e o próprio bode. Mesmo depois de mortos eles voltam como heroicos ectoplasmas para retomar seu lugar no cocho. Não vão os pundonoros e os pudibundos políticos brasileiros, considerar ofensivas as palavras deste artigo. Elas são inferiores em contundência à gravidade dos fatos que praticam contra seus eleitores e representados. Teríamos melhor segurança, melhor educação, melhor saúde se os milhões por eles embolsados chegassem ao destino para os quais os pagamos. Pois o problema não é o de “quanto” se arrecada, mas o de como se “gasta”. Sem os furtos políticos do último quarto de século, este já seria um país do Primeiro Mundo. Mas há por briga do poder, mesmo sendo “aparentemente” unidos, as mais comezinhas e obscenas, pra não dizer, criminosas, as brigas até com fogo na casa do antigo aliado, como aconteceu essa semana na casa do atual Presidente do União Brasil, fruto de dissidência com o antigo Presidente Luciano Bivar.

Acomodados e Esperançosos

O escritor Artur da Távola lembra que o brasileiro traduz o resultado da mistura de acomodação com esperança. Os ingredientes que compõem a alma nacional já foram decantados em prosa e verso, constituindo-se uma permanente característica de nosso povo. Em princípio, não devemos lastimar nosso espírito pacífico e nem a vocação para a esperança. Decorrentes de herança cultural e da indecisão em construir o verdadeiro destino da Nação. Avaliar as contradições existentes parecer ser o melhor caminho para um dia poder superá-las.
Em contrapartida, possuímos o privilégio de ser um povo alegre. Uma capacidade imensa de esquecer problemas e de vivenciar as sugestões do momento, colocando em segundo plano as angústias permanentes e os desafios que nos aguardam. Prevalecem as lições da sabedoria - procurar desfrutar dos ocasionais motivos de alegrias e das boas emoções que acontecem sem avisos. Despertando em cada um a arte e a consciência de que tudo passa e o tempo apaga todos os fugidios valores. Já se tornou didática a recomendação de que sem o autoengano a vida seria excessivamente dolorosa e desprovida de encanto. Daí a necessidade de se criar sempre ilusões. Os realistas enxergam a gravidade dos fatos, medem as angústias e se desesperam pela falta das soluções. As ações do governo decepcionam a população. Fabricam mentiras, exigem sacrifícios e deixam de fazer a sua parte. Menosprezam o entendimento da sociedade e contam com a certeza de que logo as injustiças serão esquecidas. Superadas por novos assuntos ou pelas novas tragédias. A imoralidade do teto salarial que permite a acumulação de altos vencimentos estabelece privilégios inaceitáveis. Agride o imenso contingente de funcionários e trabalhadores que amargam um período de cinco anos, de dificuldades e congelamento de salários. O valor do salário mínimo não desperta nas autoridades o mesmo ânimo de interesse. O Ministério da Previdência expõe reflexos em seu orçamento. No entanto, o INSS não declara que paga apenas parcialmente a maioria das aposentadorias, não obedecendo à proporção do teto das contribuições recolhidas. O escritor Antônio Maria legendariamente registrou - brasileiro, profissão esperança. Os detentores do poder exploram a boa fé dos cidadãos e acham que tudo podem fazer e enganar. Inclusive a condenável manipulação das verbas públicas. O governo atua fortemente para não atualizar o salário do trabalhador nem recuperar as perdas dos vencimentos do funcionalismo. Mas, não penaliza as ambições das lideranças políticas que desviam recursos e desfalcam o patrimônio moral da Nação.

SAUDADE

As vezes dizemos estou com “saudades”, principalmente quando, familiares, amigos passam para outro lado do espelho, e para mim, claro que quando morre alguém a saudade dói, mas sinto muito mais saudades das pessoas que não vejo a algum tempo, e que representam muito. Resolvi então pesquisar sobre a palavra saudade, que dizem, não ter tradução nem nenhuma palavra com igual sentido. A palavra mais difícil de traduzir é ilunga (escolhida entre mil tradutores profissionais); vocábulo pertencente ao idioma africano Tshiluba, falado no sudoeste da República Democrática do Congo, que significa uma pessoa disposta a perdoar qualquer maltrato pela primeira vez, a tolerar o mesmo pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez. Em segundo lugar ficou a palavra shlimazi, em iídiche (língua germânica falada por judeus, especialmente na Europa central e oriental), que significa "uma pessoa cronicamente azarada"; e em terceiro, radioukacz, em polonês, que significa "uma pessoa que trabalhou como telegrafista para os movimentos de resistência ao domínio soviético nos países da antiga Cortina de Ferro". Segue-se pela dificuldade de traduzi-las: naa do idioma japonês, palavra usada apenas em uma região do país para enfatizar declarações ou concordar com alguém; altahmam (árabe) um tipo de tristeza profunda; gezellig (holandês) aconchegante; saudade (7ªcolocada nesta lista); selathirupavar (tâmil), (língua falada no sul da Índia), palavra usada para definir um certo tipo de ausência não-autorizada frente a deveres; pochemuchka (russo) uma pessoa que faz perguntas demais; klloshar (albanês) perdedor. Provavelmente o significado dessas palavras poderá ser encontrado nos dicionários, porém o que vale nelas é o que representam como experiência cultural. A palavra saudade vem do latim Solitate. Significa lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir; pesar pela ausência de alguém que nos é querido. Recordação meiga e melancólica de pessoa ausente, local ou coisa distante, que se deseja voltar a ver ou possuir. Durante séculos, aprendemos a olhar para a saudade como patrimônio exclusivo da língua portuguesa: ausência, distância, melancolia, estado de alma permanente e perpétuo de um amor que se foi ou de algo bom que nos aconteceu. Crescemos a aprender que a palavra saudade não tinha tradução em qualquer outra língua do Mundo. Em hebraico existe um equivalente preciso da nossa saudade o nome dela é Ergá. Usada durante milênios por rabinos, filósofos e poetas judeus para traduzir os mesmos estados de alma, ergá é indubitavelmente a saudade hebraica. Há mesmo quem sugira que a saudade entranhou a alma lusa por via judaica, e que uma das suas maiores manifestações coletivas, o Sebastianismo, poderá muito bem ser uma transmutação do messianismo dos judeus e cristãos-novos portugueses do século XVI. Não existe tradução para a palavra saudade em outras línguas, mas apenas o seu equivalente, ou seja, sinto a sua falta. E nós, brasileiros, sabemos que sentir falta não é o mesmo que sentir saudade. Somos descendentes de povos que mistura saudade dos mais diferentes lugares. Saudade à brasileira deve ser como o banzo do negro escravo: Sente-se. Deixei para o final do artigo, para lembrar com saudade, de amigos que se foram sem citar familiares meus, como Raimundo Cabral, Sergio Sanches, Porfirio Lemos, Adalberto Bonfim, Antenor Mendes, Guilherme Aluísio, Elcy Barroso, Lucia Ramalho, Nazaré Lapa, Leal da Cunha, poderia citar mais de trinta, mas hoje reverencio a Celerino Leite e a Fabio Mendonça que nos deixaram esse mês. Sinto saudades, e como disse no início, sinto muitas saudades de amigos e amigas que não vejo, mas estão vivos.

MULHER

Escrevo este artigo dedicado aquelas que em um mundo prenhe de incompreensões, nos dão alegria de tomar um pouco de ar puro e sair da tristeza e do desalento, estou falando de uma figura que inspira ternura e leva aos seus, compreensão e apoio, a mulher. Poderia falar de várias mulheres que marcaram a história, na vida pública, na vida empresarial, notabilizadas pela decência, honradez, competência, liderança, mas cometeria o pecado de omitir algum nome, além de ficar enfadonho ao leitor, pela quantidade de nomes a serem escritos. Mas existem mulheres que desde a meninice à fase já grisalha, marcaram sua vida, deixando exemplos. Afinal de contas, num país onde o sexo feminino domina em quantidade, mas o poder do elemento masculino é uma realidade inquestionável, as comemorações do Dia Internacional da Mulher, assumem a feição de sátira ou de bufonaria perversa, não obstante o reconhecimento da quebra de certos paradigmas e preconceitos a partir, sobretudo, do último século. Há na verdade, uma grande diferença entre a poesia e a realidade. Recordo, por exemplo, que a Idade Média nobilizou demasiado a mulher. Ao ideal masculino do cavaleiro correspondia o ideal feminino expresso nas cantigas de amor. Muitas vezes ouve-se, no usual tom jocoso, a pergunta sobre por que não haveria o Dia Internacional do Homem. Acredito que os homens são companheiros de jornada da vida, estimados e respeitados, nos múltiplos papéis que desempenham. Homenagear as mulheres, é afirmar que todas são detentoras de uma enorme porção divina. E aqui quero homenagear as jovens, adolescentes, mães e principalmente as avós, pois no momento que a idade começa a pesar e o sentimento de ninho vazio se instala no coração, os filhos não são mais as crianças brincalhonas e risonhas que conviveram, mas adultos sérios e, às vezes, até frios e distantes, elas são renovadas com a chegada dos netos a trazer risos, brincadeiras, carinho. Voltam no tempo, frequentam festinhas infantis e escolares, ouvindo historinhas que parecem novidades. Acompanham o desenvolvimento daquele que é sangue do seu sangue, com muito amor e interesse, mas sem a angustia do tempo da mocidade, quando tinham a obrigação de acertar, e a responsabilidade de indicar os caminhos. Pode ser dada a parcimônia de deixar que transponham algumas regrinhas que os pais impõem, e se tornam frequentemente cúmplices. As mulheres estão conquistando seu espaço, tendo mais autonomia sobre seu futuro. Neste artigo em que reverencio todas as mulheres, destaco não só as famosas, mas as operárias, as anônimas donas de casa, as servidoras públicas, secretárias, mães, esposas e filhas. Que este dia seja de reflexão para todos, colaborando na avaliação dos avanços e identificação das possibilidades e pautas que cooperem para a plena observância dos direitos das mulheres. Este artigo é dedicado a todas as mulheres que de uma maneira ou de outra fizeram parte da minha vida, como amigas, namoradas, ex-esposa, sobrinhas, cunhadas, sem nominar, mas sintam-se homenageadas.

A TURMA DO FUNIL

Final de Carnaval, e nossos políticos e os áulicos que buscam engajamento em suas equipes seja do Executivo ou do Legislativo estão a cantar: “Todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto. ”.. Só que nós, eleitores, ficamos tontos. Por isso que as Bandas, Blocos, e as escolas de samba, atraíram quase todos eles para espiarem do alto de seus camarotes enfeitados. Primeiro, para lembrarem que somos valentes e insurretos, segundo, para mostrarem que o bronzeamento vale para seus marqueteiros expô-los aos raios tropicais que jovializam suas máscaras naturais; e terceiro, porque somente com a demagógica concórdia, transparecem ávidos por conchavos e alianças partidárias. Senão vejamos nossos integrantes da Turma Do Funil: O Wilson Lima, coitado, como governador, já conhece a Europa e os Estados Unidos, tudo a custa do erário - elitizou-se (não se sabe como),.
O Omar fantasiado de ex-militante comunista para atrapalhar o paraense, um fato novíssimo, como pregava o velho Calderaro, com pinta de novo alcaide.
Serafim, agora Secretario do governador desapareceu das manchetes e anda nomeando toda gente política que o acompanha de estadista. Êta, brasilsinho danado de bom para dar estadista!.

O Eduardo, na sua obsessiva ideia de voltar ao governo do Estado, anda meio apagado, a não ser aos prefeitos do interior.  O David Almeida, de olho num segundo mandato vem fantasiado de zelador, fazendo jus ao que o alcaide realmente deve ser. À nível nacional o Lula agora Presidente tá solto, depois de derrotar o golpista virou evangélico de todas as seitas, inclusive bajulando os caras-lisas da Universal do bispo Macedo, no intuito de buscar votos no Parlamento, e já se mandou para o exterior novamente, Bolsonaro. vem fantasiado de grampo, e se prepara para junto com seus 01, 02, 03 e a ex primeira dama, a bater o recorde de talvez ficar inelegível duas vezes, se a legislação permitir pois ninguém é de ferro. Para escolher a melhor fantasia é difícil. Entretanto, ainda resta um fiozinho de esperança. Quando esta turma do funil se encontrar pelas ruas de Brasília, todos pra lá do Iraque, à base de caipirinhas escocesas e batidas de framboesas (maracujá e cachaça são do povão - de nós, provectos assistentes de tantas antiquárias campanhas), vão terminar tendo que se render a um candidato que ninguém espera, mas vai fazer um furor dos diabos... Aguardem! E eu, que não sou doido de me expor à desgrenhada violência momesca, vou me esconder em algum lugar seguro, incerto e não sabido, fazer o passo que nem folha seca no ar, arengando com os meus amigos, deliciando-nos com algumas piadas e paródias do momento político e, sendo servidos elegantemente pelos garçons. O essencial é que estes brasileiros, os que fazem o Carnaval e também os que não ligam para o samba, têm potencial inquestionável para construir um país digno, justo e feliz.

CARNAVAL

Pernas e bundas à mostra, fantasias coloridas, caras pintadas, estamos em pleno Carnaval, época dos folguedos rasgados. Não há argumento, que se saiba, a opor-se à continuidade dessa quase meia semana de folia, a qual oferece enorme oportunidade de abertura para o desoprimir dos recalques, repelir os dissabores e afugentar as revoltas. Toda a indignação e insatisfações do dia-a-dia, no decorrer, dessa explosão de alegria, condiciona-se a uma reconciliação dos sentidos, graças à harmonia que a exteriorização dos sentimentos proporciona aos carnavalescos em seus vaivéns relaxados, não é de admirar então que a farra não deixe de tomar conta de todo mundo. Esbaldam-se cheios de animação nos desfiles de blocos de modo a contagiar a todos os presentes. No sentido coletivo, a preocupação desses conjuntos de roupagem uniforme, consistem em vencer as competições, organizadas formalmente, com ofertas de compensações aos participantes que se destacarem. O reinado de Momo é breve, mas pleno, liberal e liberado, democrático de suor e cerveja, de samba, cordões e afoxés e trios elétricos. Não sei onde tanta gente, nesta época de crise, desemprego, acha dinheiro para comprar abadás, beber e comer. Também não sei onde tanta gente conserva tamanha energia para pular, rebolar e dançar, noite e dia no asfalto, freneticamente, incansavelmente, e em cima dos trios, mostrando corpos sensuais, com minúsculas roupas. E tudo no reinado de Momo. Um rei de grande corte, obeso às próprias custas, não cobra impostos de ninguém, não prende, não persegue, pouco tem de seu como criatura humana, porém no seu simbolismo é majestade que realmente abre a cidade a todos, grandes e pequenos, sem impostos e taxas, sem problemas e exigências, sem ameaças e imposições, para uma grande festa, que abrange todas as camadas sociais. Muita alegria aos que realmente precisam retirar das costas, pelo menos durante uma semana, a grande e imensa carga de preocupação, angústia, que carregam durante o ano inteiro. O povão no Carnaval esquece a espera de dias melhores que os políticos prometem e continuam a prometer, eles, políticos, mudando a toda hora de partido na ciranda de galho em galho, porque também na planície, onde há os menos favorecidos, é difícil viver. A válvula mesmo é o Carnaval. E como o povo é estoico, lá dentro do seu íntimo, um processo milagroso ou por instinto de conservação a alegria não fica adormecida. Uma multidão sofrida, nestes dias esquece todas as amarguras e preocupações, faz tremer o chão das ruas, praças e bandas. Mesmo sem acreditar em muitos políticos que vão às ruas, misturando-se com o povo, esquecidos que azeite e água não se misturam. No item carnavalesco comissão de frente, vemos agora a briga dos políticos para ver quem mais aparece cumprindo sua agenda de mostrar densidade aos eleitores neste ano político. O essencial é que estes brasileiros, os que fazem o Carnaval e também os que não ligam para o samba, têm potencial inquestionável para construir um país digno, justo e feliz.

MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS

Ano de eleição para Prefeitos e vereadores. Mudança é palavra de ordem em todos os campos da atividade humana. Especialmente agora, quando assistimos à troca de prefeitos, quando é preciso - no entender de cada um - imprimir mudanças radicais em relação ao governo anterior, sobretudo quando não há mais a possibilidade de reeleição e aparece outro candidato de ideologia política diferente. Independente disto, em qualquer outra função, a nova gestão que se instale vai promover mudanças, até por questão de identidade e concepções. Cada novo dirigente quer imprimir mudanças que tragam benefícios à coletividade, que são sempre bem-vindas e até necessárias para motivar as pessoas e oxigenar os organismos sociais. Mas, agora vamos para o plano da educação, que lida com a formação das pessoas e preparação do ser humano para a plenitude da vida. E é natural que a escola seja o desaguadouro da repercussão de todas as mudanças sociais que estão se processando, gerando dúvidas e inquietações com relação ao que deve ser validado e o que deve ser rejeitado e até combatido. E aí passamos da inquietação para o impasse, já que a torrente de mudanças coloca em xeque valores fundamentais que balizaram a educação ao longo de milênios, criando verdadeiro caos na educação familiar e "alimentando as escolas com duvidosas teorias de pedagogia de revista" passando de um extremo para o outro. Quem nos pode ajudar um pouco neste impasse é a pedagoga espanhola Juana Sancho, que afirma que a educação lida com mudanças e permanências.
Se a mudança é contingência irreversível da vida humana - e a própria natureza nos ensina isto - então é preciso olhar com serenidade para as permanências: o que não pode ser jogado fora, por conta de modernismo inconsequente. Eu creio que família, igreja e escola são instituições responsáveis por ensinar os valores fundamentais da vida. É tarefa que precisa ser assumida (ou reassumida) com coragem e sem concessões gratuitas, e muito menos receio de ser quadrado, cafona ou algo semelhante.Sem respeito, disciplina, hierarquia e valores a sociedade corre perigo, porque se validam procedimentos bárbaros, que levam à perversidade e à degradação da vida. Pelo que está acontecendo por aí, será que estou vendo fantasmas, ou são sinais da deterioração social, e aí quem paga o preço é a vida, o bem mais precioso que recebemos. Coragem, pais, professores e religiosos! Homens de bem, uni-vos! Não receiem em assumir a vocação profético-missionária para salvar a humanidade do caos. Proclamemos com firmeza inabalável os valores fundamentais, baseados em princípios bíblicos, e eduquemos as crianças e jovens com amor, limites e diálogo, aceitando o desafio de Levítico 10.10: "Vocês devem estar em condições de fazer a diferença entre o que é e o que não é sagrado." Finalmente, como pais, saber que "não precisamos nos preocupar em terminar a obra, mas não temos o direito de nos retirar dela". O mundo clama por pais amorosos e firmes, mães virtuosas, professores sábios e religiosos humildes e fiéis à promessa que os consagrou para, em conjunto e à base do diálogo, trabalharmos diuturna e incansavelmente pela formação das crianças e dos jovens, para que não cresçam com a falsa percepção de que as mudanças impliquem ausência total de permanências.

GESTÃO GOVERNAMENTAL FALIDA

O Brasil, assim como alguns Estados e municípios, continua estupidamente mal administrado, um custo elevadíssimo para segurar a máquina governamental. Há necessidade de se elaborar um programa de formação e desenvolvimento de novos executivos públicos, inspirado na iniciativa privada, como estratégia de se fazer a sucessão de gestores. Em cada cidade brasileira a estrutura da prefeitura é maior do que a de muitas multinacionais e isso sem incluir os gastos com os vereadores. Juscelino, na década de 50, quando assumiu a Presidência da República, encontrou uma fórmula eficaz, mesmo a um preço alto. Criou um governo paralelo. Se fosse depender da viciada máquina governamental e do apoio dos políticos, não teria realizado uma notável gestão. Estou convencido que um dos caminhos para se promover o crescimento brasileiro com a participação do Estado é profissionalizar a gestão governamental. Mas não com os administradores existentes, a maioria habituada ao ritual da politicagem. E como seria esta formação? Seria calcada em módulos cuja meta central repousaria no desenvolvimento individual dos participantes e não no cognitivo, muito menos em aulinhas convencionais de administração. O candidato, caso motivado em contribuir com o País via participação na administração pública, seria orientado a fazer avaliações da conjuntura mundial e nacional, evitando o hábito dos gestores que ficam trancados em salinhas, tocando papéis, rotinas e atendendo aos pedidos dos políticos. Esse programa solicitaria aos participantes uma cota mensal de leitura de livros de qualidade. Com isso, o serviço público seria conduzido por uma elite de gestão com consistência e profundidade intelectual (não confundir com a pomposidade acadêmica). O novo executivo seria estimulado à pós-graduar-se em universidades de conceito. Outros módulos seriam ministrados, para formar futuras gerações de líderes e administradores. A médio e longo prazos, o Brasil teria executivos e líderes governamentais com uma preparação primorosa.

FELIZ ANO NOVO

Embora dezenove dias atrasado, escrevo o presente desejando Feliz Ano Novo. Feliz Ano Novo aos que acordaram em 2024 sem a ressaca da culpa, plenos de vida na qual a paixão sobrepuja a omissão e o encanto tece luzes onde a amargura costuma bordar teias de aranha. Feliz ano a quem não sonega afetos, arranca de si fontes onde borbulham transparências e não mira os que lhe são próximos como estranhos passageiros de uma viagem sem pouso, praias ou horizontes. Felizes aqueles que abandonam no passado seus excessos de bagagem e, coração imponderável, recolhem à terra a pipa do orgulho e do tédio; generosos, ousam a humildade. Ano Novo a todos que despertam ao som de preces e agradecem o tido e não havido, maravilhados pelo dom da vida, malgrado tantas rachaduras nas paredes, figos ressecados e gatos furtivos. Bom ano a quem gosta de feijão e se compraz nos grãos sobrados em prato alheio; a vida é dádiva, contração do útero, desejo ereto, espírito glutão insaciado de Deus. Novo seja o ano àqueles que nunca maldizem e possuem a própria língua, poupam palavras e semeiam fragrâncias nas veredas dos sentimentos. Seja também feliz o ano de quem guarda-se no olhar e, se tropeça, não cai no abismo da inveja nem se perde em escuridões onde o pavor é apenas o eco de seus próprios temores. Novo ano a quem se recusa a ser tão velho que ambiciona tudo novo: corpo, carro e amor; viver é graça a quem acaricia suas rugas e trata seus limites como cerca florida de choupana de montanhês. Feliz Ano Novo aos órfãos de Deus e de esperanças, e aos mendigos com vergonha de pedir; aos cavaleiros da noite e às damas que jamais provaram do leite que carregam em seus seios. Felizes sejam, neste ano, os homens ridiculamente adornados, supostos campeões de vantagens; aqueles que nada temem, exceto o olhar súplice do filho e o sorriso irônico das mulheres que não lhes querem. Felizes sejam também as mulheres que se matam de amor, e de dor por quem não merece, e que, no espelho, se descobrem tão belas por fora quanto o sabem por dentro. Seja novo o ano para os bêbados que jamais tropeçam em impertinências e para quem não conspira contra a vida alheia. Feliz Ano Novo para quem coleciona utopias, faz de suas mãos arado e, com o próprio sangue, rega as sementes que cultiva. Sejam muito felizes os velhos que não se disfarçam de jovens e os jovens que superam a velhice precoce; seus corações tragam a idade alvíssaras de emoções férteis. Um ano feliz aos que não se ostentam no poleiro da própria vaidade, tratam a morte sem estranheza e brincam com a criança que os habita. Um Ano Novo muito feliz a todos nós que juramos sequestrar os vícios que carregamos e não pagar o resgate da dependência; o futuro nos fará magros por comer menos; saudáveis, por fumar oxigênio; solidários, por partilhar dons e bens. Feliz 2024 ao Brasil que circunscreve a geografia do paraíso terrestre, sem terremotos, tufões, furacões, maremotos, desertos, vulcões, geleiras, tornados, neves e montanhas inabitáveis. Conceda-nos Deus a bênção de tantos dons, livres de políticos que constroem para si o céu na Terra com a matéria-prima do inferno coletivo.
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